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Projeto Arte com Muros - PURO 2010

Caros alunos, professores e funcionários do PURO,

Como resultado de proposta idealizada pelos professores do PURO de atividade acadêmico-cultural de recepção aos alunos para o segundo semestre, no dia 11 de setembro de 2010 relizaremos a atividade "Um pincel na mão e uma idéia na cabeça: defenda a Universidade Pública com arte."

Com o objetivo de proporcionar a integração entre alunos, professores, funcionários e comunidade local, tal atividade envolverá a pintura de painéis nos muros externos do pólo. As pinturas sugeridas terão como tema central a defesa da Universidade Pública, uma vez que tal temática nos interessa e nos motiva a todos os envolvidos.

Além de uma expressão artística, a pintura do muro refletirá nosso comprometimento com a temática proposta, bem como proporcionará a possibilidade de integração dos diversos grupos que compõem o PURO. Portanto, todos estão convidados a participar do evento, independente de suas habilidades artísticas específicas!

Os interessados em participar da atividade devem formar grupos de no mínimo três pessoas e fazer inscrição prévia junto ao Departamento Interdisciplinar (RIR) até o dia 20 de agosto, apresentando na ocasião da inscrição rascunho ou "descrição da idéia" a ser pintada no espaço destinado ao grupo. Além de desenhos e pinturas, serão aceitas propostas de frases, palavras, letras de músicas que tenham relação com a temática proposta.

Em anexo os interessados encontrarão a ficha de inscrição para o evento. Nela constam todas as orientações para a consecução dos painéis, bem como espaço para o esboço do painel sugerido.

Além da pintura dos muros, a atividade envolverá ainda uma aula em defesa da universidade pública, proferida pelo professor Roberto Leher (Faculdade de Educação da UFRJ) e de shows de música que marcarão o encerramento da atividade neste dia.

Contamos com a participação de todos neste momento tão importante para a consolidação do nosso pólo! A criatividade pode ser também uma ferramenta crítica de intervenção na realidade em defesa da Universidade Pública!

Muros pintados pelos estudantes na Universidade de Bogotá - Colombia


Minha proposta:

Johanna: Elas jogaram a sua cabeça no Hebro, e dizem que ela ainda
         chamava pelo nome da sua amada enquanto flutuava até o mar.
         Esta é a cabeça de Orfeu, que enganou a morte, e que agora
         não consegue morrer.

Robespierre: Você nos toma por camponeses, Johanna? Os mitos estão
         mortos. Os deuses estão mortos. Os fantasmas, espíritos e
         assombrações estão mortos.
         Só existem o Estado, e o Povo.

Johanna: Não, Monsieur Robespierre. Há muito mais do que isto.

Robespierre: Chega destas besteiras. Henri - traga-me a cabeça.

Johanna: Agora, messire Orfeu. Cante para eles.

Vivemos num mundo muito mais complicado que o da época em que os movimentos de massa eram numerosos e funcionavam. Hoje em dia gente como eu olha pra um mural com figuras com punhos erguidos e frases como "basta de xxx", "não admitimos yyy", "zzz não! Adiante companheiros! União, força e liberdade" - e pensamos: "será que isto adianta?"...

Temos milhares de problemas urgentes que não são resolvidos. Coisas absurdas acontecem em torno de nós a toda hora, com tanta frequência que o tipo usual de sentimento de revolta se torna ridículo. Alguém que se levanta contra alguma atrocidade e espera apoio das pessoas em torno vai ter que responder a uma questão difícil: porque devemos fazer algo contra esta atrocidade em particular, se o que tentamos fazer contra as outras não funcionou?

Eu olho para muros pintado com slogans "revolucionários" e a minha reação natural é frustração e apatia. "Será que é só isto que as pessoas conseguem fazer? Elas tentam se juntar em grupo, e?... Porque o resultado me soa tão patético? Será que qualquer forma de ação é ridícula? Será que as pessoas que, como eu, têm autocrítica demais, vão sempre ficar de fora de tudo?"

O Mercado nos diz que precisamos de uma Universidade dinâmica e eficiente, que forme profissionais competitivos o mais rápido possível. E fora da universidade o Mercado diz: "pessoas muito mais qualificadas que você, capazes de se dedicarem de corpo e alma a qualquer tarefa que façam, disputam a tapa qualquer vaga de entregador de farmácia". O Mercado diz que os movimentos sociais são utopias ingênuas, vencidas, e que são o refúgio dos incompetentes. Diz também que não há outra realidade a não ser o próprio Mercado. Que o Mercado venceu, e pronto. Que as leis são fracas e lentas, que acordos como o entre a UFF e a prefeitura de Rio das Ostras não serão cumpridos, que a impunidade é a norma, não a exceção, e que a única atitude madura é reconhecermos tudo isto e rirmos de tudo que parece ingênuo ou diferente.


Que posição nós podemos ter diante de tudo isto? Como ver a Universidade Pública como algo mais que um navio encalhado, à beira de ser esmagado por quatro "realidades" diferentes: o Mercado, as Leis, os Movimentos Sociais, e a idéia de que tudo é ridículo e nada adianta?...

A minha posição tem sido de que a Universidade é exatamente o contrário da "instituição jovem e dinâmica" que se gostaria que ela fosse. A Universidade é o lugar da linguagem e do pensamento, e portanto o lugar de acesso a três mil anos de cultura escrita - e não só das "verdades" (por exemplo, "verdades científicas") descobertas ou criadas nestes três mil anos, como também das histórias.

Claro que quando dizemos "Universidade" estamos empacotando muitas idéias diferentes, algumas até incompatíveis com as outras, numa palavra só. Idem para "movimentos sociais" - um termo que para algumas pessoa pode evocar a Revolução Francesa e o socialismo escandinavo, e para outras pessoas vai fazê-las pensar em estudantes barulhentos em festas eternas e em gente pobre e suja que quer só ficar reclamando ao invés de ir trabalhar.

É possível separarmos os vários significados de "Universidade" - veja por exemplo o capítulo 13 do "Zen e a arte da Manutenção de Motocicletas", neste link - mas isto envolve um trabalho que é intrinsicamente individual e não-oral: o argumento que o personagem do livro usa, que mostra como ver a diferenção entre a "instituição" da universidade, com prédios, funcionários, regras e salários, e o "espírito" da universidade, é tão mais longo do que os que estamos acostumados a ouvir e a usar em discussões cotidianas, e ao mesmo tempo tão eficaz, que nos faz pensar numa outra questão: como fazer um argumento que toque tanto quem o ouve que ele nunca mais seja esquecido? O autor do livro poderia ter tentado encontrar 4 ou 5 slogans curtos que resumissem as suas idéias e que pudessem ser repetidos por todo mundo - ele certamente pensou nesta possibilidade, já que na década de 70 slogans eram comuns - mas não foi isto que ele fez, e o que ele fez, e que ele discute explicitamente no livro, aponta numa outra direção:

Permanência
Trabalho
o autor de uma história não pode ser demitido no meio dela e
trocado por outro
se você quiser ferramentas olhe pra trás, aprenda com o que
já foi feito, com o que toca mais

Três usos da faca