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O uso do tempo

Update (2017mai17): a text about "intense anxiety around time", and idleness vs leisure

(Isto vai virar uma seção do "Saia do seu quadradinho" (PDF)...)

Na seção 11 do ``A sociedade do espetáculo'' tem uma expressão que me intrigava: o emprego do tempo. Ela parecia ser uma citação a algum conceito grande, que eu não sabia bem qual era... acho que descobri. Ela tem a ver com você vender o seu tempo, no sentido de vender a sua força de trabalho, e com os códigos morais que dizem que alguns usos do tempo são válidos, são produtivos, e outros são vagabundagem.

Eu tava lendo dois artigos que eu encontrei via libcom. Um, do David Graeber, fala sobre a promessa de que no futuro muitas tarefas seriam automatizadas e aí nós trabalharíamos só, digamos, 15 horas por semana - mas o que aconteceu foi o contrário, e muitas das nossas tarefas, e até profissões inteiras, são inúteis.

The answer clearly isn't economic: it's moral and political. The ruling class has figured out that a happy and productive population with free time on their hands is a mortal danger (think of what started to happen when this even began to be approximated in the '60s). And, on the other hand, the feeling that work is a moral value in itself, and that anyone not willing to submit themselves to some kind of intense work discipline for most of their waking hours deserves nothing, is extraordinarily convenient for them.

O outro artigo é bem mais pessoal - de algum modo o autor dele conseguiu se permitir passar duas ou três horas escrevendo-o, e ele conta sobre coisas como zanzar pela casa sem conseguir fazer nada do que ele devia fazer nas poucas horas que ele tem antes de ter que correr de volta pro trabalho, e nem mesmo conseguir deitar no sofá, e das vezes ele que ficava sempre deixando pra dar comida pro gato daqui a pouco, pra ``depois que eu tiver conseguido descansar alguns minutos''...

É difícil verbalizar essas coisas - em geral a gente esconde e torce pra elas passarem logo antes de causarem um estrago muito grande. Mas tem gente - por exemplo, o grupo do Christophe Dejours, de Psicologia do Trabalho - estudando condições objetivas que fazem com que muitas pessoas (não todas; tem sempre umas pessoas imunes, que posam de indestrutveis) caiam neste estado - e esse pessoal até têm boas desculpas ``capitalistas'' pra estudar essas coisas: doenças e suicídios no trabalho causam prejuízos enormes, e vale a pena identificar quando é que espremer as pessoas pra elas serem mais produtivas funciona ao contrário do que se queria.

Eu passei as últimas semanas de 2013.1 neste estado. E atrasei as correções de provas de novo.


Imagina que você submete um projeto que não tinha como ser rejeitado, ele é rejeitado assim mesmo, e você vai tentar descobrir porque numa reunião de colegiado e te dizem que é porque batatinha quando nasce esparrama pelo chão - e ainda 2/3 dos membros do colegiado acham isso perfeitamente natural, é, é, é assim mesmo, batatinha quando nasce esparrama pelo chão, a vida é assim.

No início a gente fica tentando responder racionalmente. Aí aos poucos a gente começa a gastar uma energia enorme tentando encontrar argumentos que o povo dos argumentos das batatinhas tenha que entender e aceitar. Aí a gente vai tendo todos os indícios de que eles não entendem argumento nenhum, e, aos poucos, indícios de eles não podem acreditar de verdade nos argumentos que alegam - e, bom, é uma falta de respeito enorme argumentar com argumentos porcos nos quais nem você mesmo acredita.


(Falta: apontar pra pontos específicos de alguns áudios de reuniões. As atas não são fiéis.)

http://angg.twu.net/ferramentas-para-ativistas.html#audios-introducao
http://angg.twu.net/audios/2011dec13-ict.html
http://angg.twu.net/audios/2012dec13-ict.html
http://angg.twu.net/audios/2012sep20-ict.html
http://angg.twu.net/audios/2012nov22-ict.html
http://angg.twu.net/audios/2013jun27_espaco_fisico.html
http://angg.twu.net/audios/2013dec05-EP.html
http://angg.twu.net/audios/2013dec12-ict.html