Biblioteca do Daniel

Para trás


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Eu tinha um tanque à pilha. Meu primo tem um igual. Meu primo perdeu o dele, e saiu lá de casa com o meu na mão. Eu quis tirar dele e a tia Sissi brigou comigo. A minha mãe também. Adeus, tanque à pilha.

 

Sábado de manhã tem "Mundo Animal" no canal 4. Hoje está mostrando que o pingüim bota dois ovos. Desses ovos nascem dois filhotes. Um deles é mais forte e ganha comida. O outro fica fraco e morre.

 

Todos os garotos dizem "eu vou falar pra minha mãe!". Eu não. Eu só choro. E aí me chamam de mulherzinha. Eu devo ter um problema. Eu não consigo parar de chorar, mesmo não tendo medo dos outros garotos.

 

Estou na quarta série. Entrou um cara muito grande no colégio, feio. Ele também não joga futebol e ninguém fala com ele. Ele é o único garoto que me xinga agora, por que me xingar é covardia. Ele é covarde. Só há eu e ele no pátio do recreio; todos os garotos estão jogando futebol, todas as garotas pulam elástico. Eu não choro dessa vez. Eu tento chutar ele, ele segura minha perna e me joga no chão. Eu não consigo bater nele, mas eu tento.

Entrou um argentino (seja lá o que for isso) no colégio. Chamei ele para brincar de matchbox. Durou alguns dias, depois ele começou a andar com o grandão feio. Mas também depois ele brigou com o grandão, e tentou o futebol. Estou sozinho de novo.

 

Depois de me torturar com natação, minha mãe me pôs no Tae-Kwon-Do. Mas arrumou um namorado legal, que nos leva no fim de semana para uma fazenda nas Agulhas Negras, três horas de viagem, estrada de terra, sem luz elétrica, sem telefone, só mato. Mó aventura. Ele me deu umas botinas de couro que eu adoro, que são boas para andar na lama. Na fazenda, acordo cedo e vou ajudar o tio Zeca mexer na horta, corto uma lança de bambu e fico me enfiando no mato. Descobri esconderijos que os índios devem ter usado. É muito bonito.

(continua)

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