Quick
index
main
eev
eepitch
maths
angg
blogme
dednat6
littlelangs
PURO
(C2,C3,C4,
 λ,ES,
 GA,MD,
 Caepro,
 textos,
 Chapa 1)

emacs
lua
(la)tex
maxima
 qdraw
git
lean4
agda
forth
squeak
icon
tcl
tikz
fvwm
debian
irc
contact

Projeto: Semana de Paralisação e Pesquisa

Quick index:



1. Teletubbies

Logo antes da reunião de 1º/julho/2010 do BCC começar eu fiz uma apresentação-pirata, não agendada, aproveitando que o Bazilio ia se atrasar um pouco porque estava vindo de uma outra reunião. Eu apresentei um trecho de um episódio dos Teletubbies, e fiz uns poucos comentários logo depois. Aqui vai uma transcrição do trecho que eu mostrei:

NARRATOR:    It wasn't very long before he saw Dipsy's hat.

TINKY-WINKY: Hat!

NARRATOR:    So he put it in his bag.

TINKY-WINKY: Bag!

TINKY-WINKY: Hat in Bag!

             (Drum roll)
             Dddrrrruuuummm!!!!

TINKY-WINKY: Yay!

NARRATOR:    A little further on Tinky-Winky saw Laa-Laa's ball.

TINKY-WINKY: Laa-Laa's ball!

NARRATOR:    So Tinky-Winky put it in his bag.

TINKY-WINKY: Ball in bag!

             (Drum roll)
             Dddrrrruuuummm!!!!

TINKY-WINKY: Yay!

NARRATOR:    He hadn't gone very far
             when he saw Po's scooter.

TINKY-WINKY: Po's scooter!

NARRATOR:    So he put it in his bag.

TINKY-WINKY: Scooter in bag!

             (Drum roll)
             Dddrrrruuuummm!!!!

TINKY-WINKY: Yay!

NARRATOR:    There, now Tinky-Winky's bag
             was all full up.
             Tinky-Winky's bag was rather heavy.

TINKY-WINKY: Rather heavy.

NARRATOR:    Tinky-Winky couldn't carry it.

TINKY-WINKY: Uh-oh!

NARRATOR:    Can you remember what's inside the bag?

NARRATOR:    Well let's have a look.

TINKY-WINKY: Uh-oh!

NARRATOR:    What's in the bag, Tinky-Winky?

NARRATOR:    Po's scooter? Oh no...

NARRATOR:    What else is in the bag?

TINKY-WINKY: Uh-oh!

NARRATOR:    What's in the bag, Tinky-Winky?

TINKY-WINKY: Laa-Laa's ball!

NARRATOR:    Laa-Laa's ball? What else?

TINKY-WINKY: Uh-oh!

NARRATOR:    What's in the bag, Tinky-Winky?

TINKY-WINKY: Dipsy's hat!

NARRATOR:    Dipsy's hat? No wonder the bag is so heavy, Tinky-Winky!

D/L/P:       Hat? Scooter? Ball?

NARRATOR:    All the other teletubbies were looking
             everywhere for their favourite things.

DIPSY:       Where hat?

LAA-LAA:     Where's the ball?

Po:          Where scooter? Ooooh!

TINKY-WINKY: Uh-oh!

NARRATOR:    So Tinky-Winky decided to
             take everything out of the bag again.

TINKY-WINKY: Out of the bag!

TINKY-WINKY: Scooter!

             (Drum roll)
             Dddrrrruuuummm!!!!

TINKY-WINKY: Ball!

             (Drum roll)
             Dddrrrruuuummm!!!!

TINKY-WINKY: Hat!

TINKY-WINKY: Yay!

DISPY:       Look, hat... Hat!

LAA-LAA:     Ball! Yay!

PO:          Scooter... scooter!

D/L/P:       Hat! Ball! Scooter!

D/L/P:       Hat! Ball! Scooter!

NARRATOR:    Now everybody'got their favourite thing.

TINKY-WINKY: Uh-oh!

             (Knocking)
             rattle, rattle

NARRATOR:    What's that noise?
             There's something still in Tinky-Winky's bag.

D/L/P:       Oooooh!

TINKY-WINKY: Aaauuugggghhhh!!!

TINKY-WINKY: Yum, yum, yum, tubby toast!

D/L/P:       Yeah, tubby toast!

NARRATOR:    And Tinky-Winky put the piece of
             tubby toast back in his back to save it for later.

D/L/P:       Oooooh!


2. As instâncias superiores

Nós estamos com uma sobrecarga de trabalho enorme, estamos tendo mil problemas por causa disso, e parece que não temos nem a linguagem certa pra falar disso de um modo que faça algo ser consertado. Parece que todos os nossos pedidos de ajuda e reclamações têm que ser feitos em um certa linguagem oficial, por escrito e acompanhados de dados concretos, planilhas e relatórios, e submetidos às instâncias superiores - e o ideal é até irmos pessoalmente às reuniões dos conselhos superiores, pra "mostrar que existimos" e "nos fazermos representar" -

...só que cada vez mais eu tenho a impressão de que tentamos tornar nossos problemas concretos às instâncias superiores por meio de estatísticas e planilhas - pra mostrar que as nossas bolsas estão pesadas demais, e não conseguimos mais carregá-las - e as instâncias superiores recebem as nossas planilhas, dizem "Obrigado!", colocam elas junto com as outras na grande Gaveta das Planilhas, e nada acontece...

Talvez as pessoas nas instâncias superiores também estejam com bolsas pesadas demais, e já não consigam carregá-las direito... e aí elas não conseguem mais cuidar de todos os milhões de prioridades conflitantes - e aí nós, que somos de um pólo do interior, que temos muitíssimos professores em início de carreira (e portanto com pouca experiência didática e administrativa), que estamos nos descabelando pra ensinar o melhor possível alunos que chegam cada vez mais despreparados e cada vez em maiores quantidades, e ao mesmo tempo, nas horas "vagas", fazer pesquisa, sem nem uma conexão de internet que funcione direito, temos prioridades e problemas completamente atípicos, e as instâncias superiores esperam que além de tudo que já fazemos ainda consigamos tempo pra ir em reuniões fora do PURO...


3. Privadas vs. Federais

Nós estamos acostumados com a idéia de que nas Privadas as condições são muito piores do que nas Federais, e que se o patinete da Po não cabe na minha bolsa eu vou ser demitido e trocado por outro professor, por um dos milhares que querem o meu lugar, um dos que (ainda) tomam anfetaminas - porque "não tem outro jeito", e porque eles ainda aguentam os efeitos colaterais, que ainda não são fortes demais...

(Veja este link - em especial o trecho em Inglês, onde diz "...resenha do livro do Kjerulf").

As condições de trabalho em universidades federais são bem diferentes das condições nas Privadas - um ponto central é que temos bem mais autonomia pra decidirmos o que fazer, e como. Ao invés de termos chefes que vão definir rigidamente o perfil dos estudantes que devemos formar, e como vai funcionar a linha de montagem que vai fazer com que esta formação se cumpra, nós próprios temos que lidar, o tempo todo, com questões que são grandes demais para poderem ter respostas prontas que vêm de cima... por exemplo: 1) como responder à cultura imediatista do mundo em torno da gente; 2) como pessoas podem aprender o máximo possível do corpo de conhecimentos técnicos da nossa área, ao invés de só aprender o mínimo possível ("o que o mercado exige") e aí viver saltando de trabalhinho em trabalhinho; 3) como escapar do mundo onde tudo é descartável e temporário e cada pessoa é substituível, e "voltar" a um mundo no qual sejamos responsáveis pelas conseqüências a longo prazo do que fazemos; 4) como fazer com que os alunos se dediquem; 5) como fazer com que a universidade seja respeitada, e sobreviva; 6) (este item é a "versão clichê" dos anteriores) "qual é o papel da universidade pública", 7) como transformar as idéias anteriores em projetos práticos, e daí conseguir visibilidade, verbas, etc.


Cada um de nós leu estantes inteiras. Nós temos cultura suficiente - formal ou não, não importa - para sabermos reconhecer o tom e o subtexto de muitos tipos de discurso. Muito pouco do que pensamos cabe no tom de atas de reunião, artigos da nossa área (ou editoriais nas nossas revistas) e projetos formais, ou mesmo em conversas de corredores. Temos muitos problemas muito urgentes, alguns possivelmente temporários - falta de salas de aula, salas de laboratório, lugares silenciosos com quadros brancos, tempo pra discussão e pesquisa, professores, extintores, toner, água, papel higiênico, etc - e um outro problemão, enorme, que só tem como piorar, e que como ele me aflige especialmente (porque eu sou professor do Básico) eu vou pôr em destaque: cada vez mais os nossos alunos chegam à universidade sem saberem como pensar, escrever e argumentar claramente, e deveriam aprender isto a toque de caixa, mas não têm nem a "estrutura psicológica" (whatever that means!) pra conseguirem estudar "o suficiente" - ou seja, pra taparem todas as suas deficiências de formação super-rápido -, nem têm as condições materiais e sociais para isto... e nós, professores, não estamos tendo nem tempo pra conversarmos o suficiente uns com os outros sobre como lidar com isto...

Agora que já fiz esta introdução (enorme) posso passar para uma proposta concreta.


4. Semana de Paralisação e Pesquisa

Uma greve não adiantaria - quem daria bola pra uma greve do PURO? - mas cada um de nós já ficou doente pelo menos meia dúzia de vezes, até pela própria sensação de "nada adianta (mas vamos continuar trabalhando à beça mesmo assim)" - e nós não temos tipo tempo nem pra seminários de pesquisa, nem pra trocarmos idéias uns com os outros fora das reuniões mais do que uns poucos minutos de cada vez... então a minha proposta é que as pessoas que se interessarem combinem que uma certa semana vai ser a "Semana de Paralisação e Pesquisa", e nessa semana a gente vai paralisar informalmente as aulas e, se possível, também as nossas tarefas administrativas, e com isso vamos tem um tempinho pra "pesquisa", no sentido mais amplo possível... algumas idéias (em forma de lista de itens):

  • Não haverá um registro oficial das atividades, nem um folder com a programação, nem formulários de inscrição, nem certificados de presença, nada disto; atividades organizacionais serão reduzidas ao mínimo. Um mural deve bastar pra anunciar o que vai acontecer.
  • Cada área tem as suas especificidades, e o que conta como "pesquisa" em uma pode ser totalmente diferente do que é visto como pesquisa numa outra. A presença não será obrigatória, e como não haverá nenhuma recompensa - até bem pelo contrário (?) - pra quem quiser vir ao PURO pra participar dos "eventos", ninguém precisa vir pra fazer número.
  • Uma pessoa A faz boa parte da sua pesquisa escrevendo num caderninho sentada em lugares públicos como saguões do cinema, resturantes e cafés; uma pessoa B está exausta e se dormir vários dias seguidos vai ficar muito melhor; uma pessoa C está há meses esperando uma brecha de tempo pra ir xerocar artigos da biblioteca do Instituto Tal; uma pessoa D quer há muito tempo uma quarta-feira livre pra ir conversar com um colega da Universidade Fulana; uma pessoa E é de uma área na qual a "pesquisa" está intimamente ligada às situações sociais nas quais todos os colegas dela fazem contatos de trabalho - então ela vai fazer um churrasco, conversar sobre futebol, etc. Será que estas pessoas vão vir na Semana? Todo mundo precisa respeitar igualmente todas elas? Será que podemos reconhecer que somos humanos, que respeitamos mais quem funciona como a gente, e que temos antipatia por pessoas que funcionam de modos que nos ameaçam?
  • A Direção não precisa apoiar o evento.
  • As pessoas de Matemática, Física, Ciência da Computação, etc, se descabelam com os alunos que só querem se formar e ir pro "Mercado"; as de Engenharia de Produção vêem o Mercado de dentro; as de Psicologia e Serviço Social pensam sobre o Mercado e sobre as pessoas que se encaixam e não se encaixam nele de mil modos interessantes, e até conseguem escrever (academicamente!) sobre isto.
  • Em maio de 68 na França as universidades se paralisaram formalmente, mas se encheram de atividades informais. Alguém no PURO talvez saiba o suficiente sobre isto e possa nos contar coisas que nos dêem idéias úteis.
  • Uma "greve" só pode ser começada quando temos demandas específicas e bem definidas; na situação em que estamos no PURO nenhuma demanda é realista - o máximo que temos como conseguir são promessas, que, por questões estruturais maiores que todas as pessoas envolvidas, não vão poder ser cumpridas.
  • Uma "greve aplicada" é feita para atingir objetivos externos (as "demandas específicas"), pressionando entidades externas; uma "greve pura" tem objetivos que vão ser atingidos pela atividade de greve em si. A Semana de Paralisação e Pesquisa é uma "greve pura", não uma "greve aplicada".
  • Talvez durante a Semana de Paralisação e Pesquisa nós decidamos por algumas "demandas específicas" que podemos tentar exigir - mas acho que podemos começar sem nenhuma.
  • Muito pouco do que precisamos pode ser expresso ("cabe") na linguagem com que normalmente são feitas demandas grevistas e negociações.
  • Na UFRN o período de trancamento vai até bem tarde - até 2/3 das aulas de cada semestre terem sido dadas, acho. Matérias como os primeiros Cálculos, as primeiras Físicas, Geometria Analítica, Álgebra Linear e Matemática Discreta, que são dos primeiros períodos, têm um nível muito acima do dos alunos que chegam, têm índices de reprovação altos (e talvez estes índices devessem ser maiores ainda), talvez devessem permitir trancamento tardio.
  • Acho que o LLaRC só conseguiu marcar um seminário de pesquisa em 2010.1 - e ele acabou acontecendo só com um "palestrante" (eu) e uma pessoa na "platéia" (o Márcio).
  • Acho que não há ninguém em níveis hierárquicos acima da Iara que consiga dizer: "Dipsy's hat??? No wonder the bag is so heavy, Tinky-Winky!"
  • A Paula Kapp, do Serviço Social, me mostrou um texto da Marilena Chauí que me ajudou a pensar sobre a situação atual das universidades federais - esse texto me deu "ferramentas mentais", e "linguagem", pra pensar e falar sobre certos problemas. Eu mostrei o episódio dos Teletubbies na reunião do Colegiado porque ele tem boas expressões e imagens pra pensar sobre sobrecarga (de trabalho, ou do que for)... várias pessoas podem ter achado isto ridículo, mas a gente normalmente fica se forçando a se restringir a uma linguagem objetiva, administrarial, e ela é viciada e não dá conta do problema.



Update (antigo): Estou pretendendo me "paralisar" na quarta semana de aulas em 2010 - depois vou ver as datas exatas e pôr aqui, vou ver o que faço com os alunos, se dou aulas de exercícios, se programo atividades extras, ou o quê -, e quem quiser se juntar é bem-vindo... Entre em contato - eduardoochs@gmail.com - , vamos tentar marcar atividades em conjunto!

Update, (2010aug19): pus uma folha com um aviso com as datas no mural da Psicologia... É uma folha A4 com bastante espaço em branco, pras pessoas poderem escrever outras coisas lá.

Update, (2010aug31): a Semana de Paralisação e Pesquisa foi - aparentemente? - ignorada por todas as outras pessoas que pareciam interessadas nela... Ainda bem que eu bolei algo que eu podia fazer sozinho, sem esperar que "todo mundo se unisse", e que eu preparei atividades pros alunos pra que os cursos não se atrasassem... 8-\


Links interessantes:

Um trecho do "O Zen e a Arte da Manutenção de Motocicletas".

Notas sobre cola.