" ]]
def [[ + 1 text " "..Q(text) ]]
def [[ me: 1 text BF("me:")..Q(" "..text) ]]
def [[ Tatiana: 1 text BF("Tatiana:")..Q(" "..text) ]]
def [[ CHAT 1L arr _B.P(table.concat(filter(arr), BR())) ]]
def [[ yessection+ 2 title,body
mov_foo(section, title_section, title, body) ]]
def [[ nosection+ 2 title,body
COLOR("red", mov_foo(section, title_section, title, body)) ]]
def [[ yessection+ 2 title,body
COLOR("green", mov_foo(section, title_section, title, body)) ]]
def [[ nosection+ 2 title,body "" ]]
def [[ yessection+ 2 title,body
mov_foo(section, title_section, title, body) ]]
reverse = function (arr)
local n = #arr
for i=1,n/2 do arr[i],arr[n+1-i] = arr[n+1-i],arr[i] end
return arr
end
def [[ REVERSE 1L arr join(reverse(arr)) ]]
]
[SETFAVICON IMAGES/rrj.png]
[# (find-angg "TH/speedbar.blogme")
# (find-blogme3 "anggdefs.lua" "basic-words-for-html")
#]
[_TARGETS
hay-for-the-horses => http://www.spress.de/beatland/reader/snyder/poem4.htm
hay-for-the-horses => http://sarahbrowning.blogspot.com/2007/09/poem-for-labor-day-gary-snyder.html
hollow-men => http://www.shutupandskate.net/renski/beautiful/hollow.html
]
[#
# «.rrj» (to "rrj")
# «.rrj2» (to "rrj2")
# «.rrj3» (to "rrj3")
# «.rrj4» (to "rrj4")
# «.rrj5» (to "rrj5")
# «.rrj6» (to "rrj6")
# «.rrj7» (to "rrj7")
#]
[htmlize [J Rape Recovery Journal]
[# «rrj» (to ".rrj")
# (find-TH "rrj")
#]
[REVERSE
[# ------------------------------------------------------------ #]
[nosection+ [Q Domingo 9/abr/2006]
[P [Q Já faz mais de três anos.]
[Q Quando é que vão me perdoar por eu ter sido violado?]]
[P [Q Quando é que gente como eu vai ter direitos?]
[Q A única coisa que pode me dar alguma segurança é eu ter centenas
de amigos a quem eu possa recorrer se acontecer de novo.]]
[P [Q A minha praga ainda não funcionou.]
[BR] [Q "Um dia alguém vai quebrar o nariz da Aline com um soco - e
esse alguém não vai ser eu."]
[BR] [Q E os meus pesadelos continuam.]
[BR] [Q As pessoas dizem, ou diziam: "vai passar". Era pra eles terem
passado há anos.]]
[P [Q Hoje na feira um cara - um feirante - tinha dado uma chave de
braço numa mulher e estava levando-a pra fora da feira. Não entendi se
ela era ladra, se ela tinha um caso com ele, ambos, ou o quê. Numa
hora ela até gritou "ai, ai, ai, meu braço, tá me machucando". Mas
soou falso e inadequado e ela não tentou de novo. Ainda bem.]]
[P [Q Eu pensei: eu não tenho mais o menor interesse pelos direitos
das mulheres. Eu não vou mexer uma palha.]]
[br]
[P [Q Eu fui super claro a respeito de como eu funcionava: sexo pra
mim é um ninho de serpentes. Transar com alguém é mexer em medos,
expectativas, inseguranças, rejeições, paranóias - e numa disciplina
de anos pra tirar sexo da minha lista de prioridades e redirecionar a
energia para outras coisas.]]
[P [Q Eu já tinha transado com duas pessoas e não queria transar com
uma terceira se não fosse algo muito especial. O meu neurônio do sexo
fica longe do meu neurônio do prazer e muito perto do neurônio do
medo: "sexofobia". E a Aline dizia que entendia.]]
[P [Q Durante um ano depois dessa história eu não consegui olhar
direito nos olhos de ninguém. A gente sempre aprende com qualquer
relação, dizem. Eu aprendi que qualquer pessoa podia ser uma Aline.]]
[P [Q Espera-se que eu seja feliz, que eu me envolva com outras
pessoas, que esqueça isso e supere. Será que alguém poderia me mostrar
o caminho? Será que alguém poderia se aproximar e me guiar pela mão?]]
[P [Q Pouca gente hoje em dia sabe lidar com quem tem medo. E as
pessoas não ficam à vontade com quem tem segredos engasgados.]]
]
[# ------------------------------------------------------------ #]
[yessection+ [Q Terça 28/mar/2006]
[P [Q Quando ele nasceu ele era considerado humano; depois passou. Foi
abatido aos 12.]]
[br]
[P [Q Volta e meia eu caio no meio de grupos de defensores dos direitos dos
animais, e a ingenuidade deles me irrita. É que o nosso público-alvo é
diferente: eles ficam chocados com o absurdo que são os abatedouros,
vaquejadas e laboratórios de testes em animais, e eles querem atingir
as pessoas que nunca nem pensaram que os animais sofrem como nós.
Porra, meu pai passou por campo de concentração, minha melhor amiga já
esteve em hospício, já vi policiais surrando pessoas na rua, e já me
senti o negro e o louco da minha faculdade; pra mim essas coisas -
crueldade contra o "outro", o que não é humano, o que não é um de nós
- são cotidianas, são o ar que eu respiro há anos.]]
[P [Q Estou cansado de dizer que as pessoas que são cruéis com quem
elas não consideram humano são "monstros"; não, se treinar para
desumanizar certos seres e tratá-los como objetos é um processo humano
demais, eu reconheço ele em mim - tem que ser possível dialogar de
igual para igual com essas pessoas, tem que ser possível usar esse
processo conscientemente e escolher quem vai ser tratado como coisa
-]]
[P [Q Temos muitos inimigos muito muito grandes e nos contentamos em
bater nos mais fracos.]]
]
[# ------------------------------------------------------------ #]
[yessection+ [Q Sexta 17/mar/2006]
[P [Q As minhas pessoas favoritas têm muito pouco e aguentam firme
enquanto suas famílias as chamam de parasitas.]]
[br]
[P [R http://www.oceanstar.com/patti/lyrics/citizen.htm Lady Liberty,
lend a hand to me]]
[br]
[P [__ hollow-men There, the eyes are [BR] Sunlight on a broken column]
]
]
[# ------------------------------------------------------------ #]
[nosection+ [J Quinta 16/mar/2006]
[# http://www.mat.puc-rio.br/~edrx/rimbaud/port.txt
http://angg.twu.net/rimbaud/port.txt
#]
[P [R http://angg.twu.net/rimbaud/port.txt [Q Rimbaud 0: Missão
Abissínia]] - [Q escrevi isso pouco depois de voltar do Canadá, e
mostrei pra muito pouca gente. Tá na hora de fazer esse texto ficar um
pouco menos secreto.]]
]
[# ------------------------------------------------------------ #]
[yessection+ [J Quarta 15/mar/2006]
[P [Q Acho que vou conseguir uma transferência para Campinas ou São
Paulo.]]
[P [Q "Você não vai sentir falta da praia?"]]
[P [Q Hm, qual foi a última vez em que eu fiquei sem camisa em algum
lugar público ou com pessoas amigas por mais de uns poucos
segundos?]]
[P [Q Eu não lembro, mas deve fazer mais ou menos um ano.]]
[P [Q "Mas as mulheres do Rio são tão bonitas."]]
[P [Q Eu tenho paranóias recorrentes com a Cláudia revoltada por eu
me manter esculhambado e descabelado e "feio" (na verdade esse
"feio" era porque eu me punha à margem e agia defensivamente como se
eu fosse um proscrito, e aí eu ignorava de propósito muitos dos
códigos de comportamento usuais. Um dia eu tenho que escrever sobre
isso). Ah, e a Aline, que no início era gente boa, surtando cada vez
mais porque eu não me maravilhava com seus peitos e curvas e
vestidos.]]
[br]
[P [Q Eu quero um lugar onde as pessoas se olhem nos olhos.]]
[P [Q Eu quero voltar a passar o meu tempo livre nos guetos.]]
[P [Q Eu quero me mudar pra Montreal quando eu crescer.]]
]
[# ------------------------------------------------------------ #]
[yessection+ [J Segunda 13/mar/2006]
[P - O seu pai morreu.]
[P [Q - Hm, agora só precisamos nos proteger do fantasma dele.]]
]
[# ------------------------------------------------------------ #]
[nosection+ [J Domingo 12/mar/2006]
[P [Q Cláudia:]]
[P [Q Você fez um estrago fudido - e depois, o que você fez pra tentar
consertar? Pediu desculpas um pouquinho, tentou esquecer, me disse pra
esquecer, me chamou de rancoroso -]]
[P [Q Porra, eu tou cansado de viver numa cidade em que memórias e
pessoas são tão descartáveis -]]
[P [Q Eu queria é que ela reconhecesse que eu tenho algo tipo um
coração, seja lá o que for isso (e a palavra soa brega, então eu
evito) - que eu tenho feridas demais doendo há tempo demais, e admito
que isso é uma merda - mas eu faço um esforço louco pra lidar com isso
do modo mais honesto possível, e tento ter mil coisas boas pra
compensar]]
]
[# ------------------------------------------------------------ #]
[nosection+ [J Sexta 10/mar/2006]
[P [Q Eu tou cansado de lembrar que 90% da cabeça dele me acham um
idiota e um fresco (e são exatamente os 90% que ele não controla) e
que ele só tem orgulho do meu diploma de Doutorado, pro qual eu nem
ligo muito - o que eu queria era que ele entendesse que ele me educou
de um jeito super duro e que eu aprendi a responder essa dureza sendo
duro também - eu queria pelo menos o olhar surpreso e respeitoso que a
gente imagina que um mestre espadachim faça quando luta com um aluno e
vê que ele chegou ao seu nível, mas não, o meu pai só me vê como um
monstro grosso e insensível]]
]
[# ------------------------------------------------------------ #]
[yessection+ [Q Terça 7/mar/2006]
[P [Q Tem uma cena que se repete no final do "Les Maîtres du Temps" em
que o garoto é atacado por insetos gigantes que ficam picando a cabeça
dele -]]
[P [Q Pra mim essa cena é alguém sendo atacado por pensamentos.]]
[P [Q Eu lembro dela várias vezes por dia.]]
[br]
[P [Q Comprei de novo uma caixa de Minerva Brisa (sabão em pó). Eu
gosto do cheiro dele, acho que ele limpa bem, mas não gosto muito da
sensação nas roupas depois, pelo menos quando elas estão molhadas -
acho que são as bolinhas de silicone.]]
[br]
[P [Q encolhido feito uma bolinha]]
[P [Q com as mãos nos ouvidos]]
[P [Q gritando em silêncio]]
]
[# ------------------------------------------------------------ #]
[yessection+ [Q Domingo 26/fev/2006]
[P Hello Ms. Carnivore!]
[P Your love juices stink too much.]
[P Sorry!]
[P Bye.]
]
[# ------------------------------------------------------------ #]
[yessection+ [Q Terça 24/jan/2006 (?)]
[P [Q Eu estou cansado de fingir que daqui a pouco vai estar tudo bem
porque eu vou ter esquecido a minha raiva]]
[P [Q (Daqui a pouco de novo as pessoas em torno de você não vão
existir, só vão existir o noticiário e os judeus)]]
[P [Q E você vai ser grosso com as pessoas em torno de você porque
você não tem o menor contato com os sentimentos delas]]
[P [Q ("Ah, desculpe, eu não percebi" - claro que não percebeu)]]
]
[# ------------------------------------------------------------ #]
[yessection+ [Q Terça 28/dec/2005]
[P [Q Ele chega de noite e eu me levanto maravilhado pra recebê-lo, e
ele pergunta, "quais são as novidades?", e, putz, não tenho novidade
nenhuma exatamente porque eu passei o dia boba de felicidade e
expectativa esperando que ele chegasse deitada na soleira da porta,
agora tenho medo de que a minha falta de novidades seja sinal de que
eu fiz tudo errado, se eu fosse mais casual eu teria tanta coisa pra
contar, se eu fosse um cachorro a minha felicidade bastaria, mas eu
não sou e ele me cobra novidades, malditas novidades.]]
]
[# ------------------------------------------------------------ #]
[yessection+ [Q Domingo 18/dec/2005]
[P [Q Ele se senta no sofá na frente da televisão e espera a morte chegar]]
[P [Q e a morte vem infinitamente devagar]]
]
[# ------------------------------------------------------------ #]
[yessection+ [Q Terça 6/dec/2005]
[P 1.]
[P [Q - "Deixa eu te ajudar"]]
[P [Q - "Você não tem nada do que eu preciso"]]
[br]
[P 2.]
[P You are like a hurricane]
[P There's calm in your eye]
]
]
[# «rrj2» (to ".rrj2")
# (find-TH "rrj2")
#]
[REVERSE
[# ------------------------------------------------------------ #]
[nosection+ [Q Sábado 20/mai/2006]
[P [Q Eu vi as pessoas dançando tão bonito umas com as outras no
Democráticos e vi ela e ela se abraçando e se dando um beijo e dessa
vez eu sorria, porque eu lembrava como era dançar com ele, como nós
dançávamos tão devagar, e era porque nós éramos tão cuidadosos, porque
entre meninos é tudo tão mais complicado -]]
[P [Q Eu mordia os lábios. Poucas vezes eu fui tão bonito quanto
quando eu dançava com ele.]]
[P [Q Todo mundo nos olharia se nós estivéssemos ali; aliás, todo
mundo nos olhava quando nós dançávamos - a graça era essa. Nós
achávamos bobo ignorar as pessoas em torno de nós; e qualquer
movimento mecânico ou falso faria as pessoas se distraírem e voltarem
pro seu amargor habitual.]]
[P [Q Não sei rotular a relação que há entre nós; outras pessoas se
beijariam, ou até transariam, ao atingirem um centésimo da intimidade
que eu e ele tínhamos quando dançávamos.]]
[P [Q Hoje, pela primeira vez em muito tempo, eu me lembro dele, e me
lembro, e me lembro, e sou tomado por saudades, e não censuro as
minhas memórias.]]
]
[# ------------------------------------------------------------ #]
[yessection+ [Q Quinta 11/mai/2006]
[P [Q Eu devia ter telefonado quando vi que não ia mais dar tempo pra
fazer a visita, ao invés de ter só mandado uma mensagem pelo celular.
Mas naquela hora parecia que tudo era foda-se e tanto faz, e ao mesmo
tempo era tudo igual e banal, eu tinha acabado de tomar um banho
gelado porque a minha flatmate tinha sido utterly unhelpful mais uma
vez, ela estava ocupada e quando eu fui pedir alguma dica pra
conseguir acender o aquecedor sem ele fazer aquela coisa de explodir
que ele fez das outras vezes ela deu uma explicação em duas ou três
frases toscas nas quais evidentemente faltavam pedaços.]]
[P [Q Um dia eu ainda vou saber pedir ajuda direito, e eu vou saber
reclamar e cobrar ao invés de ficar só desistindo e caindo nesse loop
mental de ficar tentando transformar tudo em palavras e historinhas.]]
[P [Q Hoje de manhã o gato cinza da minha rua, que no início era bem
meu amigo, estava fazendo coisas que eu não consegui entender.]]
[P [Q Hoje de manhã, antes de eu sair e encontrar o gato, eu esperei a
ligação do cara que parece que tem uma proposta de trabalho pra mim em
Recife, e ele não ligou.]]
[P [Q Ontem eu fui visitar os meus pais e vi que o meu pai está ainda
mais chato, mais encurralado e mais patético. Ele foi super simpático
comigo, me perguntou coisas, me mostrou coisas - e hoje eu estava
vendo como é que a minha raiva dele continua intacta, apesar de que às
vezes ela quase é contrabalançada por um pouco de pena. Eu volta e
meia vejo que estou esperando ele morrer, e fico pensando se não é a
hora de começar a dizer isso abertamente, pelo menos pros amigos mais
próximos - só que aí parece que eu viro um monstro, que não existem
mais certos e errados, e que tudo foda-se e tudo tanto faz.]]
[br]
[P [Q É que eu não tenho quase nenhuma lembrança boa dele. Mas há
muitos anos eu me defendo tanto dele que parece que não sobra nenhuma
brecha por onde ele possa fazer algo de bom - o máximo que acontece é
[#] às vezes ele ser menos desagradável.]]
[P [Q Ou seja, sob um certo ponto de vista é tudo culpa minha. Que
lindo, que legal, que divertido - né? Mas eu já estou acostumado.]]
[br]
[P [Q Alguns amigos dos meus pais me arranjaram uns contatos de
trabalho, tipo mande currículo para o fulano de tal. Fico pensando o
que eles fariam se eles descobrissem o que eu sinto por ele. Acho que
é por isso que eu fico tão surpreso quando eles me ajudam.]]
]
[# ------------------------------------------------------------ #]
[yessection+ [Q Quarta, 3/mai/2006]
[P [Q Reunião sobre realocação.]]
[P [Q Devo poder continuar trabalhando na mesma empresa, mas numa
outra posição, mais técnica, usando menos linguagens (só C e SQL),
tendo que lidar com os mesmos bugs do Windows, tendo que ir pra Barra,
com o mesmo horário (8 horas por dia), e ganhando a mesma coisa.]]
[P [__ hay-for-the-horses Hay for the horses]]
]
[# ------------------------------------------------------------ #]
[nosection+ [Q Sábado, 29/abr/2006]
[P [Q Um dia eu estava lendo um livro nas mesinhas do Espaço Unibanco
e três garotos de terno vieram fazer uma "intervenção poética" (uma
"intervenção patética", na verdade) lá no hall do cinema e nos
empurrar seus livrinhos... eu fiquei tão irritado que eu escrevi]
[HREF unibanco.html isso aqui], [Q que infelizmente por causa da
divisão em linhas pode parecer poesia...]]
[P [Q Porque poesia é tão bonito. Porque o poeta. Pra comer muitas
mulheres. Oh yeah.]]
[P (Ei, menino de terno)]
]
[# ------------------------------------------------------------ #]
[nosection+ [Q Quarta 19/abr/2006]
[P [Q (Sobre terça 18/abr/2006)]]
[P [Q Fiquei conversando com um cara - uma anabranquete - na Oficina
da Semente. Puta que pariu, que coisa irritante - aquele discurso de
que o conhecimento já está todo dentro de você, você não precisa de
nada externo, de que não-sei-quê e não-sei-que-lá "não existem" (o
bem? a verdade? a felicidade?), citações ao "What the bleep do we
know?" e à Física Quântica...]]
[P [Q Um exemplo marcante que ele deu: que na família dele todo mundo
bebia um copinho de cachaça todo dia e ninguém sabia como era viver
sem isso; e agora que ele experimentou viver sem cachaça ele não quer
nem mais fazer contato de novo com a versão antiga dele, que
funcionava na mesma sintonia que a desses caras.]]
[P [Q Eu posso não estar querendo beber cachaça agora, mas eu quero
muito conseguir me comunicar com esses parentes que bebem na
historinha que o cara contou: eles têm uma percepção diferente da
minha.]]
[P [Q Eu quero tudo, e quero ter contato com todas as minhas partes,
boas e ruins.]]
[P [Q O pior de tudo isto foi o cara falando que o objetivo da Arte é
o momento da criação e só, e que a idéia de comunicação com outros é
balela. Tá, anabranquete, fica aí com a sua cabeça transcendental e
com o êxtase das comidinhas. Eu sou diferente, e eu tenho horror a
pessoas que não têm interesse por livros, idéias, modos de pensar
diferentes e obras de arte.]]
[P [Q E aí ele vai ficar me olhando com aquele olhar superior. Com que
cara eu gostaria de olhar pra ele de volta?]]
[P [Q Eu olhava nos olhos dele e era tão óbvio pra mim porque é que
ele tinha entradas enormes e aqueles tufos de cabelo pro lado e pra
cima: excesso de um determinado tipo de pensamento. Agora eu quero
desintoxicar daquilo.]]
]
[# ------------------------------------------------------------ #]
[nosection+ [Q Segunda 17/abr/2006]
[P [Q Aula de Aéreos que não teve. Almocei na Oficina da Semente
e acabei ajudando os caras num evento no Jardim Botânico.]]
]
[# ------------------------------------------------------------ #]
[nosection+ [Q Sexta 14/abr/2006]
[P [Q Lutando contra a depressão sem saber direito porquê e sem saber
o que eu vou encontrar do outro lado.]]
]
[# ------------------------------------------------------------ #]
[nosection+ [Q Quinta 13/abr/2006]
[P [Q It is lonely up here]
[BR] [Q It is so sad down there]
[BR] [Q Come, join me]
[BR] [Q Says the suicide]
[BR] [Q And she's so right]
]
]
[# ------------------------------------------------------------ #]
[yessection+ [Q Quarta 12/abr/2006]
[P [Q Encontrei o Meleca na rua.]]
]
[# ------------------------------------------------------------ #]
]
[# «rrj3» (to ".rrj3")
# (find-TH "rrj3")
#]
[REVERSE
[# ------------------------------------------------------------ #]
[yessection+ [Q Sábado 30/dec/2006]
[# (Acho que eu comecei a escrever isso no sábado 23/dez) #]
[P [Q Andou acontecendo de novo. Agora está mais fraco, mas durante
mais ou menos uma semana foi bem forte. Eu começava a pensar em como
seria o meu próximo trabalho careta e logo me vinham as imagens dos
dois sociopatas do grupo de programadores em C -]]
[P [Q "Sociopatas" ou "engenheiros"? Não sei - quando eu era criança e
eu descobri a palavra "sociopata" eu pensei "uau, é isso que eu quero
ser quando eu crescer" - e todos os estudantes de engenharia que eu
conheci eram que nem aquele Raphael do grupo de C, ou pelo menos meio
que nem ele - o outro sociopata em nunca cheguei a conhecer direito e
nunca soube o nome dele, mas em teoria eu teria que trabalhar junto
com ele também...]]
[P [Q Foi ouvindo as histórias deles que eu entendi porque as boates
hetero - em que eu nunca vou - cobram tão caro a entrada: é porque de
vez em quando caras como esses vão lá e quebram tudo. E depois eles
ficam contando as histórias e rindo, rindo - " Aí, mermão! Aí,
mermão!"]]
[NARROW
[P and he had a job
[BR] and he brought home the bacon so
[BR] no one knew
[BR]
[BR] he was a mongoloid, mongoloid
[BR] happier than you and me
]]
[P [Q E uma das coisas que mais dóem é pensar que um cara desses é um
[#] ótimo profissional, muito melhor que eu (aspas em algum lugar -
onde?) - o chefe manda fazer alguma coisa e o cara faz; não importa se
fica mal-feito ou ilegível, ele faz. E todo mundo reconhece quanto
esforço é necessário pra se fazer um programa ilegível de 5000 linhas
como os dele, e pra ele fazer remendos no programa depois; pouca gente
reconhece o esforço necessário pra um hippie como eu fazer um programa
de 500 linhas, limpo e legível, que resolve o mesmo problema que o do
cara... ah, o meu é bem mais fácil de consertar e de estender que o do
cara, mes eu levo o mesmo tempo pra ter uma primeira versão rodando
que ele, e eu só consigo ter pique pra fazer o que eu faço porque ao
invés de eu passar os meus horários de almoço puxando a cara num
sorriso, comendo uma gosma qualquer e falando sobre carros e bundas de
mulheres eu passava os meus horários de almoço sozinho, indo em algum
dos pouquíssimos lugares daquela merda de Barra da Tijuca que tinha
opções vegetarianas, e lendo Jean Genet ou Virginia Woolf.]]
[P [Q Uma vez eu pedi pra esse Raphael pra ele converter pra um certo
formato uns documentos on-line que a gente tinha sobre um projeto que
ia ficar sob minha responsabilidade; os originais estavam num formato
que só podia ser lido direito em Windows ("aí, mermão, pra mim esse
negócio de Software Livre é babaquice, isso não devia existir, eu não
dou de graça os programas que eu faço de jeito nenhum, esse negócio de
compartilhar é coisa de viado, e esse pessoal devia parar com essas
frescuras de ficar usando sistemas diferentes e fazer tudo em Windows
de uma vez") - aí eu fui tentar mostrar pra ele como é que eu usava
esse outro formato e ele não quis ir ver no meu computador de jeito
nenhum ("não preciso ver, eu conheço esse formato"), e eu tive que
tentar fazer ele levantar puxando ele pelo crachá - lá os crachás
ficam numas cordinhas no pescoço da gente - mas ele não quis levantar,
acho que eu devia ter torcido mais (que será que teria acontecido se
eu tivesse apertado até ele mudar de cor? Nananana, Raphael, sorria, é
brincadeira, pára de frescura, claro que você está gostando, sorria -
cada um tem um jeito de brincar, cadê o sorriso? Vem cá, baby) - mas
parece que mesmo o pouquinho que eu fiz já pegou meio mal. Bom,
whatever - não me arrependo.]]
[br]
[P [Q Desde que eu tenho 14 ou 15 anos que eu não apanho por ser
esquisitão ou por os caras acharem que eu sou viado - mas é como se
isso fosse uma possibilidade permanente.]]
[P [Q Sexofóbicos não apanham. São chamados de malucos, excluídos,
discriminados, descartados - e só. Não é preciso empurrá-los pra baixo
na hierarquia (como a gente empurra alguém pra baixo da água numa
piscina) - eles já estão fora da hierarquia de qualquer modo.]]
[P [Q Essa macheza desses Raphaéis é social - eles estão o tempo todo
fazendo coisas para serem aceitos pelas pessoas do grupo deles, que
pra eles é como se fosse o único grupo que existe e que importa. O
"aí, mermão"; o "isso é coisa de viado" - o que acontece se há alguma
reviravolta e eles passam a ser considerados viados, ou malucos
(mesmo, de hospício), ou losers? É algo inconcebível pra eles - é uma
espécie de morte -]]
[P [Q O grupo deles massacra viados e nerdzinhos frágeis - "gente
inferior".]]
[P [Q Eu não sou um nerdzinho frágil - eu caí fora desses grupos há
muito tempo - eu morri - e doeu, muito (it's an open wound that never
heals, etc).]]
[P [Q Algumas das minhas referências: junkies de psicodélicos, xamãs
mendigos, Lobo Solitário, Sandman, terroristas suicidas -]]
[P [Q Das vezes em que eu esganei alguém nos últimos anos era sempre
eu sozinho contra a pessoa que eu esganava. Eu não contava com ninguém
do meu lado, mas eu prestava atenção a todas as pessoas em torno, eu
estabelecia uma comunicação com elas, e aí elas não me atacavam em
grupo como se eu fosse o invasor, o "ele" (versus o "nós") - elas não
conseguiam me transformar num "ele", numa coisa -]]
[# P [Q Das vezes em que eu esganei alguém nos últimos anos era
sempre eu sozinho contra a pessoa que eu esganava, mas eu
estabelecia uma comunicação como todo mundo em torno, e essas outras
pessoas dificilmente me atacariam em grupo como se eu fosse o
invasor, o "ele" (versus o "nós") -]]
[P [Q Os homens - os Raphaéis, mas esses é que são os homens homens de
verdade - formam máfias - eles acobertam as escrotices e burrices uns
dos outros - esse Raphael, por exemplo, trai a mulher pra cacete -]]
[P [Q Covardes]]
[br]
[P [Q Quando passaram "O Triunfo da Vontade" da Leni Riefenstahl e eu
vi aquelas cenas da Convenção de Nuremberg, centenas de milhares de
jovens em formação perfeita ouvindo os discursos de Hitler, aí é que
eu entendi direito como deve ser bom pra caralho fazer parte de um
grupo, ou melhor, do "todo mundo" - mas eu nunca consegui. Por um lado
eu tentava, e sempre dava errado; faltava algum clic, faltava a
naturalidade que aqueles caras tinham - volta e meia alguma coisa me
puxava pra fora da situação em que eu estava,] [IT zuuuuuum,] [Q e num
instante eu passava a ser um observador, e eu estranhava aquela
situação e aqueles papéis, como é que aquelas pessoas podiam ter tanta
convicção daquilo? Aquilo era raso e falso, como histórias escritas
por idiotas, como música ruim - e aí eles percebiam o meu
estranhamento e me estranhavam também -]]
[P [Q Por outro lado, quando era criança a coisa que eu tinha mais
medo era quando eu crescesse eu virar uma pessoa medíocre (é, com
esses termos mesmo - depois é que eu passei a usar outros). Quase
todas as pessoas em torno de mim eram "medíocres", e eu os via como
mortos-vivos.]]
[P [Q (Acho que se eu fosse uma criança feliz eu não pensaria desse
modo. Mas eu achava que a única coisa que compensaria a vida que eu
levava, e que faria tudo valer a pena, seria algo muito especial no
futuro).]]
[P [Q Aos 17 anos, depois de uma tentativa de suicídio frustrada, eu
me arrastava. O único futuro que eu via pra mim era eu virar um
vegetal num manicômio. Continuo achando um absurdo terem me mantido
vivo; quem chega a um ponto como o em que eu estava não se recupera.
Os deuses ainda vão me pagar por tudo isso - mas isso é outro
assunto.]]
[P [Q Eu tomei precauções pra que eu não pudesse virar um dos
"medíocres", um dos mortos-vivos. Eu criei anticorpos. Eu queimei as
pontes.]]
[# [NARROW
[P Sister - Congratulate me!
[BR] NO I CAN'T YOU'RE TOO LOUD -
[BR] GRANDMA LOVE ME
[BR] NO I DON'T KNOW HOW TO LOVE
[BR] SOMEONE LIKE YOU
[BR]
[BR] Sometimes the
[R http://www.creativetime.org/citywide/past_proj/finley.html
Black Sheep] is a soothsayer,
[BR] a psychic, a magician of sorts -
[BR] Black Sheep see the invisible
[BR] We know each others thoughts
[BR] We feel fear and hatred
]]
#]
[br]
[P [Q Alguns dos meus amigos matemáticos na faculdade tinham amigos
estudantes de engenharia; eu não entendia como.]]
[P [Q Se a gente vê um bicho que come grama e outro que come pequenos
roedores a gente diz: são espécies diferentes. Eu olhava pros
estudantes de engenharia e pensava: eu não consigo nem entender como é
que alguém gosta das coisas que esses caras gostam, não consigo nem me
pôr no lugar deles. A bioquímica emocional deles é o oposto da
minha.]]
[P [Q Eles gostavam de poder, coisas, mentiras, diversão, cerveja,
galinhagem, trophy girls, de se sacanearem mutuamente, de tiraram
onda, de serem espertos, de competirem, e de pisarem em losers.]]
[br]
[P [Q Então: andou acontecendo de novo. Durante uma semana as imagens
ficaram me vindo dezenas de vezes por dia - por exemplo, eu cortando
as falanges da ponta dos dedos da mão do Raphael com um alicatão
("sorria, Raphael, sorria") -]]
[P [Q Quase todos os homens são meus inimigos.]]
[P [Q Era pra eu sentir alívio por eu não ser como eles - mas é mais
fácil a gente se lembrar das coisas que incomodam, e da mesma forma
que eu às vezes sou atacado por esses surtos de crueldade (que, óbvio,
ficam só dentro da minha cabeça, como uma bad trip), eu às vezes sou
atacado por crises de inveja e raiva - eu sei que eu não teria como
ser como eles, mas eu fico olhando pra essas pessoas "normais" como um
garoto diabético olhando pros outros garotos tomando sorvete.]]
[br]
[P [Q Acho que esses flashes de crueldade - e mil outras coisas que eu
detesto - têm a ver com hormônios.]]
[P [Q (Aliás eu comecei a ficar vegetariano - em 2001 - pra tentar
controlar essas crises. Funcionou bastante, mas isso é outra
história).]]
[P [Q Há anos que eu penso em experimentar Androcur pra ver o que
acontece - mas eu queria experimentar o Androcur sem tomar
antidepressivos junto, e dizem que aí o efeito pode ser devastador, e
eu ainda não tenho estrutura pra isso. Estou há anos sempre deixando
isso pra depois, e me preparando mais e mais.]]
[P [Q Se funcionasse eu poderia consolidar o efeito com uma
orquiectomia... eu teria que ficar tomando doses pequenas de hormônios
de tempos em tempos pra não ficar totalmente sem hormônios, e eu odeio
alopatia, mas seria um pequeno preço a se pagar. E aí depois da
orquiectomia eu poderia conseguir uma penectomia...]]
[P [Q Mas essas coisas me fechariam portas para trabalhos caretas, e
eu já tive um pouco de acesso a caminhos mais sutis pra equilibrar
essa bagunça toda. Nada disso tudo pode ser feito apressadamente - mas
se os pensamentos ficam vindo é melhor lidar com eles do modo mais
honesto possível.]]
]
[# ------------------------------------------------------------ #]
[nosection+ [Q Sexta 24/nov/2006]
[P [Q São Paulo, 18/nov/2006: de repente eu descobri que todas as
outras quatro pessoas na mesa comigo - pessoas envolvidas com Software
Livre, mas paulistas - eram ferrenhamente anti-Lula, e elas falavam
como se qualquer pessoa minimamente razoável fosse ser anti-Lula
também.]]
[P [Q Aí eu confessei timidamente que eu votei no Lula duas vezes, que
eu gosto dele, que eu acho que ele fez um governo centenas de vezes
melhor do que eu achei que seria possível fazer, que ele pegou um país
destruído, que pela estrutura do governo qualquer um que chegasse à
posição dele se corromperia bem mais do que ele se corrompeu, que eu
achava que ele seria destruído pela mídia em poucos meses e isso não
aconteceu, etc...]]
[P [Q (Marta: eu me lembro daquela época em que o "A Sociedade do
Espetáculo" sempre pipocava nas nossas conversas, e aos poucos o livro
começou a ser citado em artigos em jornais, e nós ficávamos revoltados
porque os artigos sempre eram escritos por gente com uma compreensão
do livro infinitamente mais superficial que a nossa...)]]
[P [Q As pessoas na mesa falaram que governos e empresas eram
igualmente corruptos e daninhos mas que as empresas funcionavam
melhor, que a telefonia antes e depois, etc -]]
[P [Q Acontece que eu não quero saber se celular vai funcionar melhor
ou pior, se carro isso ou aquilo, o que me importa é se os meus
sobrinhos vão conseguir estudar direito em colégios públicos, o quanto
as pessoas em torno de mim vão ter que pagar em planos de saúde, o que
elas podem conseguir depois de horas nas filas do INPS, e me importa
saber como é a vida das pessoas das favelas, com quem afinal a gente
aqui no Rio convive tanto... fodam-se os fucking winners e seus
celulares (se bem que todo mundo tem celular hoje em dia), o que me
importa é o próximo assalto, e que tantas pessoas estão deprimidas e
sem saída, umas estão tomando bolinhas, outras não, e que a Marta se
matou em novembro de 2004.]]
[P [Q (Em sonhos nós éramos como os amigos do Guy Débord, terroristas
que iam sendo inexoravelmente localizados e abatidos quase sem
estardalhaço. Mas nosso interesse por macropolítica era quase zero, já
que macropolítica é feita quase só de vícios de pensamento e de ruído,
então na vida real nós eramos só aqueles malucos incompetentes vivendo
nas bordas da sociedade, deixados pra morrer por si sós.)]]
]
[# ------------------------------------------------------------ #]
[nosection+ [Q Quinta 23/nov/2006]
[P [Q Eu não deixaria qualquer um me furar, eu não transaria com
qualquer pessoa, e são pouquíssimas as pessoas que eu gostaria de ter
ao meu lado se a gente comesse bolo de maconha ou tomasse um ácido
(nossa, há quanto tempo eu não faço nenhuma dessas coisas - muitos
meses, alguns anos, dez anos)]]
[P [Q É fácil usar o safeword e dizer "pára, não põe mais uma agulha".
Drogas são muito mais sérias - uma vez que a gente tomou, tenham
batido ou não, não dá pra reverter até tudo passar - mas as poucas
pessoas que interessam sabem disso muito bem.]]
[P [Q Onde é que estão as pessoas pra quem a gente pode dizer "essa
história de sexo não está funcionando, vamos tentar usar a energia pra
outras coisas"?]]
[P [Q Eu estou tentando me livrar de um "fantasma": uma cena que se
repete - que eu me envolvo com alguém e daqui a pouco essa pessoa me
massacra ou me troca por outra, porque pra ela sexo é uma coisa física
e simples e boa e pra mim não é -]]
[P [Q Eu fico sem saber se eu devo tentar esquecer isso e tirar a
energia desse pensamento ou se eu devo pensar mais sobre isso até
conseguir definir mais ou menos bem com palavras como essas coisas são
pra mim.]]
[P [Q No Canadá eu podia dormir com meus amigos e amigas (com amigos é
mais difícil; só quase aconteceu, mas não chegou a acontecer mesmo),
mas aqui as coisas são diferentes... Uma vez uma amiga minha daqui me
disse uma coisa que me deixou horrorizado: essa amiga minha, A, estava
namorando B mas brigou com ele; aí ela saiu com C e B ficou com muito
ciúme. Como assim, eu perguntei, e acabei descobrindo que "sair com"
quer dizer "trepar" - assustador isso, porque pra mim "dormir com"
quer dizer "dormir com", e eu fico até com medo de lembrar do que
"dormir junto" quer dizer pras pessoas normais daqui... aliás, foi
numa dessas que a Aline me agarrou e me comeu - e depois ficou se
esquivando e tirando onda e me manipulando - e isso acabou virando a
pior coisa que já me aconteceu, pior do que eu ser filho do meu pai,
pior do que a minha adolescência, pior do que eu ter sobrevivido à
minha tentativa de suicídio quando eu tinha 17 anos, que na época era
a minha única esperança.]]
]
[# ------------------------------------------------------------ #]
[yessection+ [Q Segunda 20/nov/2006]
[P [Q Aconteceu com um amigo meu:]]
[P [Q - Tá tudo bem?]
[BR] [Q - Não, tá tudo péssimo!]
[BR] [Q - Ah, mas não pode ser assim não! A gente tem que dizer que as
coisas estão bem.]
[BR] [Q - Então tá tudo bem.]
[BR] [Q - Então tá bom. Muita força pra você, qualquer coisa me liga.]
]
]
[# ------------------------------------------------------------ #]
[#
[nosection+ [Q Segunda 13/nov/2006]
[P [Q Eu morro de tesão por você, mas por favor, me deixa acreditar
que o que eu quero é algo flexível, como o que a gente tem com gatos,
que brincar com eles quer dizer uma coisa diferente a cada vez, quer
dizer descobrir o que eles estão a fim e não ser invasivo, e tem vezes
que eles nem querem que a gente chegue perto demais mas eles nos olham
de igual pra igual e isso já nos salva o dia]]
]
#]
[# ------------------------------------------------------------ #]
[nosection+ [Q Sábado 4/nov/2006]
[P [Q Da última vez que eu encontrei a pessoa X (terça, 23/outubro,
por acidente, depois de um seminário na UFF; o domingo que eu fiquei
doente foi dia 15/out) a gente conversou um bocado, e ela ficou
tentando pôr as coisas em termos de atração física e definição sexual
-]]
[P [Q Cada vez eu tenho mais raiva disso. Desde pequeno eu acho que a
gente deveria tentar não discriminar pessoas só por detalhes físicos
etc etc - ah, mas depois eu fiquei tentando pensar nesses termos da
pessoa X, nem que fosse só pra eu ter uma resposta pras próximas vezes
em que as pessoas em torno de mim começassem a conversar sobre essas
coisas (esse tipo de conversa me irrita e me frustra, quando elas
acontecem eu desligo) -]]
[P [Q Que tipo de coisa eu gosto numa transa: o espírito de "na hora a
gente vê". Algo que eu detesto e que me aterroriza: pessoas que
separam o físico do resto.]]
]
[# ------------------------------------------------------------ #]
[nosection+ [Q Quinta 2/nov/2006]
[P De [IT Diane Arbus - A Biography], pp.243-244:]
[NARROW
[P Diane would also show her contacts to Walter Silver, a
documentary photographer who lived near her in the West Village.
Diane liked his work and he liked hers. "We'd compare prints,"
Silver says, and then sometimes Diane would have coffee with him at
the Limelight, where many photographers still hung out -
photographers like Weegee, Robert Frank, and Louis Faurer. "We'd all
sit together at a big table and Diane would sit with us," Silver
adds. "She'd never say a word - she'd just listen and then suddenly
you'd look up and she'd be gone. She was the only woman who was ever
in our little group."]
[P Which was her choice, of course, but some people got the feeling
that Diane thought of photography as a man's profession. "I
remember, though, that once I mentioned that women might be better
photographers than men because women can inspire greater
confidence," John Putnam noted, "and Diane said, `Look, I'm a [IT
photographer], not a woman photographer.'"]
[P As for making a great photograph, Diane believed men and women
were equal, but she also knew that for many of her magazine
assignments she was being paid half a man would be paid and this
bothered her. Still, photographing for magazines was to only way to
survive; all the photographers she respected did magazine work. [#
Walker Evans, for example, had subsisted for years on the money he
earned from [IT Fortune]. He was contracted to do one tycoon a month
for the magazine.]]
]
[P [Q Insegurança e baixa auto-estima parecem ser território feminino
- não, não é bem isso - tem vários modos de lidar com isso, muitos
femininos, uns (poucos) masculinos]]
[P [Q ...em geral "downright losers"; as exceções a gente conta nos
dedos de uma mão, acho, e são sempre muito impressionantes e caem fora
dos padrões de gênero usuais. As que me vêm à cabeça agora
("fragilidade e lucidez ao mesmo tempo"): David Bowie no "Low"; os
irmãos Reid no "Psychocandy"; Ney Matogrosso no Secos & Molhados;
talvez o J. Mascis no Dinosaur Jr., principalmente no "Just Like
Heaven" e no "Bug" -]]
[P [Q Estou me expressando mal, mas depois eu tento de novo.]]
[P [Q Ah - eu fiz essa conexão porque às vezes eu fico pensando que
talvez eu esteja condenado a ganhar sempre metade do que os "homens"
ganham - pelo menos se eu continuar aqui no Brasil. Parece que aqui
competência não importa muito, pose e assertividade é que sim...]]
]
[# ------------------------------------------------------------ #]
[nosection+ [Q Terça 31/oct/2006]
[P [Q Dizem que pra gente viver como frila - e trabalhar em casa - a
gente precisa de uma auto-disciplina monstro, e eu não sei se eu tenho
- pelo menos não do jeito dos outros.]]
[P [Q Quando essa minha história com a pessoa X estava no seu pior
momento eu passei uma semana vivendo como um zumbi. Teve um domingo em
que eu acordei muito zonzo e espirrando muito; eu tentei fazer algo de
[#] útil no computador e nada andava, aí eu resolvi interpretar isso
como um sinal de que eu tinha que descansar e me joguei na cama. Das
poucas vezes que eu acordei eu vi que que eu mal tinha forças pra
rolar um pouco pelo chão e alcançar alguma coisa (a minha cama é um
futon, ela fica pouco acima do nível do chão), então no domingo
inteiro eu mal passei seis horas sentado ou de pé... e depois disso eu
tentei lembrar o que eu tinha feito nessa semana e não consegui - sei
que eu não perdi nenhum compromisso, sei que na terça eu dei um
seminário na UFF que foi bastante bom, sei que eu devo ter parecido
bastante normal, e sei que algumas vezes eu me via conversando comigo
mesmo sobre essa história com a pessoa X, e eu ria, porque era
estranho e engraçado eu não saber se eu estava triste ou não, aliás,
eu não saber como eu estava -]]
[# P [R http://bobdylan.com/songs/mosttime.html Bob Dylan - Most of
the Time]]
[P [R http://www.bobdylan.com/#/songs/most-of-the-time Bob Dylan -
Most of the Time]]
[P [Q Sei que durante essa semana em que eu fui um zumbi eu quase não
tive energia pra mexer num programa que eu estou fazendo como frila, e
isso me grila - os "profissionais" que eu conheço que trabalham em
profissões caretas, quase todos - digamos, os que trabalhavam comigo
na Barra - são cascas vazias sem nada dentro... e ainda por cima eu
sempre me meto em coisas que exigem um bocado de conhecimento e
dedicação, que não dá pra fazê-las banalmente -]]
[P [Q De onde é que aqueles garotos nerds do trabalho da Barra tiravam
energia pra fazer aqueles programas enormes, áridos, horríveis? De
dinheiro, kart e putas? De ficarem rindo e se chamando de viados?]]
]
[# ------------------------------------------------------------ #]
[yessection+ [Q Domingo 29/oct/2006]
[P [Q Agora a Camila se mudou de volta pra cá, dessa vez com o
namorado, que é super gente boa; a casa virou uma festa permanente, e
esse domingo foi um entra-e-sai de convidados trazendo garrafas. Eles
zanzavam entre o terraço - onde as pessoas estavam "trocando uma
idéia", whatever that means - e a cozinha.]]
[P [Q A máquina de lavar vai embora na terça. A geladeira também, mas
tem uma reserva (uma antiquíssima), e vai entrar uma nova no lugar da
que sai.]]
[P [Q Eu falei "...de volta pra cá", mas eu não estou em casa, estou
matando tempo na rua, tentando pôr as idéias no lugar e tentando lidar
com uma coisa engasgada na garganta.]]
[P [Q Acho que a minha Pepsi de 2L foi embora também - as pessoas da
cozinha fizeram alguma menção a ela logo antes de eu sair de casa pra
votar, e a Camila quer que as coisas da cozinha sejam de todo mundo.
Isso é foda, porque eu sou vegetariano (com tendências vegans fortes)
e ela é super carnívora e junkfoodívora. Ah, e eu tinha nojo das
panelas que ela deixava em cima do fogão - a frigideira de ovo frito e
a sanduicheira que eu nunca tive coragem de abrir - e daquelas cracas
em torno das bocas do fogão que um dia, na época em que ela estava
morando fora, eu levei meia hora com um bombril pra tirar 90% delas. O
forno eu só abri uma vez, pra esquentar um treco, e nessa hora eu
mantive a minha capacidade de abstração ligada no máximo, então eu não
sei como ele estava.]]
[P [Q O meu plano era usar a Pepsi pra virar a noite programando. Vou
ter que ligar pra Camila pra saber o quanto sobrou e se eu preciso
comprar outra.]]
[P [Q A noção de sujeira das pessoas é diferente, né - eu aprendi isso
no tempo em que eu morava com o Meleca, ele se preocupava com poluição
e contaminação por metais pesados e nem reparava que toda vez que ele
entrava na cozinha feito um bólido pra preparar alguma coisa voavam
pedacinhos pra todo lado, e eles ficavam no chão. Isso me desesperava,
eu costumava andar descalço em casa e o Meleca nessa época estava
sempre com um pijama branco encardido e chinelos de sola de sisal - e
pressa, muita pressa, pra tentar disfarçar a depressão - então ele
passava pela cozinha super rápido e sem atenção e logo voltava pro
quarto dele pra fumar mais skank. Como eu não sabia o que fazer com
isso eu passei a deixar as minhas havaianas perto da cozinha e eu só
usava elas pra entrar lá.]]
[P [Q A minha noção de sujeira e a do Tião são super compatíveis.
Nesses tempos de Camila fora nós mantivemos a cozinha e o banheiro bem
usáveis, mas a gente deixava a poeira no chão da sala (a "Sala da
Camila") no lugar até nos incomodar - tipo três semanas -, mas isso
era uma brincadeira e um gesto de liberdade.]]
]
[# ------------------------------------------------------------ #]
[yessection+ [Q Sábado 28/oct/2006]
[P [Q Acabou. Aliás, já acabou há semanas, e cada vez que eu tento
escrever sobre isso sai algo totalmente diferente.]]
[P [Q A pessoa X acabou comigo porque ela descobriu que gosta de
mulheres (e o meu corpo é masculino, né; do resto a pessoa X (diz que)
não tem queixas, muito pelo contrário - melhor que a Cláudia, que
acabou comigo porque queria um homem de verdade), e há meses atrás a
pessoa X rechaçou uma amiga apaixonada por ela porque ela (X) gostava
de homens.]]
[P [Q Obs: claro que isso é a minha versão da história, e a minha
versão já mudou várias vezes, e memórias são mais legais que
fotografias porque fotografias ficam iguais com o tempo e memórias a
gente pode distorcer à vontade... e as coisas que eu escrevi sobre
isso antes eram ruins e chatas, e problemas têm que ser interessantes
e divertidos, senão eles afastam as pessoas.]]
[P [Q Quando eu era adolescente o meu cabelo era um Black Power
gigantesco. Ele afastava algumas pessoas - quase sempre as pessoas de
quem eu queria distância - e fazia outras pessoas (legais) se
aproximarem.]]
[P [Q Pessoas vestidas de problemas]]
[br]
[P [Q Ouvindo: Furtwängler, 9ª de Beethoven, gravação de 1942 com a
Filarmônica de Berlim.]]
[P [Q Lendo: Diane Arbus - A Biography (Patricia Bosworth)]]
]
[# ------------------------------------------------------------ #]
[yessection+ [Q Terça 24/oct/2006]
[P [Q Má-formação congênita, problemas hormonais graves -]]
[P [Q Eu tenho esse blog há quase um ano e ainda não consegui escrever
nada sobre isso]]
]
[# ------------------------------------------------------------ #]
[yessection+ [Q Sexta 13/oct/2006]
[P [Q Ele me deu a mão pra eu cheirar e eu pensei: "será que ele andou
caçando perto das bromélias?" - apesar do cheiro ser um pouco
diferente -]]
[P [Q Aí ele fez festinha em mim. Ele era fofo.]]
[br]
[P [Q Me mostra o que você sabe fazer com luvas de látex e um balde de
astroglide.]]
]
[# ------------------------------------------------------------ #]
[yessection+ [Q Quinta 12/oct/2006]
[P [Q Idéia para um cartaz pra ser colado no poste na base da
escadaria:]]
[br]
[NARROW [P
[Q Qual é a função desses policiais da escadaria?]
[BR] [Q É tirarem dinheiro de gente inocente?]
[BR] [Q Eu estou cansado de ter medo e raiva toda vez que eu subo
essa escada.]
[BR] [Q Quero ser "protegido" por gente decente.]
[BR]
[BR] [Q (Que vergonha precisar de um cartaz anônimo pra dizer isto)]
]]
]
[# ------------------------------------------------------------ #]
[nosection+ [Q Quarta 9/aug/2006]
[P [Q Passei pela casa dos meus pais e vi os dois se desvanecendo
juntos.]]
[P [Q Às vezes eu penso, como seria bom se a guerra em que nós vivemos
fosse mais explícita e as nossas velhices e mortes fossem mais dignas,
interessantes e coloridas.]]
[P [Q Eu queria o meu "Malone Morre" de volta. Será que eu o emprestei
pra alguém - e anotei pra quem - na época em que eu me mudei pra um
lugar menor e resolvi que os meus livros precisavam circular?]]
[P [Q A Zedka tem um exemplar, de qualquer modo.]]
[br]
[P [Q Antigamente o Beckett era só um escritor fodão e um Prêmio Nobel
bem dado. De um ou dois anos pra cá eu tenho ouvido cada vez mais
gente se referindo a ele como alguém fundamental, a oitava maravilha
do mundo, que bom que nós temos Beckett. O que houve? Eu lembro de ter
ficado muito perturbado por "Rockaby", mas tenho lembranças vagas do
resto (comprei vários livros dele numa viagem à França quando eu tinha
15 ou 16 anos), e nunca li o Godot direito.]]
[P [Q Será que essas pessoas consideram que o Beckett encontrou uma
chave pra entender o mundo de hoje?]]
[br]
[P [Q No Congresso Vegetariano tinha algumas dessas pessoas de 80 e
poucos anos super ágeis, super vitais, com vozes claras e sem vibrato.
Elas atribuem a saúde delas à alimentação (são crudívoras, em geral),
mas as pessoas da família delas dizem que não é possível, que é uma
questão de genes.]]
[P [Q É meio antipático a gente ficar dizendo pras pessoas passarem a
comer coisas que elas não conseguem comer de jeito nenhum.]]
[P [Q Acho que a grande questão é: porque é que algumas pessoas se
dispõem a mudar de alimentação e a terem hábitos mais saudáveis (e a
tomarem o controle das suas vidas nas suas próprias mãos) e outras
não?]]
[P [Q E a geladeira da minha mãe cheia de queijos e frios. E eu não
posso fazer nada. Eu entendo as razões dela.]]
]
[# ------------------------------------------------------------ #]
[nosection+ [Q Domingo 6/aug/2006]
[P [Q Taxista filho da puta, quando eu perguntei na rodoviária se era
táxi normal ele explicou com mumbling words e risadinhas de carioca
gente boa que "brxstlpqtlhmqsz 3 reais", e eu achei que no máximo era
3 reais a mais em cima da bandeirada - aí chegando aqui defronte de
casa ele fez uma conta mágica em cima da quilometragem e a corrida deu
R$29,70 ao invés de pouco mais de R$15... eu fiquei horrorizado,
reclamei, quis os meus R$0,30 de troco (preu não ir dormir me sentindo
tão roubado), o cara não tinha, e eu disse que então eu ia deixar as
mochilas em casa e a gente descia e rodava até conseguir trocar uma
nota de R$10 e depois eu voltava a pé...]]
[P [Q Aí eu acabei cedendo, deixando o cara com R$30 mesmo, saindo do
carro num puta mau humor e pensando em fazer o que eu pudesse - e que
não desse muito trabalho - pra que nenhum conhecido meu nunca mais
pegasse esses táxis de cooperativas que cobram quase o dobro dos táxis
normais, mesmo sendo amarelinhos e iguais aos outros.]]
[P [Q Tou escrevendo isso com um restinho de raiva - o meu default é
esquecer e agir como se eu não tivesse direito nenhum - como se eu
fosse ainda mais negro e não-consumidor do que eu sou.]]
]
[# ------------------------------------------------------------ #]
[yessection+ [Q Sábado 22/jul/2006]
[P !!]
]
[# ------------------------------------------------------------ #]
[nosection+ [Q Domingo 16/jul/2006]
[P [Q A Bianca disse "você vai no congresso vegetariano em São Paulo,
né?!" meio como se fosse uma ordem, e eu adorei isso - em 5 minutos eu
já tinha decidido que ia.]]
[P [Q Ontem eu conversei bastante com a minha mãe - acho que está na
hora dela ficar sabendo de algumas Coisas Muito Importantes, por mais
que não façam sentido pra ela num primeiro momento (ou nunca), e por
mais que durante anos ela tenha dito que preferia não saber - aliás,
que "tinha o direito de não saber". É hora de forçar a barra e
desfazer bichos de sete cabeças.]]
[P [Q Talvez tenha sido essa conversa com a minha mãe que me fez
pensar uma determinada coisa quando a Bianca me falou do Congresso
Vegetariano... Deixa eu transcrever um trecho de um e-mail que eu
mandei em 24 de junho:]]
[NARROW
[P [Q Eu 95 ou 96 eu caí no meio do Primeiro Seminário Nacional de
Lésbicas (é sim -- longa história) e lá eu aprendi MUITAS coisas
muito importantes... numa das primeiras palestras que eu assisti a
palestrante estava falando sobre como as lésbicas são invisíveis
mesmo no meio do movimento feminista, elas participam pra caramba,
carregam as coisas, fazem o trabalho pesado, dormem (e tarará etc
etc) com as feministas, e aí quando elas se inscrevem pra falar nas
plenárias alguma coisa acontece e o tempo sempre acaba antes da vez
delas chegar. Bom, pra resumir muito, os gays que eu conhecia
estavam falando sobre sexo e festa, os heteros como sempre falavam
sobre mulher, política e futebol, e logo nos primeiros minutos da
primeira palestra em que eu fui no seminário eu vi que as pessoas de
lá estavam falando sobre visibilidade e auto-estima... Baraaaalho!]]
[P [Q Bom, tudo isso pra contar que eu ando fazendo coisas loucas de
vez em quando, cada vez mais, aliás, e com uma atitude de quem tem
muito pouco pra perder e de quem já não tá mais ligando muito pra se
vai ser entendido ou não, porque muita gente por aí resolveu não
pensar e não entender e ficar só desprezando tudo, e não dá mais pra
ficar esperando que essas pessoas me entendam e me respeitem, tá na
hora de forçar umas barras. E as estratégias que funcionam quando a
gente é uma minoria de um são muito diferentes das de quando a gente
[J] é parte de um grupo grande.]]
[P [Q Eu tou com isso tudo muito presente na cabeça agora porque há
duas semanas atrás eu quase esganei um garoto (20 anos) amigo de uns
amigos meus que são vegetarianos militantes... ele passou horas
descarregando uma raiva inexplicável em todas as direções, e quando
ele falou que tinham que matar drogados, aleijados, débeis mentais,
gays e todas as pessoas que fossem inúteis pra sociedade eu achei
que eu não tinha nada que ficar me controlando e era melhor deixar
as minhas raivas e rancores fluírem...]]
]
[P [Q Lá no congresso vai ter muitos vegetarianos muito chatos, mas
alguns gatérrimos. Lá vou eu, carregar coisas, fazer a minha melhor
cara de roadie invisível, me divertir à beça e ver o que acontece.]]
[P [Q Estou ficando incoerente com o meu próprio discurso reclamão -
isso é ótimo.]]
]
[# ------------------------------------------------------------ #]
[yessection+ [Q Quinta 6/jul/2006]
[P [Q Eu vi ela cantando bem baixo uma música do "Pornography" do The
Cure como quem entoa uma maldição]]
]
[# ------------------------------------------------------------ #]
[nosection+ [Q Sábado 17/jun/2006]
[P [Q Há vários anos atrás eu assisti uma exposição do Mestre Vitalino
no CCCB. Os bonequinhos eram toscos mas muito expressivos, e muitos
deles tinham sido emprestados por museus do Japão e da Alemanha. A
exposição estava lotada. De repente eu me toquei que os personagens
que eram retratados nas esculturinhas - barbeiros, dentistas,
cavaleiros, famílias, noivos, criadores de animais, sempre coisas
cotidianas assim - tinham se reconhecido nos bonequinhos, e tinham
conversado com o Vitalino; alguma transformação estava acontecendo na
vida daquelas pessoas e daquele lugar, parecia que antes era só aqui e
agora, dia após dia, num lugar nenhum, e o máximo que as pessoas
podiam ter eram memórias e histórias, e talvez algumas fotos - e de
repente elas são algo mais, o que elas vivem também pode virar
esculturas, não sei explicar - e não era um caso de artista solitário,
como o que a gente costuma ver - tinha algo muito grande acontecendo
ali. Aí eu tive um ataque de choro totalmente incontrolável no meio da
exposição, e tive que ir correndo me esconder num canto - era uma
época em que eu não chorava nunca, nem escondido.]]
[P [Q Do meu caderno principal (o vermelho), escrito em 1987:]]
[P [Q Aí o choro foi aumentando e eu soltei a voz e saiu uma voz
grossa e feia e eu me calei outra vez.]]
]
[# ------------------------------------------------------------ #]
[nosection+ [Q Quinta 1º/jun/2006]
[P [Q Quando eu era pequeno eu fiz vários anos de psicoterapia com um
cara que hoje em dia eu considero como um imbecil. Acho que não faz
sentido omitir o nome dele, então lá vai: Mário Romaguera. Vai que
algum dia alguém se dispõe a furar os pneus do carro dele, sei lá...
antes tarde do que nunca.]]
[P [Q Eu tinha alguns assuntos espinhosos que eu queria poder abordar
na terapia, mas eu não conseguia falar deles diretamente - a gente não
fala qualquer coisa pra qualquer um - então eu tentava dar deixas. Eu
esperava que ele entendesse minimamente o que eu dizia e fizesse as
perguntas certas.]]
[P [Q Se eu percebesse que o que eu sentia era algo que ele conhecesse
aí eu prosseguiria - aliás não é só que eu estivesse fazendo doce,
também tem uma questão de linguagem... se a gente quer contar uma
coisa X o modo de contar vai ser um quando a coisa é familiar pra
pessoa com quem a gente está conversando, outro quando a coisa é
totalmente nova mas a pessoa fica interessada, outro quando é nova e a
pessoa fica meio horrorizada e meio defensiva, outro quando ela não
entende de jeito nenhum... e o Mário, talvez por algum princípio
profissional que ele provavelmente entendeu errado, era sempre casual
e neutro, e é difícil a gente contar coisas que são super pesadas
nessas condições - e mesmo assim durante anos eu tentei.]]
[P [Q Eu só lembrei disso (e resolvi escrever algo sobre) porque me
lembrei da imagem do labirinto. Podemos não ter grandes segredos, mas
nem tudo o que temos está imediatamente à vista, se alguém quiser
saber mais vai ter que andar dentro da gente um pouco, tentar vários
caminhos,]]
[P [Q (incompleto - na verdade eu ia começar daí e falar sobre
relacionamentos)]]
]
[# ------------------------------------------------------------ #]
]
[# «rrj4» (to ".rrj4")
# (find-TH "rrj4")
#]
[REVERSE
[# ------------------------------------------------------------ #]
[nosection+ [Q Segunda 17/jul/2007]
[NARROW [P XVII.
[BR] As the master of the day
[BR] is Anna Xenia
[BR] the master of the night
[BR]
[BR] is dread.
[BR]
[BR] I position myself.
[BR] It fills up the room.]]
[P Pit-boys na van conversando sobre porrada. Amigos ganhando
pouquíssimo como sempre. A cidade cheia de policiais por causa do
Pan.]
[P Hoje eu tive vergonha de mim mesmo, e raiva, e fiquei pensando
sobre como essas coisas ficam voltando sempre, e como o maior motivo
de eu tentar ser correto é ficar a salvo dos pesadelos.]
[P Passei os últimos dias trabalhando bastante, e encontrando soluções
simples e incríveis. Aí eu hoje fui comer no Beterraba, descabelado,
com a pele ruim por causa de coisas que eu comi ontem, e com a barba
por fazer. No caminho tinha espelhos, e quando eu me olhava no espelho
era horrível, era como ver uma batalha perdida. Eu lembrava as pessoas
em quem a polícia bate (ou mata e depois diz que era bandido), as
pessoas que aguentam trabalhos horríveis - como aquele que eu tive
perto da Praça XV, que pechinchou comigo de um modo pra lá de ofensivo
e violava alegremente todos os acordos verbais.]
[P Tem pessoas que quando eu vejo eu penso "que pessoa bonita",
exatamente do mesmo modo como eu acho cachorros e gatos bonitos e
fascinantes - e se algum dia eu for me aproximar de alguma dessas
pessoas eu vou dizer algo simpático e não-invasivo, pra elas não se
assustarem. Mas tem outras pessoas bonitas que que eu olho durante um
instante e só tenho uma inveja que já é quase raiva. Parece que elas
nunca saíram das torres de marfim, e sempre souberam que alguém
cuidaria delas, mesmo se durante alguns períodos elas tivessem
trabalhos-lixo que pagassem pouquíssimo; uma vez por semana elas iriam
a festas e seriam vistas e admiradas e teriam valor.]
[P Quando eu me olho no espelho eu vejo que eu tenho uma cara que
pouca gente entende. Aliás, quando eu olho rápido quando eu estou
muito esculhambado nem eu próprio entendo a minha cara. Eu pareço um
caixote salvo de um naufrágio.]
[br]
[P A minha mãe tem duas mães. Tem a minha Avó Estelionatária e tem uma
outra, a "mãe boa", que ela pode passar meses sem mencionar em
conversas, mas que é uma das grandes referências dela (acho que é uma
vergonha a gente ter uma mãe "de verdade" que dá golpe em todo mundo e
a gente ter elegido uma mãe de criação que é uma criatura totalmente
de fora das torres de marfim). A mãe boa dela está morrendo. A outra
ainda vai durar muito, e ela aproveita os momentos em que é tratada
como pobre velhinha pra empurrar documentos falsificados.]
[P Eu comecei a escrever um e-mail enorme pro Sebastião, mas ainda não
consegui terminar. Era sobre imortalidade, principalmente. Eu andei
ouvindo muito Elastica - o segundo disco e as Peel Sessions - e Au
Pairs, e Cat Power, e lendo Henry Miller (Trópico de Capricórnio) e os
diários da Anaïs Nin. A minha grande questão é o que fazer com a
raiva, e com essa sensação de sermos tão descartáveis.]
[P Quando eu vejo notícias sobre policiais mortos eu fico feliz e
sorrio de orelha a orelha. Não tenho mais ouvido histórias sobre
cabeças cortadas e espetadas em estacas, mas eu achava isso lindo - eu
faria.]
[P É muito ruim viver dentro de pesadelos. A gente tem que fazer algo
com eles.]
[P A coisa com que é mais difícil lidar é com a impunidade. É bom
saber que pessoas que são trapaceiras, violentas e estúpidas um dia
vão se ferrar, de algum modo que é conseqüência direta do
comportamento delas.]
[P Os traficantes matam policiais às vezes. "Bandidos" às vezes
assaltam as pessoas que têm carros. Pit-boys se quebram uns aos
outros. Preibóis batem com seus carros nas árvores. A vida aqui é
selvagem mas (quase) digna.]
[P Comprei um livro sobre Lampião.]
]
[# ------------------------------------------------------------ #]
[nosection+ [Q Domingo 10/jun/2007]
[P Foi preciso que as plantas morressem para que]
]
[# ------------------------------------------------------------ #]
[nosection+ [Q Quarta 30/mai/2007]
[P Teve um dia que eu estava no dentista e ele viu que além das cáries
"normais" - que acho que eram sete - eu tinha duas que iam precisar de
um tratamento de canal - e eu não tinha dinheiro nem pra pagar aquela
consulta, eu ia ter que pedir emprestado pros meus pais e pagar na
consulta da semana seguinte...]
[P Eu não queria ir na dentista que era minha dentista desde que eu
era criança porque ela ia ficar contando de todos os "garotos" da
minha idade que são parentes dela e da minha madrasta ("madrasta"? A
mãe da minha meio-irmã por parte de pai, que é 6 anos mais velha que
eu) - e todos esses, hm, garotos, estão super bem de vida, viajam pra
cá e pra lá, têm carros e mulheres/namoradas/filhos, se casam dando
mega-festas (caceta, e eu nem namoro, há três anos atrás a mulher que
eu achei que era o homem da minha vida me chutou porque eu era um
estudante descabelado e pé-rapado - bom, whatever) - e aí ela ia
contar essas histórias, olhando pra mim com cara de "e você, Eduardo?"
e eu ia ficar constrangido, com vergonha de ser quem sou, de boca
aberta ("agora abre bem grande"), dizendo "arrã, arrã -"]
[#
[br]
[P Fiz vários contatos nesse tempo, pra possíveis trabalhos - e as
pessoas me perguntavam, "o que você está fazendo agora? Você está
disponível?", e eu respondia, "olha, eu tou num trabalho que me dá um
certo tempo tempo livre e que eu tou adorando, mas nele eu ganho
exatamento o suficiente pra pagar as minhas contas muito básicas sem
sobra nenhuma, não tou podendo nem pensar em comprar uma caixa de
comprimidos de vitamina C no final do mês, ou um cinema ou um livro,
quanto mais uma consulta com a homeopata ou o dentista - tá foda" -]
[P O ideal mesmo seria alguma espécie de bico no qual eu pudesse
trabalhar nas noites e fins-de-semana, e que me permitisse continuar
no meu trabalho até eu ser aumentado - o que, ao que parece, ainda
vai demorar bastante -]
#]
]
[# ------------------------------------------------------------ #]
[nosection+ [Q Terça 29/mai/2007]
[P Ele pechinchou demais, na hora errada. A minha boa vontade foi pro
brejo. Ele quebrou o brinquedo.]
]
[# ------------------------------------------------------------ #]
[nosection+ [Q Segunda 5/mar/2007]
[P São pessoas que se eu for estuprado de novo vão dizer que
queísso, tudo é lindo, não se apega a sentimentos ruins não.]
[P [Q Minha casa foi invadida por pessoas assim. Tá bom, não tanto;
mas alguns amigos de pessoas que eu alojei são assim.]]
[P [Q Se o João aparecer aqui de novo eu vou cobrir ele de porrada.
Não me interessa se ele vai entender ou não - eu não posso ficar
paralisado só porque ele não entende nada.]]
[P [Q Ele acha que tudo o que não se parece com as meditações dele é
coisa de gente inferior.]]
[P [Q Ele é parecido com o meu pai - só que pro meu pai as únicas
coisas que existem são as engenheirices dele e os noticiários e a
economia.]]
[P [Q Quando o João estiver encurralado num canto apanhando e
apanhando talvez ele veja que quando alguma coisa dói nem sempre basta
meditar e dizer que que lindo, a dor não existe, nada existe a não ser
o infinito amor divino - às vezes é hora de fazer algo de concreto,
usando mãos e pernas e braços e cotovelos, protegendo narizes. Talvez
um dia, daqui a anos, ele entenda que dor e ódio existem porque a
gente também tem que cuidar de um corpo físico que não é uma linda
alma imortal perfeita e cheia de luz. E que enquanto ele se cerca
dessas pessoas sorridentes e espiritualizadas que nunca dizem algo que
[#] é duro e que dói, porque afinal cada um tem o seu processo e a
gente não pode interferir (e, fucking amazing, sic: "ninguém diz nada
pra ninguém, as pessoas só ouvem e entendem e mudam quando chega a
hora de ouvir e entender") - que na verdade ele está cercado de
pessoas omissas.]]
[P [Q Eu vi a minha sala cheia daqueles hippieóides beatíficos e
sorridentes abençoando a comida de olhos fechados e eu fiquei muito
constrangido e angustiado.]]
[P [Q No dia seguinte eu passei mal. Prefiro "acreditar" na hipótese
mais engraçada que eu consegui arranjar: que eu passei mal porque não
abençoei a comida e aí ela não desceu nada bem.]]
[P [Q A minha sala estava cheia de mortos-vivos e eu não consegui
fazer nada.]]
]
[# ------------------------------------------------------------ #]
]
[# «rrj5» (to ".rrj5")
# (find-TH "rrj5")
#]
[REVERSE
[# ------------------------------------------------------------ #]
[nosection+ [Q Segunda 06/aug/2007]
[P Eu decidi me aproximar e fazer algo - e eu o tempo inteiro pensei: "eu
quero ser responsável pelo que estou fazendo; eu vou lidar com as
conseqüências e as dificuldades".]
[P Eu fiz tudo com muita atenção.]
[P Eu olhei muito para a forma, a cor, cada detalhe. Deixei a mente
aberta. Cuidei dos galhos e folhas, podei algumas partes fracas e
mortas que seria melhor tirar. Comi algumas das frutas, porque achei
que era um modo natural de fazer com que a árvore se misturasse comigo
e passasse a ser parte de mim. Mas eu lidei muito pouco com raízes até
hoje, e não consigo visualizá-las direito. Eu sabia disso, e talvez a
[#] árvore soubesse também. E nós aceitamos o jogo.]
[P Agora os espíritos das raízes vêm me dar tapas nas orelhas. É
justo. Mas eu preciso ouví-los. Preciso que eles falem comigo. E eu
preciso que eles me ajudem a abrir minha visão.]
]
[# ------------------------------------------------------------ #]
[nosection+ [Q Domingo 05/aug/2007]
[P O príncipe encantado é alguém que me entende mesmo quando eu estou
paralisado. [BR] Ele sabe lidar com coisas que as pessoas fingem aos gritos
que não existem. [BR] Ele corta caminho e avança por cima de convenções
mortas e inúteis. [BR] Ele me bate do jeito certo, e me liberta.]
]
[# ------------------------------------------------------------ #]
]
[# «rrj6» (to ".rrj6")
# (find-TH "rrj6")
#]
[REVERSE
[# ------------------------------------------------------------ #]
[nosection+ [Q Domingo 30/sep/2007]
[CHAT
[me: (isso que eu tou falando tá me ocorrendo agora)]
[+ tá - vou te usar como personagem - eu não assisti a cena, mas
acho que eu vou acertar]
[+ um professor tá falando sobre Al Berto e te pede pra ler uma
coisa dele em voz alta]
[+ e depois de você ter lido os alunos estao pasmos e enlouquecidos,
como o Robespierre e o outro cara depois que o Orfeu e as cabeças
cortadas cantaram]
[+ não bastava o texto em si]
[Tatiana: entendi]
[me: quando as pessoas olharam pra você lendo aquilo elas viram verdade]
[+ um nível de verdade que elas podem passar anos sem lembrar que existe]
[+ todas as associações que elas fazem naquele momento em que você
está lendo o Al Berto se conectam]
[+ elas pensam sobre porque você é arredia e calada e séria]
[+ elas pensam sobre os poetas de bar]
[+ elas comparam tudo]
[+ tudo faz sentido]
[+ e o "sentido" usual que elas estão acostumadas a dar às coisas
fica tão frágil e patético que elas não conseguem desgrudar a
atenção de você]
[Tatiana: eu enxergo isso quando você fala da Anaïs ou de como é
intensa aquela gravação do Joy Division, quando a R. finge que
não se encantou pelo Vergílio Ferreira, mas por exemplo, até vejo
isso no Tião quando ele fala raras coisas sobre o Jorge de Sena.]
[me: sem contar que de repente o silêncio faz sentido tambem, e as
pessoas começam a ver que é muito mais intenso ouvir (e focar no
que elas estão vendo e ouvindo, imaginar) do que a performance
usual cotidiana delas, o jogo de respostas certas na hora certa,
as conversas no corredor, a hierarquia social das Raquéis e
Maffeis]
[+ sim - e a impressão que eu tenho é que a gente (talvez esse a
gente seja um "a gente" pequeno - nós dois certamente, e algumas
outras pessoas) quer, e TEM, que manter contato com essa
intensidade, que pra maior parte das pessoas parece
enlouquecedora]
[+ nossos bons trabalhos, e até nossas melhores reações cotidianas,
gestos, respostas, vêm de nós estarmos conectados com essa
energia e com essa verdade]
]
]
[# ------------------------------------------------------------ #]
[nosection+ [Q Quarta 5/sep/2007]
[P O que me ficou na cabeca sobre o Thermidor esse tempo todo não foi
tanto a história em si, ou a técnica de contá-la - mas eu fiquei me
fazendo perguntas a respeito da história como as perguntas que a gente
faz a respeito de mitos... por exemplo: o que é a técnica do Orfeu de
cantar daquele jeito? O que é que fez com que os mortos cantassem
junto com ele? Algumas vezes eu já assisti espetáculos que faziam com
que todo o resto ficasse irrelevante; durante meses nada mais do que
eu via tinha um décimo da intensidade ou da realidade daquele
espetáculo... por exemplo, acho que as três coisas mais fortes que já
me aconteceram foram a primeira vez em que eu tomei Daime, a vez que
eu tomei LSD, e o show do Iggy Pop... Como é que alguem vira o Iggy
Pop? Porque é que 3000 depois as pessoas ainda falam de quando o Orfeu
desceu ao Hades? Porque é que (pequena forçação de barra aqui) 220
anos depois as pessoas ainda falam de quando Orfeu cantou no depósito
de cabeças? Porque é que as pessoas contam essas histórias, e como é
que elas evocam a cena original? Qual é o mecanismo? A gente precisa
disso.]
[br]
[P ...e mais outra coisas menores... como é que ele sabe que o brinco
vai voltar pra ele? O que é que o Sandman tinha pra oferecer para a
Lady Joanna Constantine? Porque é que eles nem precisavam colocar
aquilo em palavras? E claro que isso não são questões abstratas pra
mim; à medida que eu consigo funcionar melhor dentro de uma certa
linguagem que no mundo atual é rara, de um outro nível de percepções e
certezas, eu sei que eu vou conseguir me posicionar melhor dentro de
situações que viraram grandes pesadelos: a Aline me transformando num
monstro canalha que devia rastejar aos pés dela, o meu pai me
transformando num não-sei-o-quê, os grupos de engenheiróides com
mentalidade de pit-boys com os quais às vezes a gente vai ter que
conviver em alguma situação de estudo ou de trabalho.]
]
[# ------------------------------------------------------------ #]
]
[# «rrj7» (to ".rrj7")
# (find-TH "rrj7")
#]
[REVERSE
[# ------------------------------------------------------------ #]
[nosection+ [Q Domingo 13/jan/2008]
[NARROW
[P Raça de Ferro
[BR]
[BR] Antes não estivesse eu entre os homens da quinta raça,
[BR] Mais cedo tivesse morrido ou nascido depois.
[BR] Pois agora é a raça de ferro e nunca durante o dia
[BR] Cessarão de labutar e penar e nem à noite de se
[BR] destruir; e árduas angústias os deuses lhes darão.
[BR] Entretanto a esses males bens estarão misturados.
[BR] Também esta raça de homens mortais Zeus destruirá,
]]
[P Encontrei. Depois de anos procurando - está num número do Sandman
desenhado pelo Milo Manara -]
[NARROW [P "Eu podia tocar o desejo deles como se fosse uma [IT
harpa]".]]
[br]
[P Ninguém mais vai me violar. Eu já disse isso pra você. Isso é muito
fundo, está além do que pode ser acessado por negociações, pedidos,
ameaças, facadas, doenças, mortes.]
[NARROW [P "Então acabou -"]]
[P Você já disse isso pra mim. E quando você disse eu fiquei pasmo.
Você perdeu pontos - muitos. Eu achava que nós tínhamos a mesma noção
de relacionamentos. Os relacionamentos que interessam estão muito mais
fundo do que as palavras alcançam. Se nós estávamos discutindo
palavrinhas - "acabou", "não acabou" - então é porque aconteceu algo
de muito grave - sei lá, a pessoa com quem eu me envolvi (que parecia
tão sólida) se perdeu -]
[P Eu disse que sexo era complicado. Eu sabia. As pessoas não sabem,
em geral. Elas se perdem - mesmo as pessoas que interessam, que mais
ou menos sabem onde estão e o que fazem. É como LSD tomado a sério. A
gente só sabe que no dia seguinte nós vamos estar num lugar muito
diferente - vamos ser pessoas bem diferentes do que éramos, com outros
olhares. E às vezes, com as pessoas certas, a gente arrisca.]
[br]
[P Tem coisas que eu falei, ou fiz, que você já disse que nunca vai
perdoar. Ótimo - porque isso é sinal de que você sabe que não adianta
a gente gastar um monte de energia com pequenas fofuras para mendigar
pequenos perdões.]
[P Quando eu era adolescente as pessoas estavam aprendendo a se pegar
- e eu ficava de fora. Você também ficou de fora, por motivos meio
diferentes, meio parecidos com os meus. As meninas tinham o poder de
fascinar - como eu queria que bastasse eu dar mole pras pessoas que me
interessavam pra que algo acontecesse - eu tentei, algumas vezes -]
[P Hoje em dia nós temos temas muito grandes, muito urgentes, e
estamos tentando lidar com eles do modo mais honesto possível.]
[P Quando o ruído passar o jogo (o de verdade) vai poder começar outra
vez. Até lá -]
[br]
[P Você já disse - discretamente, mais para si - que gostaria que eu
te visse como um corpo às vezes. Que isso faz falta. Desculpe (você
sabe) - o meu corpo não existe mais, não é mais um corpo - é um
instrumento -]
]
[# ------------------------------------------------------------ #]
]
]
[#
http://www.cs.umbc.edu/~evans/hollow.html
#]
[#
# Local Variables:
# coding: raw-text-unix
# modes: (fundamental-mode blogme-mode)
# End:
#]