Biblioteca do Daniel

Para trás


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  De volta ao Rio. Algum fascista inventou que agora para entrar nas salas precisávamos formar fila no pátio. Não é necessário dizer que eu era o último da fila. Um garoto novo, valentãozinho, puxa-saco do Zé mas não da alta roda, pouco familiarizado com a minha intocabilidade, resolve me insultar. Disse algo como "Olha que bota feia o Daniel está usando!". Simultaneamente, a botina já tinha entrado no estômago dele. Eu nem pensei. Eu devo ter gritado de tristeza e raiva, a Serrinha era a única coisa no mundo que me fazia me sentir humano. Ele caiu e, embora quisesse se levantar para me bater, não conseguia por causa da dor no estômago, que imobiliza a respiração. Isso deve ter tornado tudo mais ameaçador ainda para ele. Apanhar do Danielzinho? Eu nem era mais parte da hierarquia, eu faltava a aula de educação física para assistir a de artes com as crianças do jardim! E tinha batido nele. E ganhei a briga, por nocaute. Os outros meninos, incrédulos, correram pra levantar ele e me segurar, gritando "O Danielzinho bateu no fulano!" "O Danielzinho? Caramba!". Eu estava chorando alto, talvez mais do que ele. -- Pára de chorar, Danielzinho! Você ganhou! E eu não conseguia parar. Devo ter um problema. Ganhei a briga, e estou em prantos. Eu não gosto disso. Você estragou tudo. Quem mandou botar a Serrinha no meio? Não era mais fácil me chamar de mulherzinha?

(continua)

Sobe

Esquerda Para Frente (continua) Direita

Desce