Biblioteca do Daniel

Para trás


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  Devo ter algum problema. Por que eu não transei com a mina? Nunca mais saí de casa sem estar armado de uma camisinha. É claro que o problema não era a camisinha, mas sim sexo sem afeto. Só que ser virgem nessa idade, quando a idade que julgava "normal" para ter transado era 16 anos, me deixava deprimido. Fixei 23 anos como a data limite para perder o cabaço. Se não conseguisse até lá, engolia o orgulho e pagava uma prostituta.

O que me deixava triste, claro, não era falta de sexo. Isso me deixava inquieto. A grande barra era não ter alguém que realmente gostasse de mim. Por vezes pensava que seria muito mais fácil ter uma amiga, com quem pudesse conversar, com quem pudesse dividir todas minhas dúvidas, de quem recebesse algum afeto, mesmo sem nada sexual ou físico. Mas ao me aproximar disso, eu sempre metia os pés pelas mãos e acabava misturando tudo. Eu tinha muito medo de ser rejeitado.

 

  Com a data limite nos 23 anos, eu não tinha tempo a perder. A opção puteiro não me atraía nem um pouco. Seria a derrota. Resolvi começar a selecionar quais garotas valeriam a pena, com base numa lista de atributos. Por exemplo, não ter muita ligação com outras meninas. Eu acreditava que as mulheres funcionavam em rede, e que se eu fracassasse com uma, isso se tornaria público. Eu nunca mais poderia me aproximar de ninguém. Também resolvi estreitar relações com mais de uma ao mesmo tempo, para aumentar as chances de sucesso. O que não quer dizer, claro, que eu pretendia chifrar ninguém.

A Mônica me pareceu uma das opções. Mas ela foi absolutamente seca todas as vezes que tentei me aproximar.

Saí com a Luciana. Não parava de falar abobrinhas. Fomos ver uma peça horrível, e eu fiquei entediado.

Fui ao congresso mundial de psiquiatria. Da PUC, só a Mônica e a Fabiana tinham ido. A Mônica tinha uma conversa mais interessante, opiniões mais parecidas. Embora ainda me sentisse atraído pela Fabiana, eu e a Mônica acabamos virando colegas.

No semestre seguinte, eu já era monitor de psicologia experimental, e a Mônica minha aluna. As aulas eram um completo caos. Eu morria de medo de ser autoritário, violando meus princípios anárquicos, e ainda não sabia como dar aula atraindo a atenção dos alunos. No meio da confusão, só a Mônica e o Vítor pareciam interessados. Mas eu não pretendia agarrar o Vítor.

Na aula de dinâmica de grupo, havia um exercício em que devíamos dar uma moeda grande para a pessoa de quem mais gostássemos, e uma pequena para a segunda mais querida. Todas as vezes que fizemos isso, a minha maior moeda foi para a Mônica, e a maior dela veio para mim. Era essa a confirmação que eu tanto queria.  

(continua)

Sobe

Esquerda Para Frente (continua) Direita

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