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A banca maluca (2025)

1. Como passar em C2: métodos 1, 2 e 3
2. A banca maluca
3. Critérios de correção
4. Não
5. Não (2)

Isto é uma versão HTMLizada destes slides da minha introdução ao curso de C2:

Estes slides são mencionados aqui:

  • 26/jun/2025: (00:51:12) [Bel] por vários dos critérios não serem compatíveis com os objetivos da disciplina
  • 26/jun/2025: (00:58:20) [Eduardo] e eu até agora não sei os critérios de vocês
  • 26/jun/2025: (01:12:16) [Reginaldo] como passar em Cálculo 2?
  • 26/jun/2025: (01:01:10) [Bel] a segunda maneira de passar na disciplina
  • 26/jun/2025: (01:14:31) [Reginaldo] e ele ainda não sabe como é um critério de correção
  • 26/jun/2025: (01:41:37) [Bel] você não escreveu o o critério não vou escrever


1. Como passar em C2: métodos 1, 2 e 3

O método 1 é óbvio: tire suas dúvidas durante as aulas, instale o Maxima, e treine um pouco em casa. Não vale a pena falar dele.

O método 2 é assim: faça uma reclamação pra coordenação dizendo que eu sou maluco, que eu dei provas em que eu cobrei coisas que não estavam no Stewart e que portanto não fazem parte do conteúdo do curso, e que você não conseguiu estudar em casa só pelo Stewart, por vídeos e pelo ChatGPT. O PURO agora está cheio de professores burnouteados que "não têm tempo" de ler nada e "não têm tempo" de abrir link nenhum, e tem boas chances da sua reclamação ser recebida por um professor desses - e que seja um dos que acha eu sou um irresponsável incorrigível. Aí ele não vai verificar nada, vai mandar um ofício pro RCN pedindo que eu não dê mais matérias obrigatórias, e vai pedir pra sua prova ser recorrigida por uma banca de três outros professores... mas repara, tem bastante chance - 50%? - da sua reclamação ser recebida por professores que não são assim, e ela ser ignorada.

O método 3 me parece mais garantido: é você fazer um "Requerimento de Revisão de Prova". Os alunos têm direito de pedir isso sempre que quiserem, e aí a sua prova vai ser recorrigida por uma banca de três professores do RCN - que geralmente são professores burnouteados que "não têm tempo" de ler nada e "não têm tempo" de abrir link nenhum.


2. A banca maluca

Depois que você receber uma prova e fizer a vista de prova dela você pode fazer um "Requerimento de Revisão de Prova", e aí a sua prova vai ser recorrigida pela Banca Maluca - uma banca de três professores de Matemática, que não são sempre os mesmos, mas vou chamá-la de "A Banca Maluca" mesmo assim.

Você pode ver alguns relatórios da Banca Maluca aqui:

RRPs

Eu já tentei entender os critérios de correção da Banca Maluca e não consegui - e também não consegui entender o que a BM considera que são os objetivos do curso de Cálculo 2, e nem como a BM lida com aipins e com outras técnicas que as pessoas deveriam ter aprendido no Ensino Médio...

Não sei se vocês sabem, mas logo depois da quarentena, em 2022.1, os meus colegas abriram um mega-processo contra mim por eu ter aprovado alunos demais durante a pandemia, e me mandaram dar provas carrascas e reprovar todo mundo que não soubesse o suficiente de C2 e C3...

...e aí no início de 2022.2 me pediram pra dar uma VS extra de cada uma das minhas turmas de 2022.1 - apesar do semestre seguinte já ter começado - e resolveram que essas VSs extras seriam abertas pra todos os reprovados. Eu preparei provas com gabaritos que eu achei que tavam bem explicados, corrigi elas, uma Banca Maluca recorrigiu elas, e só varios meses depois eu descobri que a Banca Maluca tinha aprovado um monte de gente, inclusive uma pessoa que tinha tirado 0 na minha correção, e uma outra pessoa, que tinha tirado 1.5 na minha correção mas não tinha feito nenhuma outra prova além dessa VS extra...


3. Critérios de correção

Imagina que o Alex fez uma prova parecida com a P2 de 2023.2. No item 1b dele o resultado certo era y=sqrt(C-x^2), mas ele obteve y=sqrt(C+x^2); e no item 1c ele deveria encontrar o C que fazia 3=sqrt(C-4^2) ser verdade, que era C=25, mas ao invés disso ele encontrou o C que fazia 3=sqrt(C+4^2) ser verdade, e chegou a C=-7. E no item 1d a resposta certa era y=sqrt(16-x^2), e ele chegou a y=sqrt(-7+x^2). Além disso essa questão tinha um item 1e, que pedia pras pessoas testarem se as soluções delas obedeciam uma certa equação diferencial, mas o Alex não teve tempo de fazer esse item.

O erro dele no item 1b se propagou pros itens 1c e 1d - e se ele tivesse feito o item 1e ele veria que tinha um erro de conta em algum item anterior, teria encontrado o erro de sinal nas contas dele do item 1b, e teria consertado esse erro e todo o resto.

Dá pra considerar que o Alex só cometeu um erro pequeno? Isso depende dos critérios de correção, e os critérios de correção dependem do objetivo do curso.

Numa correção mais benevolente a gente consideraria que o objetivo dessa questão era ver se os alunos sabem aplicar um certo método. E tá claro que o Alex sabe aplicar esse método quase perfeitamente, então ele perderia 0.1 no item 1b e nada nos itens seguintes, porque todas as outras contas dele estavam coerentes com o resultado dele pro item 1b - então ele não cometeu nenhum outro erro.

Pra mim - PRA MIM - o objetivo de Cálculo 2 é preparar as pessoas pros cursos seguintes. Em Cálculo 2 a gente aprendia (no passado mesmo! Mais sobre isso em breve!) a fazer contas enormes - tipo resolver integrais complicadas - na mão, e a chegar no resultado certo... e em contas tão grandes é quase impossível chegar no resultado certo direto sem errar, então o mais importante pros cursos seguintes era que as pessoas aprendiam um monte de técnicas pra fazer as contas ficarem muito fáceis de revisar.


Se o Alex tivesse bastante prática em revisar as contas dele ele teria visto o erro de sinal no item 1b dele e teria consertado o resto das contas dele, né, mas ele não viu esse erro, então as respostas dele mostram que ele ainda não tá bom o suficiente nem em fazer contas fáceis de revisar e nem em revisar as próprias contas... aí, se o objetivo do curso é fazer as pessoas aprenderem a fazer contas fáceis de revisar, então os erros do Alex são bem graves, e ele tira 0 nos item 1c e 1d.

Agora há pouco eu disse que em Cálculo 2 as pessoas aprendiam a "resolver integrais enormes na mão". Vamos dividir isso em dois subobjetivos diferentes: 1) "resolver integrais" e 2) "enormes na mão".

Hoje em dia a gente tem programas de computação simbólica que resolvem integrais muito bem, então se os alunos aprendem a usar algum desses programas eles num certo sentido aprenderam a "resolver integrais"... e aí é melhor trabalhar o segundo subobjetivo, que é (aprender a fazer contas) "enormes na mão" (e chegar no resultado certo), de um outro modo, treinando técnicas pra fazer contas fáceis de revisar.

Outra coisa: alunos que aprendem a usar programas de computação simbólica conseguem usar esses programas pra revisar os passos difíceis das contas deles quando eles estão estudando em casa, e acabam conseguindo estudar bem melhor.

Voltando aos critérios de correção: às vezes a gente decide se um erro numa prova é pequeno ou não olhando o resto da prova da pessoa e as provas anteriores dela... e aí se der pra ver pelo resto da prova do Alex que ele sabe bem um monte de técnicas pra fazer "contas fáceis de revisar" então dá pra considerar que o erro de sinal dele é um erro pequeno e dar mais pontos pra ele, e se ele fez a prova relâmpago de Maxima e se deu super bem nela então eu posso considerar que ele aprendeu mais técnicas importantes, tanto pra "resolver integrais" como pra "revisar contas complicadas em casa", e posso dar mais pontos pra ele.


Agora vamos considerar que o Carlos resolveu os itens 1b, 1c e 1d da prova exatamente da mesma forma que o Alex, e que o Carlos também não fez o item 1e - mas as provas do Alex e do Carlos são totalmente diferentes no resto... o Alex mostrou que sabe um monte de técnicas pra fazer "contas fáceis de revisar" mas o resto da prova do Carlos é uma bagunça, e o Carlos vem na vista de prova e insiste que os erros dele são pequenos e que o objetivo do curso é só aprender métodos pra resolver integrais e EDOs... bom, desde o final de 2024.1 a gente tem uma solução maravilhosa pra isso - o Requerimento de Revisão de Prova!

Em 2024.1 quatro alunos de Cálculo 2, A_1, A_2, A_3 e A_4, fizeram Requerimentos de Revisão de Prova pedindo que a P1 de Cálculo 2 deles fosse recorrigida. O departamento montou uma banca com três professores de Matemática, B_1, B_2 e B_3, e o membro B_1 da banca entrou em contato comigo da banca me pediu as provas e o gabarito delas. Eu criei um grupo de Whatsapp comigo e com o B_1, o B_2 e o B_3, e mandei um monte de material - incluindo o PDFzinho "Introdução ao curso", que fala a beça sobre os objetivos do curso e critérios de correção, e os "Exercícios de substituição", que explicam a questão sobre o `[:=]'...

Este link conta as partes mais importantes da história:

http://anggtwu.net/2024-rev.html


4. Não

Na P2 de 2024.2 aconteceu uma coisa que me deixou super puto. Cinco alunos resolveram o item (2a) fazendo exatamente o mesmo passo maluco:

(...)

Nas provas dos cinco alunos a quarta linha da coisa entre parênteses era sempre uma expressão sem sinal de `=', e cada pessoa cometia outros erros, como D ao invés de D^2, parênteses faltando, coisas assim.

Eu costumo considerar coisas assim como "indícios fortes de cola". Veja isto aqui, que é de 2024.1:

http://anggtwu.net/2024-rev.html#whatsapp

Na verdade não importa muito se as pessoas colaram umas das outras ou não... elas fizeram esse erro porque interpretaram errado o modo como eu respondi uma dúvida de uma delas no grupo de WhatsApp da turma, e elas "estudaram juntas" - e elas desistiram de entender esse passo e copiaram ele de qualquer jeito.


Normalmente a gente só considera que uma pessoa colou quando durante a prova ela consultou algo escrito ou se comunicou com outro aluno, né... mas vamos imaginar um caso mais interessante: cinco pessoas têm memória fotográfica, e elas estudaram juntas, decoraram um método que tem um passo que ninguém entendeu, e aplicaram esse método na prova. No sentido usual de "cola" isso não é cola, né? Elas só consultaram a memória delas...

Eu tou há anos tentando ajustar os critérios de correção de C2 pra que esse tipo de coisa não aconteça. Por exemplo, a maioria das minhas provas tem esse aviso aqui:

Nestas questões o que vai contar mais pontos é você organizar as contas de modo que cada passo seja fácil de entender, de verificar, e de justificar - "chegar no resultado certo" vai valer relativamente pouco.

...e eu tento definir o que são "erros gravíssimos", e quais são os tipos de erros gravíssimos que podem anular uma questão.


Os critérios de correção acabam virando dicas de como estudar. Repara, decorar dá trabalho... então vamos imaginar que os cinco alunos dessa história levaram meia hora pra decorar o método com um passo maluco no meio. Se estivesse super claro pra eles que escrever um passo sem pé nem cabeça na prova poderia ser considerado um erro gravíssimo e poderia anular a questão eles teriam organizado o tempo deles de forma diferente -- eles teriam transformado a "meia hora pra decorar o método" em "15 minutos pra decorar o que der e 15 minutos pra tentar entender os passos mais estranhos"...

...mas aí a gente teve dois problemas. Entre esses 5 alunos tinha uma aluna que vivia tentando aprender métodos, e eu agora aprendi que eu tenho que responder essas pessoas assim,

- É só usar esse método aqui?
- NÃO.

...e repetir sempre que pra quem gosta de decorar métodos decorar um método pode ser um bom começo sim, mas depois de você aplicar um método que você decorou você SEMPRE tem que verificar se cada passo é fácil de justificar, nesse sentido aqui:

2hT36 Contas com justificativas


5. Não (2)

...e o segundo problema é que as bancas de revisão de prova costumam ignorar os meus critérios de correção, os meus critérios do que é um "erro gravíssimo" e o meu modo de lidar com "índicios fortes de cola". Aí alguns desses alunos fizeram requerimentos de revisão de prova, as bancas de revisão desanularam as questões 2 desses alunos, corrigiram elas de outros jeitos, e deram um montão de pontos pra esses alunos.

Na página anterior eu disse que "os critérios de correção acabam virando dicas de como estudar". Mas as bancas de revisão de prova fazem com que os meus critérios adiantem muito pouco na prática... o máximo que eu consigo dizer pros alunos é que se eles usarem os meus critérios de correção como dicas de como estudar eles vão aprender 1) um monte de coisas úteis em pouco tempo, e 2) vão "passar com honra"...

(Veja também esta seção: "Isso me atrapalha?")