Biblioteca do Daniel

Para trás


Enquanto isso acontecia, umas ex-colegas do Princesa Isabel chamaram eu e o João Pedro para sair. Há muito tempo que não nos víamos, e éramos banstante próximos no colégio. A Fernanda era um tipo engraçado, que ficava trocando alfinetadas com o João Pedro. Já eu fiquei batendo papo com a Cristiane, e foi tão legal que nós acabamos saindo de novo na mesma semana. A sós.

Mas para onde eu vou levar a Cristiane? Cinema é fora de cogitação. A experiência com a Márcia deixou uma certeza, a de que cinema é lugar para ver filmes. Depois de ficarmos ambos hesitando horas no telefone, acabamos indo à lagoa. Já estava escurecendo, e bateu um frio violento. Ou eu comecei a tremer, mas eu achei que era por causa do frio. Realmente batia um vento frio na lagoa, e então fomos procurar outro lugar para bater um papo. Acabamos chegando a uma praça, mas como a tremedeira não passava, a Cristiane teve que me emprestar o casaco. Eu mostrei uma crônica de guerra que eu tinha escrito, na verdade um dos textos dos quais eu mais me orgulho. Se referindo ao herói da história, ela disse "é você!".

Ai, droga, essa garota está procurando encrenca.

Daí pra diante tudo que eu disse virou deixa para ela vazer alguma alusão sexual. Quanto mais eu ficava encabulado mais ela caprichava na pilha errada. Às dez horas ela desistiu, disse que tinha que chegar em casa cedo, por causa dos pais, e se despediu. Eu fiquei ensaiando mil hesitações no caminho para o ponto de ônibus, quando de repende prendi a respiração e disse

-- Cristiane, eu quero te dizer uma coisa.

Ela parou para escutar e eu beijei ela. Ela sorriu, abriu a boca e me engoliu. Voltamos para a praça. Fiquei tenso, sem saber o que ela esperava de mim. O que devo fazer, além de beijar? Conversamos sobre a hesitação que tinha rolado. Foi muito legal. Ah, foda-se, foi maravilhoso. Ela gostava de mim. Até essa época, isso era muito pouco comum. Quando fomos finalmente para o ponto de ônibus, depois de ver que não ia rolar mais nada naquela noite, ficamos abraçados, um olhando pra cara do outro, sorrindo. Foi bom. Foram os meus primeiros dez minutos de felicidade.

 

Deixe-me curtir mais esse momento.

Mais um pouco.

 

  "Chasing out the passing visions..." Nessa época eu ficava feliz quando sentia que estava caminhando, ou seja, quando sentia que estava construindo algo ou melhorando minha vida. O caso Márcia foi ruim porque eu estava sempre começando do zero. Quando cheguei em casa, após ter ficado com a Cristiane, fiz questão de sentir que havia rompido uma barreira. Dei um passo e dessa vez não há como retroceder. Já posso falar de homens e mulheres com um mínimo de conhecimento de causa. Não há por que se envergonhar de uma garota. E, ao menos por dez minutos, eu fui querido.

(continua)

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Esquerda Para Frente (continua) Direita

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