Biblioteca do Daniel

Para trás (volta)


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  Eu não era o único que estava chorando no primeiro dia do colégio. Mas que importam os outros? Não quero ficar aqui. Estava brincando com outros dois garotos, que me disseram que antes de vir para o Santo André, eram da mesma escola. Eles estavam brincando com uns bloquinhos de madeira, e fazendo umas ruas para os carrinhos "matchbox". Muito legal. A gente ficou amigo, e até o C.A. brincávamos de matchbox o tempo todo. E de massinha também. E também íamos juntos à aula de artes, que o professor era maluco e queria pegar a gente. Ficava todo mundo debaixo das mesas pra ele não pegar. Depois tiraram ele. A gente tinha muito medo dele, e sabia que ele era maluco, mas a professora que ficou no lugar dele era chata e sem graça. Odeio o C.A.. Os meus amigos agora não brincam mais de matchbox, jogam futebol. Todos os meninos jogam futebol. Todas as meninas pulam elástico. É por isso que são meninas. Porque são chatas. Fico sozinho, e brincar de matchbox não tem mais graça. Na fila do lanche, os meninos da frente cedem o lugar de trás deles para todos os outros menos eu, de modo que eu sou sempre o último a pegar o lanche, e acabo tendo que comer pão doce. Eu odeio pão doce.   Me xingam toda hora. Eu dou soco no peito deles e eles dizem que eu sou fraquinho. Dou soco com toda força e nada. Aliás, às vezes nem consigo acertar o soco, porque sou baixo e não consigo chegar perto.   Na aula de educação física, que eu sou forçado a ir, todos os meninos têm que jogar futebol. O Zé Guilherme e o Luís Otávio tiram par ou ímpar e escolhem quem vai para os seus times. Quem ganhar escolhe o primeiro, o outro escolhe o segundo, e assim por diante. O Alexandre, que é covarde e tem lábio leporino, é sempre o penúltimo a ser escolhido. Eu sou o último sempre, mas às vezes tem briga, por que eu tenho que ficar no time que tem os melhores jogadores, para ficar equilibrado. Agora, se dá número ímpar, me botam pra fora do jogo. Eu odeio futebol. É a coisa que eu mais odeio.   Uma vez, o Alexandre quis me bater. O Zé, o Luís Otávio e os outros garotos correram atrás do Alexandre pra linchar ele, e ele teve que subir na árvore para escapar. É covardia bater em mim.   As tias gostam de mim. Eu não.

(continua)

Sobe

Esquerda Para Frente (continua) Direita

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