Biblioteca do Daniel

Para trás


Política

  A gosma, sedenta por se reproduzir, sai em busca de toda sorte de matéria para aumentar o seu volume...  
1

  Todos os caminhos levam a Roma. Através de um amigo livreiro, conheci um velho anarquista que me pôs em contato com um grupo que estava se formando, com gente da minha idade. Ao mesmo tempo, eu já havia encontrado com o mesmo grupo ao assistir um filme sobre Malatesta, um anarquista, mas o encontro que realmente me levou a procurá-los ocorreu assim:

De tanto falarem no tal Roberto Freire, e depois de haver visto alguma referência a um "Grupo Anarquista Brancaleone", resolvi assistir a uma das suas palestras, que não ocorreu em nenhum subúrbio ou galpão abandonado, mas em Ipanema. O sujeito sentou numa cadeira, em cima do palco, cumprimentou as pessoas e começou a discorrer sobre o anarquismo. Um pouco diferente do anarquismo Machadista, mas até aí tudo bem. Até que ele começou a bater muito forte na tecla de que ele não queria impôr seu ponto de vista para ninguém, que as pessoas tinham que pensar por si mesmas, etc. Eu e o João Pedro já estávamos um pouco de saco cheio, quando uma voz conhecida pede a palavra:

-- Eu estou entendendo que o senhor não quer impôr seu ponto de vista, que prefere que cada um pense por si próprio, certo?

-- Sim, é isso mesmo.

-- Então, sua palestra só será um sucesso, só conseguirá atingir o seu objetivo, se todos nós sairmos daqui discordando do senhor, não é? Se voltarmos para casa sem termos sido influenciados pelo senhor.

A LOLA!!! Cara, eu nem sabia que ela tinha ido na palestra. O fato é que o homem empalideceu, depois enrubesceu e perdeu totalmente a compostura. "Eu achei que ia ser legal vir falar aqui hoje, mas foi uma merda! Vocês não entenderam nada!" Jogou a cadeira no chão. "Vão se fuder!", foi por aí. Virou-se e já estava indo embora, quando uma mulher subiu no palco para pedir satisfações, que ele não podia insultar o público que havia ido ali ceder seu tempo para escutá-lo e depois ir embora assim. Um dos jovens seguidores do Roberto Freire, no meio da confusão que já havia sobre o palco, acertou a cara dela. "Animal! Esse menino tem que ser preso numa jaula! Animal!" De repente vejo a Rosa, uma ex-colega, agora outra seguidora, tentando apaziguar os ânimos: "Você não entende... É que ele é coiote...", enquanto um homem de paletó e gravata gritava, em meio a lágrimas, "Eu concordo com você... Não é nada disso... A gente concorda..."

Enfim, puro caos. Uns caras sentados atrás de nós estavam com um jornal nitidamente anarquista na mão. Pedi para dar uma olhada. Perguntei o que haviam achado da palestra. O mesmo que nós. Peguei a hora e o local das reuniões do seu grupo. Debaixo de chuva e vento, lá estávamos eu e o João Pedro.

(continua)

Sobe

Esquerda Para Frente(continua) Direita

Desce