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É o que me move. Eu sou uma dessas pessoas que sempre se identificou com as humanidades e a literatura. Na casa dos meus pais sempre estive cercada de jornais, livros e pela musica brasileira. Sou uma dessas pessoas também que não soube escolher cedo que profissão abraçar. Assim, no momento em que quase todos da ``minha geração'' em São Paulo sonhavam por uma vaga na universidade pública, eu vagava de emprego em emprego, até me decidir pelo mesmo curso que fizera meu pai, Ciências Sociais na Universidade de São (USP).} \eng{Dance is my language. It is what moves me. I am one of these persons who has always identified herself with Humanities and Literature. In my parents' house I was always surrounded by newspapers, books, and Brazilian music. I am also one of those who could not choose at the ``right'' age which career to embrace. So, while almost everyone in ``my generation'' studied, with dreams of an academic life and a post in a public university, I wandered from job to job... until I decided to follow the footsteps of my father, and to start studying Social Sciences at the University of São Paulo (USP). } \orig{Foi então aos 20 anos, durante a minha graduação em Ciências Sociais que percebi que havia um corpo que habitava em mim. Movi-me em múltiplas direções em busca das minhas vias expressivas e de ação no mundo...capoeira, antropologia, manifestações populares, tecelagem, arte, educação. O que veio desde então foi uma constante, ainda que truncada, interrompida e múltipla busca: corpo, técnicas, danças. Ao lado dessas descobertas do corpo comecei a desenvolver um projeto de pesquisa na área da antropologia política em projetos vinculados à Universidade e ao Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (CEBRAP) que me prepararam para seguir com um projeto de mestrado na área da Antropologia urbana, sob o tema da identidade étnica.} \eng{Then, when I was 20, and an undergrad, I discovered that I had a body living in me. I drifted in multiple directions, looking for paths for expression and ways to act on the world... capoeira, anthropology, folk dances, weaving, fine arts, education. What sprouted from that was a steady, even if sometimes fragmented and truncated, search --- for a body, techniques, dances. And in parallel with that I started a research project, in Political Anthropology, at USP and at the Brazilian Center for Analysis and Planning (CEBRAP), which prepared me for my MsC in Urban Anthropology, on Ethnic Identity.} \orig{Venho de um pais onde as oportunidades não abundam e os sonhos ainda que possíveis, dificilmente serão concretizados. Somos diariamente contaminados por um ambiente de pessimismo, imobilismo e resignação. Ainda assim, continuamos a sonhar como a vida, a nossa vida, poderia ser diferente. A minha ``geração'' está a passar dos trinta e, obviamente a fazer contas. A perguntar o que fez da juventude e onde estão os sonhos. E todos falam de projetos que querem preparar, mas que nunca serão concretizados. E todos suspiram por Londres, Berlim Paris ou Nova York como, cem anos atrás, as três irmãs de Tchecov suspiravam por Moscou.} \eng{I come from a country where we do not have plenty of opportunities, and where dreams, even when possible, rarely become true. Every day we are contaminated by the pessimism, imobilism and resignation from almost everyone around us. Even so, we continue to dream with how life, or our lives, could be different. My ``generation'' is older than 30 now, and we are trying to assess what happened, asking what we have done with our youth, and where are our dreams. Everyone talks about projects that we would like to take forward, but that never would be finished. And everyone longs for London, Berlin, Paris or New York, as one hundred of years ago Tchekov's ``three sisters'' longed for Moscow.} \orig{Falar em geração é uma abstração que não comporta a diversidade, não tenho falado aqui daqueles que não tiveram hipótese de fazer escolhas, mas é sobre a minha ``geração `` que falo agora: urbana de classe média, qualificada. Uma geração inquieta e ansiosa, individualista e consumista. Uma geração que sonhou muito, mas concretiza pouco. Uma geração bloqueada. Uma geração que digere agora a contradição entre o que sonhou ser e o que realmente é. Uma geração que pergunta agora o que fazer a todos os sonhos.} \eng{To talk about a ``generation'' is to ignore diversity. I somehow avoided here mentioning those of my age and my city who had no choices available; those who I am referring to as ``my generation'' are urban, middle-class, qualified, restless, individualist, consumerist. A generation who dreams a lot, but concretizes little. A generation who is only now realizing the contradictions between what it dreamed to be and what it really is. A generation who is now asking what to do with all those dreams.} \msk \orig{Foram 14 anos de caminho até aqui, no qual perdi meu pai, escrevi uma tese, fui até a África e a China. Os meus estudos desenvolvidos com a antropologia, o movimento musical Manguebeat, que surgiu no Brasil nos anos 90, a descoberta dos trabalhos do bailarino e coreógrafo Klauss Vianna, com o seu método próprio de consciência corporal na dança, Laban e Pina Bausch, constituíram para mim referencias chaves para que eu iniciasse um pensamento sobre o corpo, a construção da cena, a análise de movimentos.} \eng{It's been 14 years in the path towards here, in which I lost my father, wrote a thesis, went to Africa and China. My studies in Anthropology, my contact with the ``Manguebeat'' (a musical movement which started in the Brazilian Northeast in the 90's) and with the works and methods of Klauss Vianna, Laban and Pina Bausch, constituted key references to me as I developed a way of thinking about the body, the scene, and the analysis of the movement.} \orig{O meu propósito é a necessidade de expressão e a necessidade de mover, minha linguagem é a dança e considero importante o diálogo entre a teoria e a prática. Os interesses são vários. Do geral ao particular eu apontaria: a criação da dança contemporânea e a performance nos espaços públicos, bem como em galerias de artes e na caixa preta do teatro. Práticas de investigação espacial, algumas delas com inspiração situacionista, como a teoria da deriva. A realização de processos criativos e processos colaborativos (solo e em grupo). A pesquisa por estados sensório-psíquicos que possibilitem um corpo em estado presente-vivo e um corpo mais significante, menos significado. A presença e a relação com objetos; ocupação no espaço e no tempo; a relação silêncio e musicalidades. A construção do gestual na relação com textos e deslocamentos. E a construção de vídeos-dança.} \eng{My intent is to work on the {\sl need for expressing} and the {\sl need for moving}. My language is dance, and I consider very important the interplay between theory and practice. My interests are manifold; going from general to particular, I'd point: creation of contemporary dance, and performance in public spaces, art galleries, and on stage; practices for spatial investigation, for example the Situationist ``dérive''; creative processes, solo and in groups, and collaborative processes; sensory and psychic states that lead to enhanced presence, in which the {\sl signifier} takes precedence over the {\sl signified}, especially when relating with objects; ways of using the space and time; silence and musicality; the gestural and the textual; video-dance.} \orig{Tenho como interesse também questionar o entendimento de que seja a obra de dança. Sobretudo a dança, porque ela existe somente enquanto um corpo a realiza, a questão do que permanece e do que é impermanente ganha contornos muito determinantes.} \eng{I am also especially interested in questioning our understanding of what can be a work of performance dance. In dance, which is something that only exists while it is being performed by a dancer, the question of what is left with the spectators when the piece is over is vital.} \orig{A minha motivação é resultado da pluralidade de técnicas e de abordagens somáticas e de dança; a multi-interdisciplinaridade de conhecimentos que carrego na minha corporalidade e que o curso parece propor. Considero o programa como um espaço para que o aluno se coloque como agente e como artista. Motiva-me a seguir os fios condutores: as articulações da arte e da dança contemporânea enquanto um lugar de multiplicidade de técnicas e de conhecimentos. O processo de aprendizado através da apropriação, da autonomia, da imbricação teoria e prática e da pesquisa.} \eng{My motivations are the result of a plurality of somatic approaches to dance; a multi-interdisciplinarity, several knowledges that I carry in me, and which the course seems to propose. I see the program as preparing a space in which the student can act as an agent and an artist, and follow the leading threads: int it art and contemporary dance are venue for a multiplicity of techniques and knowledges. There is a learning process, that passes through appropriation, autonomy, and joins theory, practice, and research.} \orig{Tenho como objetivo a criação. Eu não tenho medo de ir ao ``quarto escuro'' e dessa forma poder experimentar os interesses citados acima e poder ter mais base para desenvolver uma identidade nas minhas criações, poder dar forma a idéias e temas, dar forma a sensibilidade, sensações, intuições, ao imaginário, ao poético, que eu desejo comunicar. Quero chegar a um corpo-movimento que também seja uma ``expressão conseguida'': como?} \eng{My aim is {\sl creation}. I am not afraid of going to the ``darkroom'', to develop the interests listed above, and to work on giving clear form to an identity in my creations, shaping ideas and themes, sensibility, sensations, intutions, imaginary and poetic, that I'd like to communicate. I want to reach a movement-body that is also an ``attained expression''. But how?} \orig{Tenho como objetivo também, por meio da criação complementar a minha bagagem como professora, performer e pesquisadora. Pensar a dança para todos os corpos e classes sociais. Como aprendi com o Alito Alessi, criador do método danceability, como unir pessoas e não separá-las. Vale registrar o meu interesse também pela a dança inclusiva.} \eng{I have also been a teacher, a performer, and a researcher. As I learned with Alito Alessi, the creator of ``Danceability'', dance can unite people; I am interested in ``inclusive dance'', and how it can bring together people with very different bodies, and from very different social classes.} \orig{A vinda para Alemanha em 2009 foi movida pela necessidade de encontrar os sonhos esquecidos e sair das minhas fronteiras não só territoriais, mas também artísticas. Quando conheci os programas do HZT me interessei de imediato, mas precisava de um tempo para me orientar, experimentar a cidade e a língua alemã. Assim após um ano de experimentações, sobretudo, em pequenas apresentações, workshops e aulas abertas produzidos no estúdio Laborgras (Arthur Stäldi e Renate Graziadei), observo que chega o momento de um novo rumo. Além do mais, a universidade para mim constitui-se como lócus de produção de conhecimento, pesquisa e extensão. Foi e continua sendo fundamental na minha trajetória.} \eng{I came to Germany in 2009 moved by my need to find those forgotten dreams, and to leave my frontiers --- that were not only physical, but also artistic ones. When I found the HZT programs I got immediately interested, but I needed a time to orient myself, and to experience the city and the German language. So, after one year of experiments, of mainly small performances in small places, workshops, and open classes in the Laborgras studio (Arthur Stäldi e Renate Graziadei), it comes the moment for a new direction. And, besides, the University has always been the locus of construction of knowledge, research and outreach; it has been essential in my path, and it continues to be.} \orig{No meu caso voltar a universidade não seria começar do zero, porque, a meu ver na arte não existe começar do zero. Nesse sentido, vejo sim a possibilidade de iniciar novos sonhos e caminhos, revisitar, aprofundar e continuar outros. Pretendo aproveitar a oportunidade para desenvolver uma identidade (autoral) por meio de pesquisas e criações, e por fim, ressaltar a pertinência da investigação em arte; sobretudo, a partir da interlocução com outros pesquisadores e artistas, atuantes em diferentes contextos.} \eng{Returning to the University would not be for me to restart from scratch --- I believe that in art there is no restarting from scratch. I see, instead, the possibility of starting new dreams and new paths, and revisiting, deepening and continuing others. I intend to use this opportunity to develop an (authoral) identity through artistic research and creations, and, through the contact with other researchers and artists, working in several different contexts, to clarify the role of {\sl investigation} in what I do --- to learn how to do it more solidly, more consistently, and in a more {\sl contagious} way.} \bsk \bsk \hrule \bsk Reação ao texto``Doing Art Politically: What does this means?'' (Thomas Hirschhorn, 2008) Maíra Santos \msk \orig{Thomas Hirschhorn é um artista que responde ao mundo por meio de suas obras. No entanto, sua intenção é ir além das convenções sociais, religiosas e culturais, das análises e das teorias. Nessa busca ele protesta. No seu trabalho, no qual utiliza-se da técnica da colagem, transbordam questões sobre os problemas do mundo, que vão a matança de animais e pessoas, à coisificação e alienação. Esse artista também é conhecido por suas grandes instalações, o uso de espaços alternativos para mostrar suas obras, o jogo entre a arquitetura e a escultura, o micro e o macro, a arte e a não arte.} \eng{Thomas Hirschhorn is an artist who uses his art to answer to the world. However, he goes beyond social, religious and cultural conventions, beyond analyses and theories. His work, in which he uses techniques from collage, is overflowing with questions about the world's problems, from the slaughtering of animals and people to alienation and objectification. He is also known by his huge installations, the use of alternative venues to present his works, the interplay between architecture and sculpture, micro and macro, art and non-art.} \orig{``Doing Art Politically: What does this means?'' é uma resposta do artista sobre a política e a poética contida em sua obra. Quer deixar claro o que entende sobre as relações entre arte e política. Dessa forma, quando pontua a diferença entre ``doing art politically'' e ``making polical art'', ele está refutando a idéia da arte política como propaganda, dos particularismos em favor do universal, a inclusão no lugar da exclusão, a busca por propostas democráticas ao conceber e difundir seus trabalhos. Seu objetivo é voltar-se a uma arte política construída por detrás das convenções políticas.} \eng{``Doing Art Politically: What does this means?'' is his answer about the politics and the poetics of his work. He wants to make clear his understanding about the relationship between art and politics. He analyzes the difference between ``doing art politically'' and ``making polical art'', refuting the ideas of political art as propaganda, of using the particular pretending that it is universal, of showing inclusion in place of exclusion, and of using democratic proposals to conceive and bring out art works. His aim is to (re)turn to a political art built behind polical conventions.} \orig{Seu horizonte é a esfera das relações humanas nesse mundo precário. Em sua obra é possível ver o novo paradigma da arte contemporânea dos anos 90, traçados nos anos 60, mas as questões são outras. Não mais sobre a urgência da quebra de padrões morais, sociais e políticos. Ou como fora no Brasil, em que os movimentos artísticos tiveram um papel importante na formação do pensamento da esquerda, aglutinando forças políticas contrárias ao regime militar instalado no País. Fala-se agora de um horizonte prático e teórico no qual, as obras expõem as esferas das ``interações humanas'' e o seu contexto social, através da experiência estética. Sendo o processo de comunicação a ferramenta que permite unir indivíduos e grupos humanos\footnote{Nicolas Bourriaud, Relational Aesthétics (Dijon, France: Presses du Réel, 1998). Para este autor a ``arte é um estado de encontro''.}.} \eng{His horizon is the sphere of human relationships in a precarious world. In his work it is possible to see the new paradigms of the contemporary art in the 90's. They were drawn in the 60's, but the questions have changed: the focus is no longer the urgency of breaking rigid moral, social and political patterns. (???) Brazil, where artistic movements had an important role, bringing together political forces that opposed the military regime that had taken power in the country. (???) speaks now of an horizon, practical an theoretical, in which the art works expose the spheres of ``human interactions'', and their social contexts, through the aesthetical experience, (???) communication process being the tool that unites individuals and groups\footnote{Nicolas Bourriaud, Relational Aesthétics (Dijon, France: Presses du Réel, 1998). For this author ``art is a state of togetherness''.}.} \orig{Contudo, por mais que Hirschhorn, por meio de suas obras e texto, esteja denunciando e anunciando a precariedade e a fragilidade do ser humano, não deixa de fazer o reconhecimento de que o compromisso do artista é com a obra de arte e não com a política. Para ele não há outra possibilidade do que o total compromisso do artista com a sua obra de arte (artwork); uma verdade aplicada para todas as artes. A política, para ele, seja com ``p'' maiúsculo ou ``p'' minúsculo, se define por algumas questões da ordem dos desejos e da criação sem perder de vista o espaço do outro. As questões também não são da ordem do ``quê''. Fazer arte politicamente, segundo Hirschhorn é dar forma. Sendo assim, que forma e que posição tomar? Essa é para ele a questão principal que o artista deve enfrentar.} \eng{Hirschhorn, through his works and his text, denounces and announces the precariousness and the fragility of human being, yet he recognizes that the main responsability of the artist is toward his work of art, not with politics. For him these is no other possibility besides the total engagement of the artist with his artwork --- a truth that applies to all arts. Politics, to him, be it with a capital or a lowercase `P', is defined by questions of desire, and of creation without losing sight of the role of the other. Its questions are also not of the order of the ``what''. Doing art politically, according to Hirschhorn is giving form. Being so, which form, and which position to take? This, for him, is the main question that the artist must face.} \orig{Na questão da forma ecoa para mim as considerações do filósofo italiano Luigi Pareyson\footnote{Luigi, Pareyson, Os Problemas da Estética, (São Paulo, Brasil: Martins Fontes, 2001), p. 30.} sobre a arte como uma ``expressão conseguida'' enquanto forma. Forma é ``[...] o organismo que vive por conta própria e contem tudo quanto deve conter [...]''. Para o filósofo, o acontecimento de criar, inventar, descobrir, produzir, organizar, que dá origem e lugar a uma obra, constitui-se num ato de formar. Desse modo, Thomas Hirschhorn não é mais ou menos comprometido politicamente que outros artistas, pois o que procura é a busca pela forma que resiste a fatos e que consiga tomar uma posição.} \eng{In matters of form I am reminded of the Italian philosopher Luigi Pareyson\footnote{Pareyson, Luigi, {\sl Os Problemas da Estética}, (São Paulo, Brasil: Martins Fontes, 2001), p. 30.} about the form of a work of art as an ``attained expression''. Form is ``[...] an organism that lives by its own and contains all that it has to contain [...]''. To that philosopher, the act of creating, inventing, descovering, producing, organizing, that gives origin and place to a work of art, is an act of giving form. In that way, Thomas Hirschhorn is no more nor less engaged politically than other artists, as what he looks for is a search for a form that would resist facing facts and that can take a position.} \orig{O autor diferencia fazer arte política, do fazer arte politicamente. Contudo a arte e a política são esferas autônomas e apenas quando, alinhadas uma a outra, podemos compreender suas interações. Porém, a arte não possui em sua gênese a ética e a política. A associação entre a arte e a política parece obscurecer o modo de manifestação que é próprio à arte, e que a difere das demais produções humanas. Não dá para considerar a arte e a política como tendo o mesmo significado, bem como, não da para considerar que o público e o crítico compartilhem da mesma compreensão. O artista no seu texto também ao falar da arte como política acaba por deixar de lado outras esferas que a arte se relaciona como as esferas sociais, terapêuticas e etc.} \eng{The author distinguishes {\sl making political art} from {\sl doing art politically}. However, art and politics are autonomous spheres, and only when they intersect we can understand their interactions. Among the components involved in the genesis or Art, we cannot find Ethics and Politics. The association between Art and Politics seems to obliterate that characteristic way of functioning of Art, that is different from all other human productions. We can not consider that Art and Politics have the same meaning, just as we cannot consider than the public and the critics perceive things in the same manner. The artist also shows that by speaking of Art as if it were Politics we leave out the spheres in which Art relates to the Social, to the therapeutic, etc.} \orig{Hirschhorn estabelece algumas pré-condições para se fazer arte, esses seriam: tomar o risco, ter alegria no processo de trabalho e ser positivo. Para ele só sendo positivo que o artista pode criar algo que venha de dentro. É curioso notar nesse ponto, o seu discurso --- em que o artista deve ter um olhar positivo sobre a realidade para poder falar sobre ela. E como resultado desse processo, o que é de mais crítico, caótico, complexo e revelador vem à tona. Hirschhorn fala de uma atitude positiva para com a criação e o necessário distanciamento, como método para chegar ao que denomina o negativo: as incompreensões do nosso tempo, a morte e a destruição na forma de grandes espaços, materiais efêmeros e baratos como papéis e compensados. Tomada de posição.} \eng{Hirschhorn establishes some pre-conditions to make Art, which are: taking risks, having joy in the work process, and to be positive. For him, only by being positive the artist can create something that really comes from the inside. In that point his discourse has something curious --- the artist has to have a positive look on reality to be able to talk about reality. And in result, what exists that is more critical, chaotic, complex and revealing comes to the surface. Hirschhorn talks of having a positive attitude towards creation, and a necessary distancing, as a method to reach what he calls the {\sl negative}: the incomprehension of our times, death and destruction --- using big spaces and ephemeral materials like paper and chipboard, and taking sides.} \orig{Há um incomodo ao meu ver quanto a idéia de se ter pré-requisitos para o artista e sua obra, por mais que estes sejam a felicidade, ser positivo e etc. Faz-se arte porque não se há outra escolha. E dessa forma, arte não se constitui como uma ferramenta para dar resposta ao mundo, mas ela simplesmente é, não existe como um meio. O poeta Rainer Maria Rilke ao aconselhar o jovem que aspirava a ser poeta vai ao cerne: você morreria se não pudesse fazer a sua arte?O poeta coloca a arte como uma necessidade do ser, de modo que ele não faz para outro, faz para si, não havendo então nenhum pré-requisito nesse sentido.} \eng{I am not totally comfortable with his idea of fixing pre-requisites for the artist and his work, even if those pre-requisites are happiness, being positive, etc. We do Art because there is no other choice. And, in this way, Art does not constitutes a tool for giving answers to the world --- it simply is, it is not a means for an end. The poet Rainer Maria Rilke, when giving advice to an aspiring young poet, went to the kernel of the matter: would you die if you could not make your art? The poet puts Art as a necessity of the being, and so it is not done for others, but for oneself --- and so no rigid pre-requisites can be made.} \orig{Sinto a necessidade de apontar outras coisas importantes também com relação ao ponto de vista do artista, como a relação dor e arte, morte e criação, como um processo necessário ao processo de criar. Sejam essas mortes internas ou múltiplas, essas mortes revelam nascimentos vivenciados pelo artista no processo criativo. Sobre a dor, falo daquela que se transmuta em arte, falo também de uma dor que não precisa estar exposta, aquela que faz parte do processo criativo e que muitas vezes só se revela por meio da biografia do artista. Virginia Woolf, por exemplo, expressou sua angústia e seu desespero, decorrentes de fortes crises depressivas por meio da escrita. Positivo ou negativo João Frayze\footnote{João Pereira Frayze, Arte e dor. Inquietudes Entre Estética e Psicanálise, (São Paulo, Brasil: Ateliê Editorial, 2006) p. 268. Frayze é psicanalista e professor da Universidade de São Paulo, seu estudo abrange estética e psicanálise. Entre outras coisas aborda a relação arte-dor.} nos atenta que o ato poético é um ato doloroso: ``é a dor da solidão de quem chega ao novo sem saber bem porquê. É a dor intrínseca à arte''. Mas concordo quando Hirschhorn diz que ser positivo é não julgar no seu fazer. E ser ativo. Frida Kahlo também com a pintura, assim como Wirginia Woolf, nunca parou sua obra, nem mesmo nos momentos mais dolorosos e em que esteve presa à cama. Frida teve sua criação permeada pela própria dor. E assim, significou-a em tudo, transformou-a em cores, deu lhe nomes e lugares.} \eng{I feel the need to point other important things in the artist's point of view, like how he sees the connections between pain and art, and death and creation, and being necessary to the creative process. No matter if these deaths are internal, or mutiple, they reveal births lived by the artist in his creative process. On pain, I refer to that that gets transmuted into art, and also of that one that does not need to be exposed, and that is often only revealed in the biography of the artist; Virginia Woolf, for example, expressed her anguish and her despair about her bouts of depression through her writing. Positive or negative, João Frayze\footnote{João Pereira Frayze, {\sl Arte e dor. Inquietudes Entre Estética e Psicanálise} (roughly: ``Art and pain: Restlessness Between Aesthetics and Psychoanalysis''), (São Paulo, Brasil: Ateliê Editorial, 2006) p. 268. Frayze is a psychoanalyst and a professor at the University of São Paulo, and one of his themes is the relationship between art and pain.} points to us that the poetic act is a painful act: ``it is the pain of the loneliness of someone who reaches the new without knowing how, or why. It is the pain intrinsic to art''. But I agree when Hirschhorn says that to be positive is to not judge while doing, and to be active. Frida Kahlo, with her painting, just like Virginia Woolf with her writing, never stopped producing her work, not even in moments of great physical pain, which kept her to her bed. Frida's creation was permeated by her pain. And she transformed that pain into colors, names, and places.} \orig{E por fim, Horschhorn define ``doing art politically'' como o ato de criar com coragem, sem deixar de lado a paixão, a esperança e o sonho. Ao meu ver o artista, além disso, pode aceitar tomar o risco com coragem e ser ``usuário das formas'', com liberdade, nunca com preocupações dogmáticas.} \eng{Hirschhorn defines ``doing art politically'' as the act of creating boldly, without leaving aside passions, hopes, and dreams. In my view the artist, besides that, can take risks, courageously, and risk being a ``user of the forms'' --- with freedom, not dogmatically.} %* \end{document} % Local Variables: % coding: raw-text-unix % ee-anchor-format: "«%s»" % End: