19-3-98

 

Ontem nao consegui dormir direito. Fiquei com a cabeça a mil, pensando

nela, em como poderia me aproximar (mistério), e tendo mil fantasias sobre

como seria a gente junto.

 

Tudo me dá vergonha. A porta nova do meu quarto me dá a impressao de

que basta tocar nela, que eu vou ficar cheirando a papelao molhado. Me

sinto sujo o tempo inteiro, nao consigo sintonizar quando ela aparece, ela

está sempre tao envolvida com seus problemas... E eu tenho duas semanas

pra inventar o que fazer, antes dos meus próprios problemas começarem a

aparecer. E eu queria passar esse tempo com ela.

 

Sinto que talvez eu esteja correndo o risco nao só de nao conseguir me

aproximar nunca, como também, caso consiga, ela talvez vire uma Dani,

mesmo eu tendo a impressao de que nós temos muito mais em comum do

que eu e a Dani. Mas tudo bem, isso é bem melhor do que nao conseguir

nunca se sintonizar. Mas seria muito ruim se todas as meninas pelas quais

eu me apaixonasse virassem melhores-amigas, enquanto que as galinhas

que eu porventura ficasse topassem namoro (mas nao deixassem de ser

galinhas).

 

Merda.

 

Acho que vou ter que parar de tentar fazer coisas, e deixar rolar um pouco ao sabor da maré. O problema é que isso me deixa morrendo de medo de estar deixando que a coisa se apague antes mesmo de acender. Bom, talvez eu deva pensar que se for pra rolar, rolará, já que algum contato a gente ainda tem, embora muito fraco.

 

22-3-98

 

Daniel está descobrindo novas formas de comportamento nunca dantes vislumbradas. Acho que ele está descobrindo a forma correta de pôr em prática os conceitos do Armand, sabendo o cuidado que deve tomar e a forma que deve encarar a coisa pra não se detonar. Bom, mas isso a nível interno, vamos ver como isso vai ficar a nível social. E ainda existe aquela velha questão: o Daniel não pretende abandonar seu sonho de ter um negócio legal e exclusivo com uma menina, apenas descobriu que, caso não esteja namorando, há outras formas de relacionamento possíveis.

 

OK, então vamos à análise combinatória:

 

a) ambos estão tão vidrados um no outro, que um é a opção A do outro, ou ainda melhor, estar com o outro é tão importante e prazeiroso que nem rola interesse de ficar com mais ninguém. Esta é a situação perfeita, e que existe (eu já vivi isso). É possível mesmo haver distância física entre os dois, e ambos continuarem exclusivos um para o outro, e tendo prazer em assumir essa atitude.

 

b) apenas um é a opção A do outro. Um sente tanto prazer com o outro, que o outro deixa qualquer ficada sem graça. Já o outro não está tão envolvido, e não se sentiria bem abrindo mão de ficar com outras pessoas, e talvez esteja até procurando alguém por quem possa se apaixonar. Situação horrorosa para um, mas o outro não pode fazer nada, e se restringir só tornaria as coisas mais difíceis no futuro, por que então o um estaria ainda mais envolvido, e o sofrimento seria ainda maior. Além do que, ter se restringido pode gerar raiva no outro também, e aí a relação se degeneraria da pior forma possível.

 

c) ambos têm consciência de que estão se curtindo, mas sem planos, garantias, nem envolvimento além de amizade. Ninguém tenta se iludir que o outro possa ser o seu parceiro de vida. Situação confortável, pode gerar muito prazer e experiências agradáveis, mas tende a se dissolver, já que nenhum dos dois pretende fazer a manutenção do relacionamento, e porque existe a necessidade de estar apaixonado, que ambos buscarão em outras pessoas. Ficar com outras pessoas também pode acelerar esse processo.

 

As situações A e C são conhecidas, e não possuem problemas éticos a serem resolvidos, já que são situações onde ocorre reciprocidade. A situação B é que é o problema. Como agir nesse caso? Claramente, a pessoa mais envolvida não abrirá mão da outra, ou seja, a responsabilidade de botar um fim no relacionamento está na que está menos envolvida. Se as coisas fossem claras desde o princípio, seria fácil se abster de responsabilidade, mas nem sempre é assim. E se abster de responsabilidade não é garantia de evitar que a envolvida quebre a cara (de uma forma ou de outra, ela acaba quebrando a cara mesmo, o problema é como minimizar isto).

 

Not a love story

 

Todo mundo está cansado de saber que o que todo mundo quer é amor; Todo mundo já está mais do que informado do que idealmente rolaria quando duas pessoas se amassem, de quais seriam os problemas e de quais seriam os caminhos pra consertar, caso esse fosse o caso. Mas ninguém disse que essa é a excessão, e não a regra. Falta arte que trata dos casos b e c.

 

Je t'aime... Moi non plus é o caso b.

 

E o caso c?

 

30-3-98

 

OK, será que vale a pena viver assim, se envolvendo com as pessoas, sentindo falta delas quando, por um motivo ou por outro, não se pode estar perto, sofrendo -- mas também tendo os altos altíssimos de prazer na companhia delas -- ou é melhor ter várias ligações não profundas, substituíveis, fast-food, que mantém um equilíbrio suportável -- sem grandes prazeres e sem grandes sofrimentos? OK, mas que merda eu quero da vida se eu não perseguir um pouco de felicidade pra mim? Pra viver na média, qual a vantagem de seguir vivendo? Só porque a morte não parece melhor também, ou seja, por inércia? Hora de inventar algo pra investir. Posso tentar de novo o velho projeto-casinha, ou posso inventar algo novo (mas algo novo não me atrai nem um pouco). OK, casinha. Merda, casinha não é trivial. E agora, conhecendo os perigos envolvidos nesse projeto, vou precisar de uma puta dose de coragem pra continuar nesse caminho. Que dirá da questão dinheiro/trabalho. Hora de fazer trabalho de grande homem. Mais vida, Pai!!!

 

Me sinto com uns 6 anos, na beira da piscina do Botafogo, todos os meninos já pularam na água e só sobrei eu, morrendo de medo da água fria. Mas eu tenho que saltar!

 

Eu estou sendo desviado do meu caminho. Vamos ver o que o Lao Tsé me diz.

 

Hum. OK. Paciência. Já tive isso, mas aprendi outras formas de conviver com a falta. E aí, paciência ou distração? Que faço?

 

Distração pode me desviar -- caralho, o velho Lao disse tudo!!! -- me fazer parar por algum tempo!!! Perda de tempo!!! IHU!!! Porra, como me fez falta esse livrinho!!! Paciência, meu, paciência na cabeça!!!

 

OK, espero.

 

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OK, estamos no zero absoluto. Assim, ainda falta tudo a conquistar. Assim também, dá pra deixar rolar tudo solto. Inércia, mas sem perder o objetivo, e aí não é mais perda de tempo, e sim ser oportuno, e ter meios de não ferrar tudo com violência demais. Assim, como já diziam há milhares de anos, o imperador se preocupa mais consigo mesmo do que com o seu reino, porque se age superficialmente, ferra tudo, e se age violentamente, também. OK, entendi. A gente faz merda mas depois conserta.

 

OK, do only what kicks. Thassall.

 

Eduardo, pra variar, estava certo. Eu fico procurando regrinhas rígidas o tempo inteiro, e acabo não vivendo.

 

DEPOIS, e não antes.

 

4-4-98

 

E aí, quero paixão ou não? O caso da Sunny foi tão legal sem rolar paixão, além do que eu estava tão seguro... Não rolou ciúmes, quando eu desconfiei de que ela estava saindo com outros caras, eu podia ignorar isso ou parar de ficar com ela, mas não rolaria a menor dor. E os momentos alegres eram o maior barato, mó cumplicidade espontânea, sem stress, e sem deixar de ser si mesmo e sem esperar que o outro correspondesse, era mó encontro alegre entre amigos.

Então eu penso no que poderia rolar com paixão e no que poderia rolar sem. E sem paixão parece bom, não assusta nem um pouco. Agora, quando penso COM paixão, aí eu sinto algo no peito, me pego sorrindo doce e me sentindo que nem um animalzinho fofinho e brincalhão. Mas aí eu penso também que eu posso prescindir disso, se eu quiser. Quer dizer, mais ou menos, eu ainda vou estar exposto a altos e baixos quando pensar no assunto, mas em menor escala do que se eu estiver VIVENDO isso. E vou estar protegido de tudo isso se estiver rolando um negócio sem paixão paralelamente.

É, mas se eu escolher essa via, eu nunca mais vou me sentir completo. Ou pelo menos, vou ter abandonado a busca de me sentir completo. Mesmo que eu nunca termine de me construir (tomara que não), seria o maior tédio se eu parasse.

 

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"A música e as iguarias farão o viajante parar por algum tempo."

"Somewhere there will be another lover 'till the end

You need not hold your breathe 'till then"

 

OK, não rejeite amor, mas também não rejeite outras coisas em princípio. Manter o que é macio e tenro é o segredo da resistência. Quem pretende conquistar o reino para si e com esse objetivo agir constantemente, decerto não o conseguirá. Aquele que assim o fizer, estará destruindo-o. Quem o segura, acaba perdendo-o. A coragem impelida pela inquietação conduz à morte. A coragem contida e cautelosa conduz à vida. Enfrentar as complicações nos seus detalhes mais fáceis. Viver intensamente não nos faz felizes. E conquista sem ter de agir.

 

É, não rejeitar!

 

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7-4-98

 

Nine Inch Nails. Paixão pode ser algo perigoso. MUITO perigoso. Você fica entre dois caminhos: o de dar carinho mesmo sem receber, ou de chutar o balde e evitar essa fonte de decepções. É muito improvável que duas pessoas batam os olhos uma na outra e TÓIM! recíproco. Portanto é melhor evitar esse tipo de coisa pra não acabar mal. Melhor o outro método: rolar, e aí de repente os dois fazem as coisas certas, e aí o troço evolui -- ou não, mas aí não tem tanto perigo.

 

Vou começar a arranhar as paredes. Eu não quero passar o feriado sozinho. Eu vou pirar se eu ficar sozinho. E aí eu acabo estragando tudo com todo mundo. Melhor usar todos os meios ao meu alcance pra manter a sanidade mental.

 

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8-4-98

 

Ou o mundo é punk que nem eu achava na adolescência, ou então eu sou muito mané e não estou entendendo mais nada. Peguei a doença da Paula e estou agonizando. A minha vontade é de chorar e botar toda a merda pra fora, leve o tempo que levar, mas o problema é que eu preciso da Luciana pra dar a porrada, e ela está há uns 600 quilômetros pelo menos. Eu estou sozinho, eu não tenho mais a capacidade de me sentir querido, ou então eu estou tão carente que o que as pessoas têm a me oferecer não é suficiente. Eu às vezes me sinto a um passo da loucura.

 

25-4-98

 

Então, eu posso fazer qualquer coisa, mas me sinto meio velho demais para algumas. Por exemplo: não posso mais viver um amor daqueles nos quais tudo parece predestinado e corre perfeitamente bem, tipo os dois se encontram na época certa da vida, se apaixonam e vivem felizes para sempre um para o outro.

Eu bem que queria que tivesse rolado assim. Como não deu, agora eu estou perdidaço, porque o caminho para o qual eu estou sendo levado é outro bem diferente, pelo menos por enquanto. Estou vivendo a maior ressaca de sonhos arruinados, aquela do tipo que os grandes junkies e boêmios parecem ter passado para se formarem grandes junkies e boêmios, e aí eles sempre estão se sentindo por cima da carne seca até que alguém toca na ferida, e é aí que eles se tornam chatos e agressivos e ferram com toda a aura de sabedoria e malandragem que eles tanto tentam vender. E é aí também que eles voltam ao status de junkies e boêmios sozinhos e amargurados, até que a próxima dose traga eles de volta.

Porra, que merda, junkies e boêmios de verdade não comem ninguém! Embora tenham uma legião de admiradores(as), eles desprezam tudo antes de serem desprezados. Eu não estou com muita paciência para viver assim. Estou cansado de punheta, e de ficar abraçando e beijando o meu travesseiro por falta de alguém para dar carinho.

Então eu fico jogado por aí, sem nem ser junkie nem boêmio, curtindo o maior caos já que estou perdidaço, o que eu queria não existe mais, entrando nas roubadas que aparecem, no maior desencano, tomando cuidado pra não ser fulminado por essas paixões fulminantes e sem o menor nexo que acometem gente carente que nem eu... E o pior é que eu desconfio que isso me torna fechado, por que pra me proteger dessas paixões aí, eu acabo perdendo a noção e o timing para coisas mais sutis e saudáveis, daquelas que acontecem mais devagar, mas que claro, precisam de cuidado e atenção constante. Porra, se eu dou atenção a essas coisas, eu perco as estribeiras, do jeito que estou privado de amor. Vê só que situação.

 

É, mas pelo menos estou me sentindo artístico hoje, depois de um tempão, e não estou triste.

 

2-5-98

 

Hoje o Vicente estava comentando algo que terminou de me consertar. Ele estava comentando que paixão é uma merda, que é vício que nem heroína e que é doentio, sufoca o outro e destrói tudo incluindo amizade, além de dar dor e decepção e te deixar com uma carência não suprível, que você tenta forçar o outro a suprir. Até aí perfeito, mas choveu no molhado. Mas aí ele descreveu a pilha dele, de investir no clima antes de rolar coisas, pra não ficar só na transa e matar um possível sentimento, mas desenvolvê-lo, e descreveu também uma forma de ter muito mais prazer na tranqüilidade, sem perder a autonomia e o bom-senso. E óbvio, identifiquei tudo com a outra autoridade no assunto, a Sunny, quem me ensinou a gostar direito, na liberdade. O ciclo se fechou, e eu estou pronto para viver. Não corro mais o risco de tentar resgatar coisas com a Paula, por que não estou mais procurando o que eu tive com ela. Na verdade acho que queimei ela, mesmo não tendo sido a minha intenção. Talvez não nos encaixemos mais, acho que meu agonista não tem mais afinidade com o receptor dela. Pro tipo de coisa que seria legal pra mim, ela não promete muito (pelo menos não a Paula que eu conheci).

 

Nem ela, nem uma porrada de gente pelas quais eu me interessei ultimamente. Acho que preciso me relacionar com gente mais velha agora, ou pelo menos mais calejada (mas não muito mais do que eu, senão não vale). Acho que já estou preparado para voltar pro Rio.

 

4-5-98

 

Comecei a testar o novo equilíbrio. Estou um pouco triste, mas isso talvez seja só restos agonizantes da casca da qual saí. Afinal de contas, todo mundo está feliz, e claramente as pessoas que correm riscos aqui, estas estão apaixonadas, estão metendo a mão na cumbuca. Mas não consigo evitar de me sentir solidário a eles, afinal estes eles estão sendo sinceros, e isso eu acho fundamental. Ainda. Mas não se furte de pensar nas suas próprias necessidades também, irmão.

 

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OK, Daniel resolveu assumir o comportamento de côrte masculino, OK?

 

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Radical Revisited

 

Hummmm... Vivi me definiu como um homem doce... (DOCE!?) Hummm, gostei da definição, além do que acho que isso dá vazão pra eu montar uma identidade vendável mucho loca. Estou imaginando um viado que só dá mole pra sapata. Nossa, que salada! E o pior é que encaixa perfeitamente nos dados até agora colhidos, por enquanto dá pra ver uma tendência, só não tem ainda n suficiente pra saber se vai ser significativa ou é apenas flutuação maluca. Locs'r'us!

 

Tá, tudo bem, também rola mulheres femininas também. Abaixo o preconceito. Mas o olho de laranja mecânica ainda não saiu da minha cabeça não.

 

Já vi que o meu negócio é dar mole. Posso até fazer outras coisas, mas esse parece ser o meu natural. Putz, um homem com estratégia de côrte feminina! Será que eu relaxo, ou será que eu tento sapatealizar o meu lado mulher? Hummm... Desencana, o que rolar rolou!

 

22-5-98

 

OK, não quero mais deprimir, o que significa que não quero beber mais. Nada de drogas, menino aprendeu a curtir suas próprias pilhas e não se meter em roubada. Menino também se lembrou de que quer algo bonitinho, e vai ter daqui a algum tempo se se mantiver saudável. Menino quer ter alegria.

 

Só pra não esquecer da boa idéia:

 

Hoje de manhã estava me sentindo como uma barata doente, de barriga pra cima e esperneando sem conseguir se mexer, absolutamente vulnerável e indefesa num mundo sem amor. A instalação seria numa sala escura, onde haveriam várias fotos bonitinhas nas paredes rodeando o centro da sala, onde a barata estaria esperneando para sempre.

 

Bullshit, eu vou esbarrar com alguém, alguma hora, que por um motivo ou por outro, não vai sumir antes que a coisa aconteça do jeito certo.

 

Porra, Vicente, e o que a gente faz enquanto espera a nossa geração crescer?

 

(!) Cultiva as coisas que vão importar quando ela crescer.

 

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Tell me

if you think it's allright

I give in

to what you know (voltar)

 

I don't see

the habits that become me

I saved up

my useless thoughts

 

Well means

if works I'm on your side (nunca terminar)

I said that?

Well so I lied

 

Remember

I tried not to be wary (me preocupar)

This failed me

once too much

 

Unrecognized (mudei)

Well preserved (continuo vivo)

Don't forget

What you heard

 

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26-5-98

 

OK, let's overbomb it.

 

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31-5-98

 

Estou pronto para amar de novo.

 

Na verdade, sinto-me amável (e não mais apaixonável), o que quer dizer que eu estou no humor certo para que isso aconteça. Parece que eu estou pronto e engatilhado para agir de forma semelhante, caso role, à forma que agi com a Paula no dia que a gente transou pela primeira vez, logo depois de eu dizer que preferia não ter a obrigação de transar naquela hora. E aí eu disse pra mim mesmo: "Eu vou amar essa mulher", o santo baixou, e com tanta força que eu até assustei ela. Putz, se eu sou capaz de assustar a Paula na cama, então é porque isso eu sei fazer bem, dado o clima certo. E que eu estou apto pra competir. E a julgar pelos relatos da Ana B, e até acreditando na fábula do Bleu, o prêmio que eu procuro existe. Que bom.

 

O que seleciona, em grande parte, é o que as pessoas são genuínamente. Quando mais as pessoas agem naturalmente, mais elas revelam o repertório comportamental que sinaliza sua aptidão reprodutiva, mais claramente podem se comunicar na linguagem dos primatas. Assim, uma pessoa que mostra o que é sem confusão, é atraente por comunicar melhor aquilo que interessa, é só deixar que a máquina funcione.

 

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1-6-98

 

Ahá! Agora entendi! Primeiro eu não sabia o que eu queria, e depois que descobri isto, passei algum tempo usando a tática errada. Eu estava empregando a tática do intruso, quando eu quero ser o dono do território. Portanto, chega de tipo estranho de careta e chega de porraloquice: eu quero é ser careta mesmo. Radicalmente careta.

 

Não é à toa que o mundo está cheio de caretas; a estratégia deles lhes assegura um bom sucesso reprodutivo, comparado com os controles.

 

Eu quero guardar energias pra usar no momento propício; e quero guardar grana também, pra quando fôr montar a minha casinha (Surpreso de ainda querer isso?). E de posses, não quero mais do que possa levar na minha mochila. Essa história de Cds e máquinas possantes está me deixando pesado demais, me tira uma das maiores virtudes das quais eu preciso, que é a mobilidade. Vou levar tudo pro Rio e enterrar na casa da Lola, até eu precisar de peso de novo. Agora não é o momento.

 

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2-6-98

 

Não existe segurança. Em qualquer situação, você tem que ser a melhor opção disponível pra ser escolhido. É competição mesmo, e ininterrupta. O afeto vem a reboque.

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4-6-98

 

O que cair na rede é peixe

 

O princípio da neblina (fog effect) sugere que uma cidade, um vale ou uma pessoa é mais atraente quando a gente não sabe o que esperar, quando a gente não vê o horizonte, quando parece que sempre haverá mais coisas para descobrir. O tédio e desinteresse gerado pela expectativa de que não há nada de novo sobre a terra e de que a gente já sabe o final do filme (ou seja, o mesmo efeito visto na direção oposta) é também denominado efeito Hollywood.

 

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7-6-98

 

Tell me more

Tell me more,

Baby tell me more!

 

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7-6-98

 

E aí, o que há pra pensar? Preciso sair da toca. Acho que tem uma isca me esperando lá fora. Será que é risco? Óbvio! Mas quem disse que eu não gosto de risco?! Corre o risco desse risco pagar! Shhhhhh, bico calado. Cuidar bem desse negócio pra gente não entrar na síndrome de Hollywood. Putz, as coisas estão bem agora. Até que enfim um bom motivo pra sair da toca.

 

Vou passar a semana inteira pensando nisso, e com que prazer!

 

Tudo independe quando existe o dado! A gente libera o comportamento punido, e aí o círculo virtuoso acontece.

 

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8-6-98

 

Eu tenho o Zap e vou chamar meio pau... (he, he, he).

Seis, doze, ladrão!!!

 

O que você não está sacando, é que eu não estou disputando a Paula

com você. A Paula faz o que ela quiser, e isso independe tanto do meu

quanto do seu sistema de valores, e também independe dessa história

de você cortar ou não as asinhas dela. Ela faz o que quiser MESMO.

 

Eu estou apenas vivendo. E para eu viver, pouco me importa você, Du.

A gente ser ou não amigos é apenas uma contingência. Uma pena você

não sacar isso.

 

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10-6-98

 

Eu não sei mais quem eu sou. Eu não tenho a menor idéia de como eu vou reagir, dependendo do ambiente onde eu estiver. Não sei se isso é liberdade, ou o que é isso. Claramente não é a pilha do 'Simples e Enaltecedor'.

 

Eu me sinto mais seguro quando eu sei quem eu sou. Mas estou correndo o risco de nunca mais saber.

 

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11-6-98

 

Females make the best choice available to them in a given moment.

 

22:30

 

Você não me escreve, mas eu continuo.

 

Eu quero ser feliz, e quero que você seja feliz também. Só que eu não sei como fazer isso. Eu não sei nem se ficar juntos ou amar ajuda ou atrapalha. Escolher ficar junto e tentar consertar quando ficasse ruim, ou seja, adotar uma hipótese de trabalho, não foi um erro, eu acho. O erro foi acreditar que ela era a verdade (como se eu soubesse), e tentar te impôr isso, e ficar magoado por você ter adotado outra hipótese de trabalho. Não sei, de repente você achou a resposta certa pra você. Eu ainda não achei a minha. Na verdade, eu só sei onde errei, mas não qual o caminho pra acertar. Bem científico isso, não? Ciência é apenas o chute matematizado.

 

Acho que deixei de ser moralista (pelo menos por enquanto). Não acredito que NADA seja bom ou ruim. Não fico mais magoado com coisas entre meninos e meninas, eu acho (homo também). Acho que só estou observando, e talvez descubra o que eu estou procurando só na hora que já tiver encontrado.

 

As cartas que o Eduardo me mandou têm um tom que eu achei muito moralista. Tipo "o que você faz é errado, o que eu faço é certo". Eu acho isso a maior babaquice.

 

Eu posso estar errado, mas eu tive a impressão do Eduardo estar disputando você comigo (por mais absurdo que isso seja, já que na prática eu não existo). Caso isto seja verdade, isso é pointless, eu acho. Eu acredito que a sua escolha em estar com alguém independe dos valores que eu ou ele defendamos. Eu acho que jamais saberei o que guia a sua escolha, ou o seu afeto. Assim, não faz o menor sentido eu (ou ele, ou outro) tentar te agradar com ações ou formas de pensar. Melhor deixar o rio correr, e que vença o escolhido (já que ninguém sabe quem é o melhor, nem por quê).

 

Pode ser que eu seja preguiçoso, mas se for isso, depois passa. E quando eu começar a agir, vai ser com uma hipótese de trabalho, não com uma certeza idiota.

 

Beijos, Daniel.

 

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Acabei de ler o respost2.txt, e acho que de repente eu consegui. Aquilo do Eduardo ter dito que 'marca pra sempre' pode ter sido a maior bandeira, referência à Paula, e não a mim. Hora de consertar, ou seja, deixar rolar da forma mais natural possível. Deixar acontecer, se for pra acontecer. Mas não esquecer de que, ao menos operacionalmente, eu sou um bloco de pedra. Não posso prever, não posso saber.

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Quase me esqueci que Paula e Eduardo estão ficando em background, mesmo no Rio.

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15-6-98

 

Estou feliz

 

(Na verdade, fritado, estou eufórico, maníaco, depois de ouvir Tigreza do Secos e Molhados)

 

Gurgel côr de pele, com pelos muito bem pintados

 

Como é bom poder tocar um instrumeinto...

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16-6-98

 

Acabei de acordar. Tive um "pesadelo", ou seja, um sonho com conteúdo mau mas que não me assustou, pelo contrário, foi muito claro e rico de conteúdo. Foi um sonho triste. Acordei normal, e bastante alerta, até muito mais do que o normal. São 7:30. Incrível ter feito as pazes com a Paula ontem, por mail (unilateralmente), e na mesma noite sonhar com ela cagando em mim com a maior pompa, destruída e inusável. Também é incrível descobrir que ainda tenho sentimentos cristãos (demônio, ciúme monogâmico). Que bosta. Não sei direito como vou assimilar a música dos Secos e Molhados.

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17-6-98

 

Acho que fiquei cego à maldade. Parece que não existe o mal (e, portanto, nem o bem). As pessoas, em princípio, não agem para ferir as outras. Elas agem para si, e não para os outros. Portanto, a intenção geralmente não tem nada a ver com o efeito sobre as outras pessoas, isto é apenas incidental ou secundário.

 

É possível seguir uma ética na qual se leva em conta o efeito da própria ação sobre os outros. Só que essa atitude é vulnerável à confusão se assumirmos que os outros também a seguem. Isso levaria a pressupor intencionalidade onde não há. E aí o que acontece é uma comédia de erros (se não virar tragédia). Como se tivéssemos mais interesse nos outros do que em nós mesmos. Os outros não podem ser mais importantes que nós mesmos.

 

Lembra quando eu falava sobre evitar a "comédia de erros" pela sinceridade? Parece que não é por aí, né? Até porque é comum a gente não saber direito o que está rolando nem com nós mesmos. E pode não ser do nosso interesse ser sincero também.

 

Donde deduzo que nos aproximamos ou nos afastamos das pessoas pelo efeito que elas causam em nós, e não por que elas são "boas" ou "más" ou estão agindo "certo" ou "errado".

 

Classificar as pessoas com adjetivos pra mim é moralismo barato. É jogar o bebê fora junto com a água suja do banho.

 

Eu adoro "Tigreza" cantada pelo Ney Matogrosso, mas sinceramente, essa de que "o mal é bom e o bem cruel" é a maior asneira da paróquia. Parece que foi dito por alguém que está com um puta conflito de valores.

 

Mas como é bom poder tocar um instrumeinto!!!

 

Beleza, isto resolve uma questão fundamental, ou seja, como a Paula, que obviamente me amava tanto quanto eu amava ela, pôde ser o pivô de tanta dor. Ao pressupor amor e intenção de provocar dor ao mesmo tempo, eu fiquei totalmente confuso. Removendo a intencionalidade, a coisa se torna muito mais compreensível.

 

Ai, como é chato ser psicólogo (além de bonito)!

 

P.S.: Caso não queira mais receber este "free newsletter" sobre o frigir dos ovos do Daniel, envie um mail com o texto "unsubscribe pmveloso@ecp.inf.puc-rio.br".

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Paula tem capacidade sobrando para segurar a onda, se quiser. A questão é se ela quer (ou quis). Na época, nosso amor estava passando por crises que tinham mais ou menos a ver com fatores ambientais. Da minha parte, eu estava com uma puta crise no trabalho. É óbvio que isso abala. A teoria Sunny da atratividade tem tudo a ver. Quando a gente está bem, a gente atrai. Quando está mal, fudeu. E tem que ser assim mesmo. Seria tão ridículo taxar a Paula de piranha quanto de santinha.

 

Rola competição, cara. E é bom não arregar. Quanto maior o ganho, maior o risco. Pra ganhar o prêmio tem que ser o melhor. E o título é disputado o tempo todo. Não rola se acomodar.

 

Essa teoria de que amor dura dois anos no máximo e depois acaba é a maior babaquice. Isso acontece se alguém se acomoda, ou se deixa de ser a melhor opção por qualquer motivo (distância, pintou gente nova no pedaço). Mas eu tenho exemplos do tipo do José e da Janette. E o que eu vi não tinha nada a ver com ortodoxismo religioso e muito menos com hipocrisia. O que eu vi era real, e muito real.

 

OK, eu quero uma casinha e uma mulher. Mas eu não sou café-com-leite. Eu quero uma mulher merecida. E não é qualquer uma não.

 

Ao namorado traído, ciumento ou a quem quiser monogamia, responderei: Faça por merecer!

 

Puta, tá rolando mó efeito dominó.

 

Fucking game theory; fucking mate guarding, if you want to know what happens. Que engraçado. O sábio alcança aquilo que ele nunca desejou. Ciúme surge quando a pessoa não está à altura do páreo.

 

20-6-98

 

Estou apaixonável, e moreover, seguro. Acabei de invadir o Moura com o Jândi. Terreno fértil para qualquer coisa acontecer.

 

Ela apertou o meu botão, e eu tô fudido. Agora eu faço trabalho de grante homem ou eu passo um atestado de manezisse.

 

21-6-98

 

Só ir quando valer a pena. Não bancar o mané. Mostrar domínio de bola.

Não se fazer de desentendido.

 

Tá, agora que você entendeu, explica. A mina te admirou (quem já fez isso antes?), e você marcou, no dia seguinte, quando ela voltou pra te ver, você estava fazendo filantropia (na verdade nem precisava mais). Você ferrou a coisa, não pode deixar pra depois não. Se você for muito, mas muito cagão mesmo (coisa que não é), a amiga dela vai continuar freqüentando a sua casa, ela vai estar sozinha ainda, e vai voltar outra vez te procurando. Isso, claro, antes de você voltar pra cidade da merda em pé.

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2:20 am pós-piano

 

O que importa são as intenções e os sentimentos. Cultive-os. Era isso que faltava no Simples e Enaltecedor. E claro, quando eu inventei esse sistema, eu não tinha a menor experiência com a dinâmica dos sentimentos femininos. Foi um duro aprendizado.

 

Posso voltar à hipótese de trabalho de que as mulheres têm bons sentimentos em princípio. Mas junto a isso há a dinâmica inerente a eles, que é gostar de quem está disponível e que oferece as melhores condições de convivência. Nisto inclui-se desde estabilidade emocional e financeira até sexo. E o status do companheiro em relação aos outros é avaliado incessantemente. É necessário ganhar o coração da mulher a cada segundo. Não é dado a ninguém cobrar sentimentos em troca de nada. O prêmio é ela, do jeito que ela vem de fábrica. E a posse é por usufruto.

 

O aluguel do coração de uma mulher é extremamente caro, o que torna praticamente impossível pagá-lo se o terreno não é fértil para sentimentos fortes e sinceros. Não dá motivação pra fazer a coisa da forma certa. Então é bom não gastar as economias com futilidades. Preservar o que é terno é o segredo da resistência.

 

As mulheres são livres.

As mulheres amam, e avaliam suas escolhas a cada momento.

Sentimentos não são limitáveis por acordos.

 

É possível conquistar alguém, se formos capazes de escutar nossos sentimentos (e se nossos sentimentos permitem-nos de nos interessarmos seriamente por esse alguém). E caso aconteça algum acidente de percurso, é inútil atribuir culpa. Devemos apenas escutar nossos sentimentos e ver se é caso para tentar reconquistar a pessoa (sendo humildes), ou se devemos desistir e talvez seja mais fácil se abrir pra outra. Mas se abrir mesmo, nada de galinhagens.

 

As mulheres querem amor.

As mulheres querem segurança.

Se você não é capaz de lhes dar isso, não as culpe.

 

23-6-98

 

Talvez não vá para o Rio.

 

Aqui estou eu. Acho que eu devia levar mais em consideração a sugestão da Irmi, porque por mais que eu queira me apaixonar, ficar sozinho faz mal tanto à saúde física quanto à mental. Preciso de uma espécie de Sunny por aqui, ou pelo menos de uma Dani pra eu chorar no ombro e trocar idéias, que eu estou precisando muito. Uma amizade feminina, uma melhor amiga, é fundamental.

 

24-6-98

 

Estou livre das obrigações evolutivas. Que deixar descendente, que arrumar uma mate qual nada. Foda-se tudo. Vou assumir meu modo de ser, e se é desadaptativo, foda-se. Não vou ficar me preocupando com isso. Se é pro meu genoma desaparecer, foda-se. Não ligo a mínima, o genoma é meu e faço com ele o que eu quiser (ou nem faço). Não quero mais sentido nenhum na minha vida. Não quero mais dever nenhum. Quero viver, e não dever. O que vai ser do meu destino, é o acaso que vai resolver.

 

Me lembro de quando eu disse que havia jogado verde, do desespero da Paula. Ela me amava, e não era contradição o que havia rolado nos isteitis. E eu não fiz nada pra salvar o nosso amor. Eu fiz tudo pra acabar com ele. Mas por mais que eu faça força, ele não vai embora (de mim).

 

1-7-98

 

O silêncio é revelador.

 

5-7-98

 

É curioso como o que determina a melhora é a decisão correta, e não o resultado prático dessa decisão.

 

Acho que é uma boa brincar de fêmea misteriosa, nos moldes do Lao Tsé. Ou então de criança no jardim dos doces.

 

Curtir as pessoas na medida do que se oferece. É por aí.

 

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Agora me toquei. Já tenho a resposta pra você, Lu. Não foi nada contraditório ter ficado com você, a melhor amiga da Carol. Naquele momento (como agora), eu queria VOCÊ. Em alguns momentos, eu quis a Carol, e eu fui autêntico, agi de acordo com o que eu estava sentindo, não estava em contradição. A fonte da confusão foi você ter pensado que meu interesse na Carol estava presente o tempo inteiro. Caso isto estivesse acontecendo, aí sim, eu estaria em contradição. Eu não tenho agido assim ultimamente. Eu tenho procurado agir em sintonia com o que eu sinto, na hora, o sentimento tem sido o motor do meu comportamento. Esta, na verdade, tem sido a forma que eu encontrei de não entrar em contradição. Qualquer outra saída me deixaria numa situação esdrúxula, como ser exclusivo para alguém que não é pra mim, forçar ações que não corresponderiam ao sentimento, ou sentimentos que não correspondem aos fatos, isto é, não ser correspondido. Eu abomino os rótulos e situações rígidas cada vez mais. Se é pra rolar constância nas atitudes, precisa estar havendo a mesma coisa no campo dos sentimentos, e isso não dá pra forçar, é cagada mesmo. Mas da mesma forma, não creio que seria bom evitar viver sentimentos que se apresentem, isto seria tão esdrúxulo quanto forçá-los quando não existem.

 

Eu já sofri o suficiente tentando forçar a constância. Chega, meu.

 

6-7-98

 

Sobrevivi. Sinto que posso viver o que eu quiser, me apaixonar, ter (ou não) casinha, etc... Estou livre de novo. Acabou a licença médica. E o que é melhor, eu estou me amando (nada de paixão, não tem nada a ver com ilusão). Me apaixonar? Amar, né?

 

Com a vantagem de que não sou mais ingênuo.

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Sinto que o Daniel está que nem um filme virgem, e que está prestes a ser exposto. Quem aparecer primeiro ganha (isso se aparecer enquanto o obturador estiver aberto, e ele nem sempre está).

 

And love makes you feel ten foot tall.

 

7-7-98

 

És um senhor tão bonito

quanto a cara do meu filho

tempo tempo tempo tempo

vou te fazer um pedido

 

Compositor de destinos

tambor de todos os ritmos

tempo tempo tempo tempo

entro num acordo contigo

 

Por seres tão inventivo

e pareceres contínuo

tempo tempo tempo tempo

és um dos deuses mais lindos

 

Que sejas ainda mais vivo

no som do meu estribilho

tempo tempo tempo tempo

ouve bem o que te digo

 

Peço-te o prazer legítimo

E o movimento preciso

tempo tempo tempo tempo

quando o tempo for propício

 

De modo que o meu espírito

ganhe um brilho definido

tempo tempo tempo tempo

e ele espalhe benefícios

 

O que usaremos pra isso

fica guardado em sigilo

tempo tempo tempo tempo

apenas conte comigo

 

E quando eu tiver saído

para fora do teu círculo

tempo tempo tempo tempo

não serei ainda nascido

 

Ainda assim acredito

ser possível reunirmo-nos

tempo tempo tempo tempo

num outro nivel de vínculo

 

Por tanto peço-te aquilo

e te ofereço elogios

tempo tempo tempo tempo

nas rimas do meu estilo

 

13-7-98

 

O medo de amar

É o medo de ser livre para o que der e vier

Livre para sempre estar

Onde o justo estiver

 

O medo de amar

É o medo de ter de a todo momento escolher

Com acerto e precisão

A melhor direção

 

O sol levantou mais cedo e quis

Em nossa casa fechada entrar

Pra ficar

 

O medo de amar

É não arriscar esperando que façam por nós

O que é nosso dever

Recusar o poder

 

O sol levantou mais cedo e cegou

O medo nos olhos de quem foi ver

Tanta luz

 

Quando entra setembro e a boa nova anda nos campos

Quero ver brotar o perdão onde a gente plantou juntos outra vez

Já sonhamos juntos semeando as canções no vento

Quero ver crescer nossa voz no que falta sonhar

Já choramos muito, muitos se perderam no caminho

Mesmo assim não custa inventar uma nova canção que venha nos trazer

Sol de primavera

Abre as janelas do meu peito

A lição sabemos de cór, só nos resta aprender

 

Recomeçando das cinzas eu faço versos tão claros

Projeto sete desejos na fumaça do cigarro

Eu penso na blusa branca de renda que dei pra ela

Na curva de suas ancas quando escanchada na sela

 

Lembro um flamboyant vermelho no desmantelo da tarde

A mala azul arrumada que projetava a viagem

Recomeçando das cinzas vou recompondo a paisagem

Lembro um flamboyant vermelho no desmantelo da tarde

 

E agora penso na réstia daquela luz amarela

Que escorria do telhado pra dourar os olhos dela

Recomeçando das cinzas vou renascendo pra ela

E agora penso na réstia daquela luz amarela

 

Agora penso que a estrada da vida tem ida e volta

Ninguém foge do destino, esse trem que nos transporta

 

15-7-98

 

É incrível, incrível, incrível. Daniel tem um ciclo de dois anos! Eu ainda estou com o obturador aberto, e me sentindo bem pra cacete, só esperando que alguém apareça. Só que todo mundo está de férias por aqui, e eu estou ralando. No finalzinho de Julho as meninas vão começar a aparecer de novo e... O mesmo que há dois anos atrás, você junta enxofre com potássio e fabrica pólvora (era assim?). Puta que o pariu.

 

Lembre-se de compôr com os sonhos

 

17-7-98

 

Estou sentindo tudo. Ontem a Lu veio aqui, e eu mostrei pra ela Rêve e a trilha do Je t'aime, e ao invés de ficar triste eu fiquei histéricamente feliz ao lembrar de todas as coisas legais que eu vivi com a Paula ouvindo essas músicas. Durante o Gainsbourg, eu corri pra sacada e fiquei pulando de alegria. A Lu não estava me sacando muito ontem, acho que estava mais é pensando no tio dela, que deve estar por aí hoje. Antes de acordar, estava sonhando que a Paula estava namorando um tio aí, e estava hiperfria, não estava a fim de ficar comigo. E eu suando desejo. E quando acordei, ao invés de me sentir acordando para o pesadelo como de costume (afinal de contas, isso é real, eu não posso mais ter a Paula), eu me lembrei da gente transando que nem Peter Pan e Wendy, e da gente no trem, e fiquei feliz de novo. Me sinto extremamente rico com tudo que eu já vivi, e isso parece ser uma fonte inesgotável de felicidade. Talvez eu nunca mais volte a ser triste, e quando algo triste acontecer, eu ainda guarde uma puta tranqüilidade interna e sinta implicitamente que eu ainda sou feliz.

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Que puta má sorte foi encontrar a Paula, e não outra garota, quando eu estava na pilha do Simples e Enaltecedor. Cansei de atirar pérolas aos porcos. Eu já sabia disso, mas agora eu repliquei o experimento de forma muito mais controlada. Reincidência é a pior coisa do mundo.

 

Juntando tudo, não sobra mais nada.

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Mas quanto barulho por nada! A Paula não me ama, é só. Grandes coisa. E se ela não me ama, então já está na hora de eu achar alguém que tope me amar. Ô inteligência rara!

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Daniel vai curtir uma pilha de cavaleiro solitário por uns tempos. Vai ser bem saudável. Estou precisando me curtir mais, estou em débito comigo mesmo. Estou precisando passar mais tempo juntinho de mim, me curtindo. Faz tempo que não faço isso. Agora é o momento. Vou me sentir artístico.

 

18-7-98

 

Pós Pat Garret

 

Eu faço o que quero e não recebo por isso

Não prostitua seus desejos

 

19-7-98

 

Pós Olleana

 

OK, Olleana, eu peguei a mensagem. Agora só falta ser cagada a menina estar usando um colar que nem o que a Paula comprou nos isteitis, e que nunca mais tirou do pescoço.

 

A Love Story, Thou!

 

Tá, Paula, agora peguei. Eu me lembro de, descendo a estrada a pé com a Lola, vindo do Camping para a casa do João Augusto lá na Serrinha, ela me dizendo que talvez essa fosse a última vez que a gente ia estar lá, porque ela ia se separar dele. Ela disse que ele traía ela, e que eles não se entendiam mais, e eu achei que ele estava errado e que ela era vítima. Achei que ele estivesse fazendo uma puta sacanagem com ela. E não quis ser que nem ele quando crescesse, quis ser um cara de quem alguém como a Lola pudesse gostar. Não como o João Augusto nem como o Márcio, que haviam magoado a Lola (pensei).

Está implícito nisto tudo que as meninas são vulneráveis ao que os tios fazem, e que é a ação deles que dita a felicidade ou a tristeza delas.

Eu nunca cesso de aprender com você. Você pegou a nossa relação e escancarou todos os furos que uma relação amorosa pode ter (ou pelo menos vários, e ainda mostra). O potinho onde a gente se guardou estava cheio de defeitos. A começar pelo meu paternalismo machista, que pressupõe que o homem é quem fode tudo. Você mostrou que você pode tanto quanto eu. Cada vez que eu te procuro pra tentar consertar, você me mostra que isso não depende só de mim, e que eu estou agindo de forma paternalista ao pressupôr que o erro foi meu, e que a minha vontade de consertar é suficiente para isto. Eu tenho vontade, você sabe, mas foda-se, what you want and what you get are two different things. Talvez quando eu passar a acreditar mesmo que VOCÊ quis que a nossa relação acabasse, eu me toque que é absurdo tentar consertar, que não há nada para ser consertado. Talvez não tenha sido um erro o que levou ao fim de tudo. Apenas uma escolha.

Quando eu quis que você viesse pra Ribeirão, talvez eu estivesse incorrendo no mesmo pressuposto machista, "Eu esperava coisas dela, mas agora que já não espero, consertei o erro e vou poder curtir ela e ter bons momentos juntos". Que babaquice. Isso continua pressupondo que sou eu quem age, e também implicitamente espera algo de você (que você volte a gostar de mim, dado que eu aja assim ou assado).

Além do que, o que distingüia você ou eu de todo o resto da humanidade, quando estávamos apaixonados, era justamente estarmos apaixonados. Agora que isso não está mais rolando pra você, você deixa de ser tão especial, salvo por ter o sido no passado. E aí também acaba o mal-entendido que tantas vezes me fez sofrer. Se você não é diferente das outras para mim, eu estou livre para escolher quem estiver mais a mão e deseje me curtir por uns tempos ou momentos. Não que a gente não possa se curtir alguma hora, mas você está certa, não vale 80 legais.

 

Beijos, Daniel.

 

P.S.: Você viu que a Olleana usa um colar igualzinho ao seu?

 

Pra que mostrar isso pra ela? As minhas conclusões só fazem efeito para mim. Seja o que for que eu escrever ou mandar pra ela, ela vai continuar agindo da forma dela, fazendo o que ela quer, e absolutamente imune à minha retórica. Afinal de contas, não dá pra transar com a retórica. A Paula não tem mais presença no meu mundo. Meu mundo agora é Ribeirão Preto.

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Hoje tinha decidido parar de escrever o Diário Psicodélico. Eu comecei o primeiro diário como válvula de escape para o caso Márcia, talvez a minha primeira tentativa de me aproximar do sexo oposto com intenções sexuais, e hoje estava tendo a impressão de que havia compreendido tudo, ou seja, que o conhecimento não leva a nada. Portanto, não há razão em tentar compreender. Mas agora, depois de passar o dia meio desiludido, meio desmotivado, pensei que talvez o Simples e Enaltecedor não seja um erro, mas apenas uma parte da história, e certamente algo maléfico se ocorrer junto com o paternalismo que acabei de descrever. O paternalismo é a pior forma de autoritarismo. É dissimulado, corrói e apodrece tudo que toca, e só aparece na superfície depois de ter destruído todo o interior.

 

OK, nada de ilusões paternalistas sobre as mulheres. Nem generalismos do tipo "toda mulher é..." Só dá pra construir a casinha juntos. Juntos e respeitanto UM ao OUTRO. Isso vale pra mim também. E pra ela também.

 

30-7-98 (muito tempo depois de ter decidido parar de escrever no diário)

 

Descobri que, às vezes, é possível viver muito mais intensamente escutando um disco novo em casa do que saindo pra um lugar de beber e ouvir DE NOVO Dogs in the Highway. O segredo totalizante da vida é refinar o paladar. Ou não.

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