20-8-98

 

Resposta errada. Droga, por que é que eu me meto nessas roubadas? Vou sofrer de novo. Já faz tempo que não nos vemos, não há a menor necessidade de mudar as coisas agora. Ainda não estou preparado pra segurar as pontas, ficar sério, sorrir, achar graça do passado, das coisas que aconteceram quando ainda estávamos juntos. Força, força, você é um homem ou um rato? Temo ter que responder. E se ela não estiver nem aí? E se ela aceitou me ver por gentileza? Não, não quero criar expectativas. Mas como não criar? É óbvio que eu estou morrendo de sede do amor dela. E ter planejado esse encontro já diz tudo. Estou me suicidando.

Ainda posso não sair do carro. Ainda posso não entrar no prédio. Ainda posso não apertar o andar dela. Ainda posso não tocar a campainha. Vou incomodar todo mundo, vão pensar "Ai, lá vem aquele cara de novo. Será que ele ainda não se tocou de que ele não tem mais lugar aqui?" e vão me tratar com a maior cordialidade, pra não dizer compaixão. Olhando atravessado.

Pensando no que poderia acontecer, é claro que penso logo nela abrindo a porta já toda vestida, me dando um puta abraço, sem saber direito como me tratar (nem eu sei como tratar ela agora), ambos sem graça, e aí ela se despediria dos seus pais e a gente iria pra rua. Claro, a conversa seria sobre as abobrinhas mais irrelevantes que se pudesse imaginar, mas a agitação e insegurança estariam tão evidentes nela que eu já poderia relaxar, sabendo que ela também ficou movida com a minha presença. Ou seja, eu importo. Eu não sou qualquer um.

Pára. Não se esqueça que há a outra possibilidade, muito mais provável. Ela demora horas, melhor, depois de um tempo a empregada atende a porta, e diz que ela está em seu quarto, mas você pode entrar. Entro sem graça, passo pelos seus pais sem graça, e ela está meio estudando, meio no telefone, e me diz para sentar enquanto termina a ligação. A conversa no telefone, animadíssima.

Ainda pior: ela me atende, e me leva para a sala, onde o pai lê jornal e a mãe fala no telefone. E me diz pra contar o que me trouxe aqui. Nessa hora, a irmã chega e entra na conversa. Ou ela não está, mas vai chegar logo, pode esperar na sala. Depois de mais de meia hora, ela chega suada da ginástica, e alguém diz que eu já cheguei. Ela vira, me vê, me cumprimenta com aquela bochecha suada, diz pra esperar que ela vai tomar um banho, se desculpa pelo atraso. E passa mais uns quarenta minutos no banho, enquanto eu não sei se converso abobrinhas com seus pais ou me atiro pela janela.

Vale a pena correr esse risco? E como se desfazer dessa situação horrível? Eu quero ir embora. Eu não quero ver essa garota nunca mais na minha vida. Eu quero é um esconderijo pra chorar alto em paz.

Saída