Biblioteca do Daniel

Para trás


Amigos

 

  Quero uma pessoa triste para conversar. Todos estão dormindo, confusos em suas próprias preocupações... Bom, eu também, com a diferença de que eu tenho só uma e não estou confuso. Estou arrasado. Alguém fugiu com o tempero, e agora tenho que empurrar alguma gororoba cinza garganta abaixo.

 

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  Havia um grupo de estudantes da PUC, de vários cursos, que estavam organizando o chamado "coloquinho". Toda sexta-feira, um aluno dava uma palestra sobre um tema interessante ou polêmico da sua área. Gostei das que assisti, e resolvi dar uma, chamada "A mente observável". Polêmico. A palestra começou às quatro, e às nove tivemos que sair da sala e ir discutir no baixo Gávea. A Mônica foi assistir, não tomou parte na discussão e, visivelmente incomodada com o sucesso do meu coloquinho, se despediu e foi embora.

Havia uma garota especialmente interessada, que participou o tempo todo. Aliás, a maior parte das pessoas que estavam presentes me impressionaram muito com a rapidez com que apreendiam os conceitos que eu lançava e logo os discutiam com total domínio. Sem a menor rigidez mental. Ninguém ocultava seu interesse. Me senti acolhido.

Ao observar o comportamento dessa garota, vi que não estava satisfeito com a Mônica. Eu não queria mais estar com ela. Eu queria estar ali, com gente que me tratava de igual para igual, e que se mostrava razoável, ao invés de estar sempre na defensiva. A Mônica parecia incomodada com o fato de eu estar aparecendo mais que ela. Estava incomodada com o meu sucesso. Eu não quero alguém assim. Eu quero alguém que compartilhe o sucesso comigo.

Eu estava conversando com a Mônica no telefone, de fato brigando, e ela disse que "essas brigas estão baixando a minha auto-estima" e "que se continuar assim, a gente vai acabar terminando". Congelei. Já havia terminado. Parei de argumentar. Na cama, parei de me grudar nela enquanto dormia. Depois de uma semana, ela pediu tímidamente para deitar sobre meu peito. "Sinta-se à vontade". Não me mexi um milímetro para aumentar seu conforto. A Mônica não mais existia.

Quando ela deixou de se fazer de durona, e me perguntou o que estava acontecendo, eu disse "acabou, né?"

(continua)

Sobe

Esquerda Para Frente (continua) Direita

Desce