21/6/96

Estou de cama há 10 dias

1h da manhã

 

Depois de ages em busca daquele amor especial, que daria sentido à minha existência e a tornaria artística, parece que consegui algo. Eu sou especial. O sentimento ao qual almejo está dentro da minha cabeça. Então, para que ela se materialize é apenas necessário que eu me torne naquilo que almejo.

 

Durante a era Punk eu realmente vivia num mundo violento e opressor. Agora eu quero um mundo de sentimentos simples e enaltecedores, e um amor franco e verdadeiro.

 

Eu sempre olho para trás com nostalgia, sentindo que o que quero é algo há muito conhecido, e tenho a sensação de já ter passado por situações que evocaram esse sentimento anteriormente. Mas só posso me lembrar de uma situação em que esse sentimento foi completo: a ficada com a Cristiane, antes de ela pegar o ônibus, no ponto. Nós dois abraçados, sem aquela pressa em se beijar e ter certeza de que está acontecendo, mas tranqüilamente sentindo e expressando ternura e alegria. Foi lindo. Durou minutos. Eu tinha 18 anos.

 

Algo semelhante: O final de um dia na casa da Liana, com uns 12 anos. Eu me divertindo horrores com a irmã da Liana, e alguém diz que nós devíamos casar. Eu estou tão seguro que ela também está gostando de estar comigo, que não fiquei envergonhado, mas feliz, pois nem eu nem ela expressamos a menor contrariedade.

 

Com a Ana Paula, na Serrinha, nunca foi assim. Sempre um puta stress, principalmente quando ela me pediu em namoro. Eu disse que "não, nunca".

 

Com a Mônica não rolava muita cumplicidade. Foi bom, mas nós nunca pudemos abandonar todos os poréns mútuos. Nosso namoro foi quase um acordo de paz.

 

Parece que quando fico em estado de morbidez mental, as garotas podem ser classificadas entre "operantes" e "reforços". As operantes "não são exatamente o que se deseja, mas enfim...". As reforços "são importantes demais para que eu as arrisque tentando alguma coisa".

 

Para conseguir algo de uma operante, controle a ânsia de vômito e aja conforme um script. Não é possível, conforme evidência experimental, aproximar-se de uma reforço. Há, é claro, gradações entre as categorias. Mas o problema é que baseando-se nelas não se consegue nunca a satisfação das necessidades afetivas.

 

Agora o grande Breakthrough: Como a Cristiane pôde se tornar parte de um evento de satisfação absoluta, se ela em outros momentos poderia ser encaixada na categoria "operante"? Em nenhum momento, também, ela foi "reforço", como aqui o definimos. É porque a situação, tal como eu a percebia, foi artística do começo ao fim. Mais: eu estava absolutamente em paz com o mundo naquela situação. Eu me sentia desejável e competente. E ela fazia parte daquele todo.

 

Já as memórias sobre o evento na casa da avó da Liana não são claras. Mas é possível que tenha sido durante a época heróica, que começa quando eu chutei o estômago de um colega da 4ª série, no Santo André, e continua durante minha residência na Eduardo Guinle. Foi uma das fases em que a minha auto-estima estava altíssima, e na qual eu me sentia capaz de conseguir qualquer coisa. A opinião das outras pessoas contava muito pouco, já que eu era forte, inteligente e tinha amigos. Na verdade eu irradiava essa auto-estima, e as pessoas me reconheciam do jeito que eu me sentia. O Carlos realmente achava que eu era forte e vários colegas que entravam pela primeira vez no meu quarto me chamavam de "gênio inventor" por causa das geringonças que eu pus na janela.

 

Antes que eu me perca: essas foram experiências curtas ou relativas, pois na maior parte do tempo eu fui infeliz, idealizando amores impossíveis com as "reforço". Um amor que envolva uma reforço é, por definição, impossível. Portanto, esse paradigma operante-reforço está furado. Vamos mudar. Vamos nos sentir mais artísticos.

 

Esse negócio parece um Golem às avessas. A mágica cessa se você tenta pô-la em palavras.

 

Metáfora da casinha: 1) Eu antigo; Idealizo uma casinha, com uma família perfeita, uma mulher, eu sendo legal. 2) Eu novo; Eu sou legal e tenho a casinha; só falta a mulher.

 

Punk: se o mundo for bom, eu estou perdido, pois eu me sinto oprimido e com raiva. Mas se o mundo for mau, eu estou com a razão.

 

12/8/96

 

Estou namorando a Paula há duas ou três semanas. Minha casinha perfeita está povoada. Outro dia fomos à cidade fazer compras no arsenal da marinha, comemos udon no Miako e voltamos sentados no chão do ônibus. Eu fiquei doente, deitei no colo da Paula e ela ficou passando as mãos nos meus cabelos. Eu mostrei a música do Vangelis e ela falou de Peter Pan. Ela adorou Marcia Baïla. Todos os meus sonhos foram realizados. Eu namoro com uma garota punk que gosta de Elis Regina e Rita Mitsouko. ELA TEM SARDAS!!! A Dani ficou impressionada com a beleza da Paula. Ela perguntou se eu queria casar com ela... EU TOPEI!!! UHU!!! Putz, achei o santo graal e não o desperdicei.

 

(existe mais dessa história em PAULA.DOC)

 

28/8/96

Antes de ir à PUC

 

Estou ouvindo o primeiro disco da Suzanne Vega e tentando pegar o clima. Depois vou usar o processo do Simples e Enaltecedor Ô e ver no que dá.

 

Hum... funciona. Não foi muito difícil, depois de pegar o clima, torná-lo presente e tornar a Paula parte dele. Putz, tô a fim de usar esse clima hoje. Vou selecionar mais música, prestar mais atenção e ter bons momentos.

 

Eu amo a Paula.

 

PUNKS.DOC

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