Um carro de polícia. Acho que não nos viu. Mas o barulho de motor continua... Merda, a polícia parou! Estamos fritos. Fiquei congelado, esperando que não nos vissem, quando... Eu ouço o apito do trem! O barulho de motor se torna ensurdecedor, e os apitos se tornam mais altos. O trem está chegando! Junte sua bagagem e se prepara! A locomotiva passou, o maquinista não nos viu. Quando contar três, a gente corre e sobe num vagão raso, com ou sem polícia, ouviu? UM, DOIS, TRÊS! CORRE! Corri que nem um doido, agarrei numa barra de ferro, e subi no vagão. Me agacho para não cair, e me viro a tempo de ver o Eduardo subindo.

-- Conseguimos! Conseguimos! Trivial!

O barulho é ensurdecedor. A cidadezinha passa à nossa volta como se fosse um cenário, e o trem começa a freiar. Finge de morto, finge de morto! Nos deitamos, prendendo a respiração. Alguns dos minutos mais longos de nossas vidas, e o trem anda de novo. Conseguimos!

Um funcionário da estação nos vê. Fico congelado, ele pode parar o trem e nos delatar. Ele sorri e acena. Eu aceno para ele.

A liberdade sopra em nossa cara. O barulho dos trilhos impede que a viagem se torne monótona. Pontes, desfiladeiros, montanhas, túneis... Ficamos tão cobertos de fuligem que poderiam nos confundir com mineiros. Uma cascata que caía de um paredão de pedra nos limpou de novo, ou quase. Estávamos sujos, ensopados e livres.

-- Aceita um chocolate da paz?

-- Aceito.

Dormi sendo ninado pelo balanço do trem. Logo que chegamos em uma cidade maior, e sentimos que o trem começou a freiar, pulamos fora. Um homem nos viu, e nos chamou. Até parece que vou responder. Viramos a esquina e sumimos.

Volta