Como uma virgem que espera ser deflorada, a Irlanda esperou ser invadida pelos romanos. Mas terminou a noite e os romanos não vieram. Então ela fechou-se dentro de si mesma, com suas cidades e seu gaélico, nenhuma voz se levantara para perguntar "mas que que nós temos pior do que os outros?" e a culpa calada, junta com um céu cinzento, fizeram um país feio e triste. (1987) "O que há de errado comigo?" Míope, os olhos colados no espelho (1993, ou 94 ou 95) Enquanto o vento brinca com os cabelos da menina do poema eu sonho com tatuagens e agulhas que me varam a pele e me fazem esquecer que os meus cabelos não esvoaçam com vento nenhum Foi de tanto pensar que eles ficaram assim (Eu sou mau porque meu cabelo é ruim) (idem: 1993/94/95) ------> t3 (95oct26?) E então, um dia, no banheiro, eu senti que a personalidade nova que eu vinha preparando e guardando naquele ponto quatro dedos abaixo do umbigo não podia mais continuar dentro de mim, não me lembro porquê; ou porque eu estava secando e eu sabia que qualquer coisa que crescesse dentro de mim seria monstruosa, ou porquê ela não recebia mais a energia que precisava pra continuar ali e estava morrendo, ou sendo expelida, sei lá. E aí eu vi: eu era como a terra do Nordeste na seca, secando sob o céu cor-de-laranja e rachando, e, caindo pra fora do chão pela rachadura, um bebê preto de tão escurecido, com olhos de quem já sabe de tudo e já viu de tudo, porquê sofreu durante mil anos; e que sabe que se passou por tudo aquilo e não morreu, é porque não morre mais; pelo menos não durante muitos outros mil anos. Durante mais ou menos um ano eu sempre lembrava dessa imagem com uma nitidez incrível. Olhando pra mim com olhos mais fortes que todas as pessoas normais. Depois eu fui esquecendo dela aos poucos, esquecendo, esquecendo, esqueci. Adeus, aborto. Adeus. ------> scream4 entre o grito, o soluço, a raiva, a calma e a lucidez ele disse "vá pro sofá, eu não quero no meio da noite me pegar te implorando uma migalha de afeto, não quero dormir do lado de alguém que pode ter nojo de mim, me deixe dormir abraçado com meu travesseiro, como eu fazia quando eu morava sozinho". (ah, se os lençóis não tivessem um pouco do seu cheiro) não volte, não insista, não tente, isto já está complicado demais, não quero nem ver a sua cara me vendo como um idiota patético, seu silêncio valendo como a última palavra e me arrasando mais (mas isso na imaginação, no mundo que eu acho que é de verdade ela se comove com isso e negocia comigo um jeito de ficar perto em que eu me sinta seguro, ela ama o outro e acha que o futuro é lá, mas vivemos coisas tão importantes, vamos tentar terminar bem, espremer as últimas gotas daquilo que havia de perfeito entre nós, pra ver se a gente não sai se arrastando, chorando e urrando pelas ruas) (feito alguém que perdeu alguma coisa muito importante) Mas na realidade tudo é tão mais complicado. somos um em plano astral e nos dilaceramos num plano imaginário e as unhas que arrancavam trilhas no gesso da parede viram as unhas que coçam delicada e lentamente o lençol do colchão enquanto o outro monta em nossas costas. Como lagartos. 24 de novembro de 1995 ------> 96mar09 Você não percebe que eu preciso de você? Eu não posso dizer isso Eu morro à míngua ------> 96mar11 de dia lutaremos como aliados de noite nos renderemos um ao outro ------> 96mar22 Se eu tivesse que trocar todos os meus amigos por você eu hesitaria mas Eduardo Ochs eduardoochs@gmail.com http://angg.twu.net/p.txt