Biblioteca do Daniel

Para trás


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  Eu não tenho habilidade pra essas coisas. A Cristiane adorou eu ter ligado pra ela, a gente falou de mil abobrinhas, e aí, quando senti que tinha quebrado gelo suficiente, mandei a bomba. Expliquei a história e pedi conselho.

A voz dela murchou um pouco, ficou encabulada, mas deu uns conselhos legais. Talvez eu tivesse apenas surpreendido ela, e não houvesse nenhum ressentimento. O melhor era ligar para a Fabiana e perguntar.

Mole, não é? Não é. O namoro da Cristiane tinha acabado e ela estava sozinha. Ambos tentamos desligar o telefone mil vezes, e a principal razão para isso era que eu tinha que ligar para a Fabiana! Mas, e daí? A Cristiane sempre ferra tudo, e eu não consigo odiar ela.

Momentaneamente, o problema Fabiana tinha ido para os espaço. E a Cristiane ficou tão melancólica quando falamos da outra... Será que ela ainda me quer? Eu quero ela!

Mas aí eu liguei para a Fabiana no dia seguinte, combinamos ir ver uma outra peça, e nada foi dito sobre o incidente exceto "Você ficou chateada comigo?" "Não". A Cristiane tinha pedido para eu dar notícias após conversar com a Fabiana. Fazendo isso, tive mais certeza ainda de que a Cristiane ME QUERIA. A Fabiana furou o programa que havíamos combinado, e eu joguei tudo pro alto. Liguei para a Cristiane e chamei ela para sair. Fomos ao mirante do Leblon. Depois levei ela de volta para casa. Sem clima, sem iniciativa, sem nada. Comecei a me sentir um babaca. Abri a boca e pus a culpa de eu não ter tomado nenhuma iniciativa, embora quisesse, por ainda estar pensando na Fabiana.

Que porra havia na minha cabeça quando eu disse isso?!! Você pode imaginar a reação da garota. Ficou fúnebre. Disse que não é errado querer duas pessoas ao mesmo tempo, que isso acontece toda hora. Não pude nem tentar consertar. Ela me levou ao ponto de ônibus para o ônibus da volta, com os olhos vermelhos. Disse que era sono. No ponto, a irmã dela e um cara, os dois se agarrando. Mais empata foda impossível. Era de madrugada, muito de madrugada. O ônibus não passava. Cristiane e a irmã voltaram para casa. Tive que levar o outro sujeito a pé para Copacabana, pois ele era argentino e não sabia o caminho. Só depois voltei para casa.

Dormi o dia inteiro, acordei para jantar e dormi de novo. A culpa de ter machucado tanto a Cristiane me torturava, e a saída para isso era dormir. Na noite do dia em que acordei, pedi arrego: liguei para a Cristiane e combinei de nos encontrarmos cedo, na praia. Tinha decidido ficar com ela de vez.

Cheguei meia hora antes do combinado. Duas horas depois, nem sinal de Cristiane. Eu já estava saindo um pouco do clima romântico, quando percebi que alguém estava sorrindo pra mim. Uma mulher trotando na ciclovia, com walkman e óculos escuros. Será uma amiga da Lola? Não... NÃO!!! A FABIANA!!!

-- Oi, Fabiana. o que você está fazendo a esta hora na praia?!!!

-- O sol está muito forte, daí eu corro mais cedo para não me queimar. E você, vai entrar na água?

-- Eu estou esperando uma garota.

-- Ah...

 

Quando a Cristiane apareceu (ela apareceu, finalmente), eu já tinha desistido. Agora eu queria relaxar de toda a tensão que aquela história tinha me trazido, e acabar de destruir tudo, ao invés de ficar mal-remendando o que pudesse. Tentei um beijo, ela desviou. Agora você vai ver. Contei que tinha encontrado com a outra. Ela ficou incomodada, não gostou de logo após isso eu ter querido beijá-la. Eu estava totalmente fora do clima. Passamos às abobrinhas. Um fotógrafo pediu para que nos sentássemos mais próximos, para que ele fizesse uma foto que evocasse o clima romântico do Rio. Eu adorei a idéia, a Cristiane ficou absolutamente encabulada. Quanto mais ela se sentia mal, mais eu me sentia vingado.

(continua)

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