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Xerecas satânicas: que história foi essa?

Muita gente falou sobre os boatos em torno da "festa da UFF" que aconteceu no final de maio no Pólo de Rio das Ostras. Uma série de fotos mostrando uma mulher sendo costurada provocou muito rebuliço. Mas você quer saber mesmo o que aconteceu? Então leia aqui: neste jornal você pode saber a história real, sem boatos. Foi o encerramento de um evento acadêmico e não teve apoio financeiro de nenhum órgão público. Sobre esse caso já se manifestaram os próprios professores de Produção Cultural do Campus da UFF de Rio das Ostras, com apoios públicos da ADUff, dos professores de Produção Cultural de Niterói, dos professores de Serviço Social do Campus de Rio das Ostras e do Centro Acadêmico dos alunos de Produção Cultural. E até um poema inédito do poeta Ricardo Chacal o evento já ganhou.


Carta de esclarecimento do Corpo docente do Departamento de Artes e Estudos Culturais/ RAE do Instituto de Humanidades e Saúde/ IHS da Universidade Federal Fluminense/UFF:

Nós, professores do Curso de Produção Cultural da UFF, sediado em Rio das Ostras, vimos esclarecer os eventos realizados no dia 28 de Maio no nosso Campus. Nesse dia, foi realizado o "II Seminário de Investigação e Criação do Grupo de Pesquisas UFF/CNPq: Cultura e Cidade Contemporânea: arte, política cultural e resistências", sob o título CORPO E RESISTÊNCIAS. As atividades contemplavam comunicações orais dos estudantes bolsistas (CNPq e FAPERJ) sobre suas pesquisas de iniciação científica e a apresentação de uma performance de um Coletivo de Arte Autonomista, intitulado COYOTE. O Coletivo ofereceu gratuitamente o seu trabalho como forma de apresentar uma prática do uso do corpo em performances artísticas e políticas. Para a performance, assumiu-se como tema a onda de estupros que vem ocorrendo em Rio das Ostras. Os eventos integram, portanto, um conjunto de atividades acadêmicas que vêm sendo desenvolvidas ao longo dos dois últimos anos.

Nosso curso estuda as diversas manifestações de Cultura e Arte. Por isso, necessita ter plena liberdade para tratar de assuntos e performances relacionados aos temas pesquisados, sem constrangimentos. Portanto, o que está em jogo, de fato, é a autonomia docente e a garantia de plena liberdade de estudos e pensamento crítico na Universidade Pública. Por esta razão, trazemos este esclarecimento a público e nos dispomos a dirimir quaisquer dúvidas sobre os eventos acadêmicos ocorridos no nosso Campus.

Carta assinada pelos seguintes professores do curso de Produção Cultural: Adriana Russi, André Guerra Cotta, Áureo Guilherme Mendonça, Beatriz Cerbino, Christina Vital, Clarissa Semensato, Daniel Caetano, Denise Mancebo Zenicola, Ericson Saint Clair, Gilmar Rocha, Jorge Vasconcellos, Leandro Mendonça, Márcia Ferran, Rodrigo Cazes, Rôssi Alves, Toshie Nishio


Nota da ADUFF-SSind:

A diretoria da Associação dos Docentes da Universidade Federal Fluminense (ADUFF-SSind) expressa a sua preocupação sobre os encaminhamentos oficiais da Reitoria acerca da atividade acadêmica e cultural ocorrida no campus de Rio das Ostras, no dia 28 de maio de 2014. Por seu teor, a nota publicada no site oficial da Instituição, no dia 2 de junho de 2014, prenuncia claramente atitudes persecutórias aos discentes, docentes e gestores locais. A composição da Comissão de Sindicância desconsidera o perfil profissional da área de Produção Cultural - campo que fundamenta a atividade acadêmica em questão - e desconsidera que a atividade era parte de um evento conduzido por um grupo de pesquisa cadastrado junto ao Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq), que conta com bolsas de fomento e reconhecimento pela PROPPI da UFF. Nesse sentido, reafirmamos a nossa defesa da liberdade didático-pedagógica, a autonomia do curso de Produção Cultural e do Instituto de Humanidades e Saúde e a que a Direção Central da UFF leve em consideração instâncias decisórias do campus de Rio das Ostras.

Publicada no endereço http://aduff.org.br/_novosite/noticias/?noticia_ano=2014&noticia_id=4265


Moção De Apoio do Colegiado do Curso de Produção Cultural de Niterói:

O colegiado do Curso de Graduação em Produção Cultural da Universidade Federal Fluminense, sediada em Niterói, tal como deliberado em sua última reunião, vem aqui manifestar seu apoio aos docentes, discentes e técnicos administrativos do Curso de Graduação em Produção Cultural do Pólo Universitário de Rio das Ostras, em razão dos desdobramentos acerca da confraternização intitulada "Xereca Satânica", realizada no campus de Rio das Ostras da Universidade Federal Fluminense.

Causa-nos espanto o grau de estranheza e criminalização com a qual tanto a perfomance da artista Larissa Vitral, quanto a própria universidade foram tratadas nos últimos dias. Por se tratar de um espaço de experimentação de linguagens e reflexão - com seus evidentes riscos de choque à moral e ao senso comum -, é justamente na universidade onde devem ser expostos os descontentamentos, estimulados os debates, e negados quaisquer vícios de censura.

Essencial ressaltar como a insegurança na cidade de Rio das Ostras vem afetando diferentemente homens e mulheres. O alto índice de estupros registrados no município evidencia a necessidade de medidas urgentes para a proteção do corpo feminino. Por óbvio, a performance denuncia a incapacidade de nossa sociedade em proporcionar um espaço de convivência igualitária às nossas diversidades de gênero. Em função disso, parece-nos mais prudente que, de imediato, fossem tomadas providências que garantissem patamares mais adequados à plena socialidade citadina às mulheres que ora residem ou visitam a cidade.

Como tal, queremos aqui repudiar a forma como alunos e professores do Pólo Universitário de Rio das Ostras vêm sendo tratados nestes dias. Por óbvio, é obrigação da administração da universidade pública, bem como de seus docentes e discentes, avaliar e prestar contas à sociedade brasileira sobre suas ações no âmbito do ensino, pesquisa e extensão. No entanto, é inadmissível qualquer tratamento que coloque em suspenso a liberdade de expressão, de pensamento, de manifestação artístico-cultural, dentre outros direitos fundamentais garantidos pela Constituição, de nossos alunos, professores e demais funcionários.

Niterói, 3 de junho de 2014.

Colegiado do Curso de Graduação em Produção Cultural


Nota do colegiado do curso de serviço social da UFF de Rio das Ostras:

BEM-AVENTURADAS SEJAM AS XERECAS SATÂNIKS!

- Por propiciar aos docentes e discentes do Curso de Produção Cultural, responsáveis pelo evento em questão, a oportunidade de refletir sobre o significado e a finalidade social da arte e sobre a responsabilidade e consequência de seus conteúdos;

- Por lançar à comunidade acadêmica mais um desafio para criar alternativas de convívio plural, autônomo e ético, que não se limite à defesa axiológica de tais princípios, mas que sejam efetivamente capazes de orientar uma prática cotidiana fundada nas conquistas humanas essenciais (liberdade, igualdade, alteridade) e em face da diversidade de concepções estéticas, morais e políticas, cujo limite para sua manifestação seja exclusivamente o campo democrático;

- Pela nudez desavergonhada, desmedida, explícita, bizarra que, como espelho, desnudou o moralismo, o autoritarismo e o caráter reacionário daqueles que banalizam a barbárie cotidiana (desigualdade, desemprego, déficit habitacional, violência urbana, violência sexual e de gênero, sucateamento da saúde, da educação) e medem a dignidade humana e o papel da Universidade exclusivamente pela régua de seu moralismo tacanho;

- Por nos lembrar que a Universidade Pública é um espaço de todos, autônomo, plural e laico e que, por isso, não por apelos moralistas, deve pautar suas atividades acadêmicas, culturais e festivas nesses princípios e quando, se por ventura, qualquer desses princípios estiver ameaçado, cabe à própria comunidade acadêmica, no exercício de sua autonomia (conquistada com muita luta) encontrar democraticamente os caminhos que levem à recomposição de tais princípios.

- Por nos alertar sobre os riscos éticos e políticos de práticas que podem favorecer condenações arbitrárias e exemplares (administrativas, judiciais, morais) por parte dos poderes instituídos (gestores, autoridades policiais, mídia) e que podem servir de justificativa para exercer a patrulha ideológica, perseguições e retaliações políticas a grupos e pessoas que no cotidiano acadêmico e social questionam as decisões antidemocráticas, a falta de transparência e os desmandos praticados na Universidade e na sociedade;

- Por nos advertir que grande parte da opinião pública, da sociedade, das autoridades institucionais e policiais não se interessa ou ignora solenemente as mazelas atuais da educação pública, no nosso caso, educação superior federal. Nos advertir que só merecemos sua atenção quando um episódio pontual pode ser explorado com sensacionalismo, sob alegação de ultraje à moralidade, à essência da atividade acadêmica, à formação de novos quadros profissionais e ao financiamento social de nossa atividade. Pouco importa como e o que estamos produzindo em nossos projetos de ensino, pesquisa e extensão. Pouco importa em que condições (falta de, na verdade) estamos realizando nossas atividades. Há oito anos esperamos pela construção de nosso campus Universitário, que prevê obras essenciais para a realização de nossas atividades; pela contratação de docentes previstos nos projetos acadêmicos de nossos cursos, pela aquisição de equipamentos para instalação de laboratórios, por melhorias no saneamento básico, na pavimentação e iluminação públicas. Há oito anos reivindicamos rondas policiais sistemáticas no entorno do Polo, pela incidência de assaltos, roubos e violência sexual que afetam membros da comunidade acadêmica, especialmente mulheres. Em 2012 paralisamos nossas atividades por 120 dias, na luta por melhores condições de trabalho e de ensino. Há oito anos praticamente imploramos a atenção da opinião pública, da sociedade e das autoridades públicas sobre as condições precárias que assolam nossa realidade. Em dois dias, as Xerecas Satâniks conseguiram mais atenção da mídia, da sociedade e das autoridades institucionais e policiais do que toda a comunidade acadêmica nesses oito anos. O poeta tem razão, " a nossa dor não sai no jornal";

POR ISSO, BEM-AVENTURADAS(os) SEJAM AS GENITÁLIAS, OS CORPOS E AS MENTES QUE PARA EXERCITAR A CRIAÇÃO, VIVER A DIFERENÇA, A LIBERDADE, A IGUALDADE E O DIREITO À EDUCAÇÃO NÃO PRECISEM SER COSTURADAS, CENSURADAS, ESTIGMATIZADAS, VIOLENTADAS, REPRIMIDAS, ODIADAS, CONDENADAS E CRIMINALIZADAS.


Informe oficial do Centro Acadêmico de Produção Cultural da UFF-Rio das Ostras:

Devido à repercussão sensacionalista e distorcida que a "velha mídia" deu para as atividades desenvolvidas durante o "II Seminário de Investigação e Criação do Grupo de Pesquisas UFF/CNPq: Cultura e Cidade Contemporânea: arte, política cultural e resistências", sob o título CORPO E RESISTÊNCIAS, ocorridos no dia 28 de maio de 2014, tornamos público nosso total e irrestrito apoio ao grupo de pesquisa, às estudantes e ao professor integrantes deste, bem como afirmar nossa posição de defesa da autonomia acadêmica, da liberdade de pesquisa e de expressão artístico-cultural.

Apresentamos também nosso total repúdio a toda e qualquer forma de criminalização, de repressão ou de tolhimento das atividades ligadas à pesquisa e a produção de conhecimento artístico-científico no âmbito acadêmico, quer seja por parte da própria Universidade Federal Fluminense, que não demonstrou qualquer tipo de apoio ou deu respaldo ao corpo docente de sua unidade de Rio das Ostras, quer seja por parte dos grandes veículos de comunicação, ao divulgarem de maneira irresponsável e leviana, dados incorretos sobre o evento, colocando em risco a integridade física, moral e psicológica dos envolvidos.

Os estudantes, os funcionários e o corpo docente da UFF-Rio das Ostras enfrentam a muitos anos inúmeras dificuldades e limitações devido à precariedade da Unidade, tornando inviáveis a continuação de suas atividades. O C.A. de Produção Cultural UFF-Rio das Ostras, ao longo dos últimos meses, vem buscando e propondo soluções para estes problemas. Entendemos, portanto, que a postura "denuncista" incentivada pela Reitoria, baseando-se apenas no sensacionalismo midiático, presta um desserviço ao conjunto de forças que se somam no sentido de construir uma universidade plural, diversa, democrática e autônoma.

Centro Acadêmico de Produção Cultural UFF Rio das Ostras - Gestão Kairós


Agora vamos ler um relato de alguém que esteve lá?

Eu fui parar no espaço da amendoeira quase por acidente naquele dia. Eu sabia que ia ter uma performance, mas eu não estava dando muita bola pra ela. Num momento eu disse pra minha amiga com quem eu estava conversando "ei, tem umas pessoas peladas, vamos ficar mais perto pra ver o que vai acontecer?" Ok, era uma mulher pelada, duas mais ou menos, e um cara de short, com uma camada de argila na pele, fazendo percussão em canos de metal no chão, perto de uma fogueira - até aí nada de especial. Uma das mulheres semi-peladas começa a batucar, quase sem noção de ritmo, num latão de lixo daqueles grandes, cor-de-laranja, com duas rodas, e a cantar uns funks com letras de protesto - uns que eu já tinha ouvido em manifestações no Rio, outros, como um sobre a Aracruz Celulose, que eram novidade.

Eu tinha ouvido algo sobre Anarcofunk. Será que alguns dos performers eram do Anarcofunk? O que é Anarcofunk? É como se fosse uma banda, com um número pequeno e fixo de componentes, ou é um coletivo grande, ou o quê? Será que algumas dessas letras de protesto - e das que eu ouvia em protestos no Rio - tinham sido inventadas por aquelas pessoas que estavam à minha frente?

Aí a garota pelada pega uma bandeirinha estilizada de pano, de tipo uns 15x20cm, e começa a enfiar dentro da xereca. Dá um trabalho, ela leva uns 5 mins fazendo isso. Até aí tudo bem, também. Aí ela se deita sobre duas mesas de bar de plástico colocadas uma do lado da outra. A amiga dela - semi-pelada - ajuda ela a terminar de enfiar. Aí essa amiga pega agulha e linha e, pelo menos aparentemente, começa a costurar a xereca da que tá com a bandeira.

Eu tava longe e não dava pra ver direito. Na verdade, como a luz era muito fraca, a gente quase só conseguia ver um pouquinho mais quando espocava um flash, ou quando as câmeras lançavam aquela luz mais forte durante um ou dois segundos que elas usam pra ajustar o foco - e então eu comecei a ter uma relação ambivalente com as câmeras, porque um lado eu ainda tinha a minha relação normal de desprezar as pessoas que não conseguem estar totalmente presentes nas situações, e aí ficam tirando fotos (que vão ficar péssimas) pra postar no Facebook, e por outro lado as luzes das câmeras eram o que permitia a quem estava longe ver um pouquinho mais... eu comecei a perguntar pra pessoas que estavam perto de mim o que estava acontecendo, e todo mundo achava que uma performer estava costurando a outra, mas ninguém tinha certeza absoluta... e eu não via nada que parecesse com luvas cirúrgicas ou desinfecção de nenhum tipo, e ISSO começou a me deixar muito agoniado - eu pensei, q*ralho, que que são essas pessoas? Todo mundo que eu conheço de body modifications hoje em dia é obcecado por esterilização e segurança... que tipo de riscos essas pessoas estão correndo? Que infecções podem acontecer? Elas pesquisaram e têm praticamente certeza de que o risco de ter algo difícil de tratar é muito baixo? Ou a certeza é outra, é a que a da xereca está num daqueles estados alterados nos quais a imunidade do corpo fica altíssima - como a de índios e faquires? Que tipo de cumplicidade existe entre que a que é costurada e a que costura? Será que se a que está costurando se desconcentrar a costurada pode perder a concentração também?... e as pessoas diziam "nossa, isso deve doer muito", mas a costurada se levantou, ficou em pé defronte da fogueira, com um sorriso de orelha a orelha e uma postura imponente de quem está acostumada a ficar nua em público, e começou a desfazer parte da costura puxando os fios com as mãos, tirou a bandeira da xereca, depois segurou-a logo acima da fogo até que ela começasse a se incendiar, ficou dançando com a bandeira em chamas um tempão, e só depois tirou o resto dos fios da costura... depois uma das semi-peladas se deitou na mesa, e a outra começou a fazer pequenos cortes nela um pouco acima do peito com um bisturi - e a que estava sendo cortada começou com uma cara de dor, mas logo depois estava com um sorriso enorme também, e isso eu estava assistindo bem de perto, e dessa vez eu fiquei agoniado porque o jeito de fazer o corte me parecia totalmente sem noção, a que cortava ia e vinha com a ponta do bisturi várias vezes sobre a mesma linha de leve, como se estivesse raspando aquela linha... e como eu formo quelóides com muita facilidade eu sempre tive uma coisa de que cada corte proposital tem que ser feito com muito cuidado e precisão, não dá pra errar... agora é que eu tou vendo que nunca me ocorre me imaginar no lugar de alguém que tenha uma cicatrização mega-boa, e cujas cicatrizes sempre desaparecem...

Outra coisa importante é como a atitude das pessoas que estavam assistindo foi mudando. No início era um mero "uau" com risinhos; depois virou algo tipo "eu não acredito que estou assistindo isso", meio de choque, meio de "nossa, isso vai dar merda" - mas por mais que a performance fosse chocante e até, pra algumas pessoas, talvez ofensiva, ninguém teve nenhuma atitude de interrompê-la... pelo contrário, nossa passividade de espectadores foi quebrada - nós nos tornávamos cúmplices, nós tínhamos que cuidar da segurança da performance da mesma forma que ninguém na platéia de um circo atrapalha um número de corda bamba ou o de um malabarista com facas... aliás, éramos ainda mais responsáveis ainda do que num circo, porque era claro que a performance teria repercussões posteriores, e nós teríamos que defendê-la, e defender o espaço da amendoeira, das pessoas que nas semanas seguintes poderiam querer punir os responsáveis e fechar o espaço...

Depois da performance as pessoas ficaram eletrizadas durante horas - eu fiquei até as 3 da manhã conversando com várias pessoas e grupinhos lá perto da amendoeira, e todas as conversas eram fantásticas. Uma coisa que eu pensei foi: se nós tivermos que defender essa performance quando der merda depois, uma das coisas que podemos fazer é contar algumas das conversas que surgiram, e que nunca teriam acontecido sem a performance.

Logo depois dela eu estava conversando com o Tiago Abs, um amigo meu que estuda Produção Cultural, sobre o quanto dela a gente achava que tinha sido improviso, e ele disse que ele tinha se oferecido pra ajudar fazendo projeções que combinassem com a performance, e o pessoal do grupo disse pra ele: olha, não dá, nem nós mesmos sabemos direito o que vai acontecer - e, bom, eu desconfiava que havia muito improviso, isso explicaria porque muitas partes eram genuinamente chatas, a energia baixava, e outras partes tinham uma energia e uma vida impossível de se ter em coisas ensaiadas... depois eu e o Tiago tivessemos outra conversa super legal, sobre a componente sexual da performance - a dona da xereca ainda passou um tempo andando sem roupa, e todo mundo do grupo aproveitou que a performance tinha acabado pra beber muita cerveja no pouquinho tempo em que eles ainda teriam energia pra isso antes de irem pro hotel... e era legal que normalmente a gente vê de forma sexual corpos nus, mas a atitude de todo mundo com a Raíssa era de admiração e proteção, tipo, se qualquer um desse em cima dela a gente consideraria uma falta de educação enorme, e daria um puxão de orelha no cara -

(Texto de Eduardo Ochs, professor do Departamento de Física e Matemática do Campus de Rio das Ostras - UFF. Link para o original)


Um Poema:

A xereca satânica de Rio das Ostras
É performance é voodoo é high tech é tosca
A xereca satânica de Rio das Ostras
Protesto do corpo contra o controle da coisa
A xereca satânica de Rio das Ostras
A costura do mundo cada dia mais frouxa
A xereca satânica de Rio das Ostras
Ostrogodos em luta contra corruptos pastores
A xereca satânica de Rio das Ostras
O que ela esconde o que ela mostra
A xereca satânica de Rio das Ostras

(Ricardo Chacal)


Pronto! Agora você pode ter a sua própria opinião sobre o que realmente aconteceu. Afinal de contas, ninguém merece ter que discutir boatos malucos sobre "rituais satânicos" ou "ocultação de cadáveres", não é mesmo? E lembre-se: a Universidade Pública é um local criado para que se possa fazer estudos sérios - e está aberta à sociedade. Vá ao Puro um dia, lá você verá que pouco a pouco estamos construindo em Rio das Ostras uma Faculdade de alto nível para que os alunos da região possam estudar e se formar.