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Falta misandria no movimento trans, 2 \begin{quote} {Este texto é pra esclarecer algumas idéias que surgiram aqui\footnote{\url{http://anggtwu.net/falta-misandria.html}}. \par Ele está só mais ou menos 2/3 pronto. \par Você pode entrar em contato comigo pelo FB\footnote{\url{https://www.facebook.com/eduardo.ochs}} ou por e-mail\footnote{\url{mailto:eduardoochs@gmail.com}}. \par Tem mais textos meus sobre gênero aqui\footnote{\url{http://anggtwu.net/gender.html}}. \par Eduardo Ochs\footnote{\url{https://www.facebook.com/eduardo.ochs}}, agosto/2015 \par Versão: 2015oct21 }\end{quote} \section*{30. novos} (2015oct18) {\it Aviso: eu levei meses pra escrever esta seção.} Deixa eu começar com algumas idéias (e histórias) que vão me permitir falar da idéia central claramente. \bigskip 2. Postaram este vídeo aqui\footnote{\url{https://www.youtube.com/watch?v=6FumYzhktoY}} num grupo de discussão no qual eu estou. Nele o Norman Finkelstein corta uma estudante da platéia que tenta, aos prantos, dizer que as coisas que que ele diz sobre judeus e Israel são ofensivas; aí ele, Norman, responde: \begin{quote} - I don't respect that anymore. I really don't. I don't like, and I don't respect, the crocodile tears. (...) I don't like to play before an audience the Holocaust card. But since now I feel compelled to, my late father was in Auschwitz. My late mother was in Majdanek concentration camp. Every single member of my family on my father's side, on my father's side. Every single member of my family on both sides was exterminated. Both of my parents were in the Warsaw ghetto uprising. And it is precisely and exactly because of the lessons my parents taught me and my two siblings that I will not be silenced when Israel commits these crimes against the Palestinians. And I consider nothing more despicable than to use their suffering and their martyrdom to try and justify the torture, the brutalization, the demolition of homes, that Israel daily commits against the Palestinians. So I refuse any longer to be intimidated or browbeaten by the tears. If you had any heart in you, you would be crying for the Palestinians (...)''\end{quote} A resposta dele é boa, mas não espetacular - confesso que acho que a que eu preparei pra cerimnônia de 30 dias da morte do pai (aqui\footnote{\url{http://anggtwu.net/haz.html}}) é {\it muito} melhor Meu pai passou por campo de concentração quando criança, e isso dava pra ele um crédito enorme. Quando ele era grosso, paranóico, estúpido, egoísta todo mundo relevava... esse crédito dele era {\it enorme} mas não {\it infinito}, e lá pelos anos 2000 quase ninguém aguentava mais ele, os amigos tinham se afastado silenciosamente. Eu iria terminar o discurso olhando nos olhos de todas as pessoas presentes na cerimônia, e dizendo que agora a gente tem muito mais recursos pra pensar claramente que antes, e que está na hora de pensarmos {\it no que estamos fazendo pra não sermos detestados.} Voltando ao meu pai. Ele ``podia'' ser grosso, paranóico, estúpido e egoísta - mas na verdade esse ``poder'' agir de certo jeito tem muitos sentidos diferentes: vai ser tolerado, ou: ninguém vai reclamar em público, ou: vai ser protegido como alguém cujo surto é entendido como um pedido de socorro, ou: não vai ser demitido nem processado, ou: todo mundo vai dar razão e chamar atenção pra ``causa'' daquela pessoa (a causa dos judeus, a causa dos palestinos)... \bigskip 4. Em discussões feministas e LGBTs certas idéias vão se tornando não-mencionáveis ao longo dos anos... confesso que fico fascinado quando vejo alguém tentando discutí-las, e o slogan ``aqui se pensa bem'', que só me ocorreu há poucos dias, me parece uma boa chave pra eu tentar entender quais são as situações/``provocações'' que mais interessam. Uma imagem, bonita mas inútil, é que em certos lugares e grupos vai se tornando impossível respirar, e certas pessoas tentam criar mais espaço e mais ar nesses grupos. Deixa eu começar com uns exemplos. Primeiro: há algumas décadas ``todo mundo'' achava que homossexualismo era anti-natural, era um estilo de vida ``pervertido'' que só era ``escolhido'' por pessoas que pessoas que tinham traumas etc etc; hoje em dia o discurso majoritário é que todo mundo ``nasce'' hétero ou gay, cis ou trans, e no máximo ``se descobre'' com a idade. ...mas voltando, repara, o discurso de que todo mundo nasce hétero/gay/etc precisa invisibilizar coisas como ``lesbianismo político\footnote{\url{https://en.wikipedia.org/wiki/Political\_lesbianism}}'' e o queer by choice\footnote{\url{http://www.queerbychoice.com/choicelinks.html}}'' (e do QbC\footnote{\url{http://www.queerbychoice.com/}} posto que você nunca nem tinha ouvido falar)... Aliás a minha mãe, que é psicanalista (!), acreditava piamente na idéia do anti-natural/perversão/traumas, hoje em dia ela acredita piamente na idéia do ``nasceu'', e ela apagou quase que completamente da memória dela que ela achava algo diferente antes... e quando numa conversa eu confrontei ela com evidências da posição anterior dela ela ficou negando tudo, ficou dizendo coisas tipo ``não pode ser'' e ``claro que não'', só {\it muito} de vez em quando ela reconhecia algo que eu apontava como algo que merecia que ela tentasse se explicar e se justificar (e as explicações eram meio esfarrapadas). # Local Variables: # coding: raw-text-unix # End: