10-6-98

E a festa começa. Corpos ensandecidos se chacoalham, e o barulho que domina o ambiente, e as luzes coloridas que se projetam em todas as direções parecem se originar da combustão que mantém o movimento dos braços, pernas, cabeças, barrigas, bundas, pulmões. Fora da festa faz frio. O suor faz a roupa parecer uma embalagem plástica, daquelas que envolvem frangos congelados. O mundo está um pouco menos consistente, um pouco menos real, um pouco menos sólido, e a pressão na cabeça é agradável, mas eu preciso dormir. Só que eu não durmo, eu continuo acordado me torcendo embaixo do cobertor, e nenhum dos corpos que eu vejo à minha volta me interessa. Vai ver que eu sou doente. É claro que eu estou passando mal. Passo o tempo (por que há apenas um), correndo pelas ruas e me perdendo por todas elas, não reconheço nenhuma delas, nem mesmo após passar por ali várias vezes, e nem parece importar muito, já que é tudo assim mesmo. Os prédios, cruzamentos, viadutos, passarelas, túneis, pontes, placas, sinais, todos interconectados como num quebra-cabeças caótico, e eu não consigo enxergar as pessoas. Não consigo ver os pedestres, nem os motoristas, nem os passageiros, nem mesmo os flanelinhas. Nem mesmo a velha que me pediu vinte centavos. Não a vi. Todos os artefatos de cimento e metal rodam ao meu redor, cada vez mais rápido, mais rápido, mais rápido, e eu bati com a cabeça no chão, e eu estou rolando para o lado e protegendo a minha cabeça com a mão, porque está doendo e tudo está rodando.

Volta