FernandoO meu post sobre o Maurício é a primeira coisa dessa página aqui. De: Eduardo Para: Fernando Subj: Relacionamentos românticos e ataques de pânico Data: 2017aug19 Oi Fernando, tudo bem? Tou aqui tentando resolver coisas da minha to-do list pra me sentir melhor, e a minha to-do list inclui pessoas, e você é uma das pessoas. Eu inicialmente pensei em falar com você só quando ou você me respondesse algo pelo telegram ou a gente se encontrasse ao vivo, mas depois vi que isso poderia demorar e achei que seria melhor a gente começar por aqui. Quando a gente se viu na reunião de departamento você disse que 1) não tinha lido o post que eu fiz sobre o Maurício, e 2) você me perguntou, em palavras ligeiramente diferentes e que eu não lembro exatamente, se eu me via tendo um relacionamento romântico com o Edil. Eu fiquei pensando MUITO sobre o 2, e tou meio perturbado com ele até hoje. Achei de uma falta de tato INCRÍVEL, mas talvez parcialmente justificável por você não estar acompanhando direito o que eu tou passando agora, e por você estar muito a fim de contar como as coisas com a Nicole estão legais, e você querer que os seus amigos vivam coisas parecidas, e tudo com ela te parecer fácil agora e você querer que essas coisas sejam fáceis pros outros também... só que nesse processo você esquece que você passou muito tempo visualizando que tipos de relações românticas você queria, e ajustando o que você procurava pra ficar algo mais realista e mais realizável, e tentando na prática, e conversando com pessoas... Eu sou super carente sim, mas toda vez que eu visualizo alguma espécie de aproximação romântica entre mim(/eu) e alguém eu quase só vejo coisas horríveis parecidas com coisas horríveis que já me aconteceram e fico em pânico pensando em como me defender, e achando que eu de novo não vou conseguir me defender - nem mesmo aos berros e cotoveladas. Eu passei a segunda, a terça e a quarta em Rio das Ostras. Eu achei que ia dar pra eu estudar música a beça, arrumar montes de coisas da casa, ler, fazer mil coisas no computador e tal, mas o que aconteceu foi que eu tive MONTES de ataques de pânico bem grandes e longos e os meus dias foram meio inúteis, o melhor que eu consegui fazer foi dormir 12 horas num dia e quase isso tudo de novo no outro. Uma das coisas boas que eu estou conseguindo fazer nos últimos tempos é que eu tou aprendendo a me afastar das pessoas que não conseguem me entender ou me ouvir de jeito nenhum, e que não me ajudam nada, só me atrapalham porque a convivência com elas acaba me fazendo mal. O Maurício foi uma dessas pessoas - o caso mais extremo - mas teve outras. Se você não estiver em condições agora de se sintonizar com o que eu tou passando e tentando lidar com - a idéia de "aproximações românticas" (ou "sexuais") tá me dando ataques de pânico, e eu tou tentando CONVERSAR sobre isso - eu prefiro que a gente se afaste por uns meses. [[]], E. De: Fernando Para: Eduardo Subj: Re: Relacionamentos românticos e ataques de pânico Data: 2017aug19 Eduardo, Como seu amigo, faço perguntas e sugestões para ajudar vc a ver alternativas ao seu modo de sentir e pensar, MAS sem qualquer intenção de impor minhas posições ou condenar as suas. Semanas atrás - quando vc ameaçou só voltar a falar comigo quando eu fizesse um piercing no mamilo - vc começou a demonstrar estar incomodado com minhas observações. Depois, ANTES MESMO de nos encontrarmos, vc reclamou de que não teríamos assuntos de interesse comum para conversar, de que eu ia "ficar esfregando" minha felicidade na sua cara. Obviamente, estou tocando em nervos, disparando gatilhos seus. Não acho que qualquer das minhas falas tenha faltado com o tato. Pelo contrário: depois de tantas conversas que tivemos sobre assuntos íntimos (meus e seus), pensei que pudéssemos falar mais abertamente um com o outro, sem medo de que o outro se sentisse ofendido. Não sou seu inimigo - nem mesmo inimigo potencial - mas vc está me tratando como se eu fosse. Depois dos itens abaixo, não vou mais fazer sugestões, perguntas, nem observações sobre vc. Concordo com vc que é melhor nos afastarmos por um tempo. 1. Ataques de pânico são coisa séria, tratáveis - necessariamente, ao meu ver - com medicação. Acho que vc deveria consultar um psiquiatra. 2. Talvez vc devesse considerar mudar de psicólogo. Talvez para um profissional que ajude vc, aos poucos, a enfrentar seus medos, que vc já explicou muito bem quais são, mas que vc está defendendo com unhas e dentes, talvez sem perceber. Fique bem, cara, e conte comigo para o que precisar. Abraços, Fernando De: Eduardo Para: Fernando Subj: Re: Relacionamentos românticos e ataques de pânico Data: 2017aug19 Eu não reclamei que nós não teríamos assuntos em comum. Eu fiz uma pergunta sobre isso, talvez de um jeito meio amalucado, e parece que você entendeu ela como uma reclamação e uma indireta - e por isso você não respondeu nada. Será que dá pra gente voltar algumas casas e você reinterpretar a minha pergunta como uma pergunta mesmo? Não acho que seja o caso de eu considerar a possibilidade de tomar medicação agora. O meu homeopata tinha me dito na minha penúltima consulta com ele - dois meses e meio atrás - que os remédios que ele tava me passando não eram pra ser tomados naquela dose durante muito tempo, e na minha última consulta com ele, nessa última sexta, ele confirmou pra mim que o que aconteceu comigo nos últimos meses - muitos questões complicadas pra mim que estavam meio enterradas vieram à tona, e aos poucos elas se tornaram muito mais fáceis de conversar sobre - era algo parecido com o efeito esperado do remédio que ele tava me dando. De: Eduardo Para: Fernando Subj: Re: Relacionamentos românticos e ataques de pânico Data: 2017aug19 Oi Fernando, deixa eu rever a história do piercing no mamilo. Se você tiver entendido ela de algum jeito muito diferente do meu me diz. Um piercing no mamilo é algo que dói MUITO nos três primeiros dias, exige muito cuidado até cicatrizar (o que leva de 6 meses a um ano e meio), tem muita chance de dar errado e infeccionar ou ser rejeitado pelo corpo, e que só vale a pena fazer quando todas as condições abaixo são obedecidas... 1) a gente está muito a fim de fazer, 2) a gente tem um piercer muito experiente, atento e confiável, 3) a gente está muito a fim de cuidar dele, 4) a gente vai adaptar várias atividades nossas pra reduzir os riscos, 5) a gente está emocinalmente bem e com a imunidade alta, 6) etc, etc, etc. Eu achei que você tinha sacado - ou na hora ou depois - que fazer um piercing no mamilo tem muitos paralelos com dar em cima de pessoas (posso usar esse termo? Não me ocorre outro melhor), e que você estava cumprindo todos os pré-requisitos pra dar em cima de pessoas e dar tudo certo no final, mas eu não, eu estava numa situação em que dar em cima de pessoas era só algo incrivelmente doloroso e arriscado, com todos os indícios de que não valeria a pena... que seria mais ou menos a mesma situação com você fazer um piercing no mamilo. Tem uma questão com "iniciativa" aí. Se - SE - alguém se interessar por mim e se encarregar de "tomar a iniciativa" e se aproximar aos poucos de mim me ajudando a perder os medos & ressalvas aí algo pode dar certo, sim, mas eu não estou com a menor condição de "tomar a iniciativa" agora, exatamente porque eu tenho um monte de fobias e pânicos atrapalhando o caminho, então o que dá pra eu fazer agora é ir limpando o caminho - o que eu acho que estou fazendo bastante bem, juro, apesar de que você não tem acompanhado. Agora deixa eu rever uma outra coisa que eu não abordei no meu e-mail anterior, e que você também não abordou no seu. Pra mim a questão principal é: tem alguma chance de você reconhecer os porquês de eu não estar procurando ativamente nenhum relacionamento amoroso agora, e parar de, aham, me empurrar pra procurá-los? Uma das interpretação possíveis - uma pessimista - do seus últimos e-mails e de algumas das nossas últimas interações diz que não, que você considera absolutamente fundamental continuar a fazer esse tipo de brincadeira (?) e você é absolutamente intransigente com relação a isso. Se essa interpretação pessimista for verdadeira eu realmente prefiro manter distância de você um tempo, mesmo que você fique muito incomodado com isso e achando que eu preciso de outro tipo de terapia e de remédios psiquiátricos; prefiro continuar considerando que você é um dos meus amigos mais queridos e mais importantes, mas agora não tá dando pra gente conviver não. [[]], E. |